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domingo, 6 de dezembro de 2009
Comentário - Epístola Aos Gálatas-CAPÍTULO II
CAPÍTULO II
Paráfrase: 1-10 Como acabei de dizer por quotize anos as igrejas da Palestima estavam numa contínua acção de graças a Deus a meu respeito, pela conversão do perseguidor tão privilegiado e feroz que eu era. Passados estes quase três lustros da minha atividade na Cilícia e na Síria, cheguei, em solene comissão divina e humana, a Jerusalém. É que o advento de emissários judaizante em Antioquia me levou a fazer motim espiritual contra a sua propaganda de que os crentes gentios não se podiam salvar sem um rito, o ato iniciação da Lei como regra da vida, de matrícula formal no judaísmo. Com outros representantes da Igreja de Antioquia, vimos na dupla missão de levantar o assunto entre os Doze e os demais órgãos de revelação em Jerusalém, para um acordo doutrinário, promulgado pelo Espírito Santo e repudiando tais emissários como falsos irmãos, nem salvos, nem capazes de ensinar o caminho de salvação a outros; e, em segundo lugar, para reatar a confiança mútua e relações cordiais entre as duas igrejas irmãs, a de Antioquia e a de Jerusalém. Na minha companhia iam Barnabé e Tito. Barnabé, levita, culto e generoso filho da tribo sacerdotal, que fora enviado de Jerusalém a Antioquia num surto de ciúme cismado, para investigar a evangelização anónima e voluntária de gregos por uns crentes fugitivos e humildes, Barnabé que chegou e “viu a graça de Deus” na conversão dos gentios, Barnabé que permanecera na obra e se associara comigo na mesma, estendendo-a nesta base até a Galáxia, este mesmo Barnabé mais uma vez me patrocinou nos círculos da fé em Jerusalém. Levei Tito, simpático e energio grego, para servir como meu auxiliar, para constituir um caso concreto, uma amostra na cidadela judaizante do que seja um crente incircunciso, para servir como um foco de intransigência na verdade do Evangelho, um símbolo e testemunha, ali e na volta, da derrota formal e do repúdio dos judaizantes, contra a unidade cristã e da harmonia das duas maiores igrejas e do ministério e apostolado unânime de gentios e judeus, em inabalável amor ao Evangelho.
Quais as alternativas a este meu testemunho de que recebi a graça, o apostolado, o Evangelho e minha educação teológica directamente de Jesus Cristo, sem mestre humano? Não o aprendi na minha educação em Traso, como mostrei há pouco, nem no meu curso aos pés de Gamaliel, nem tampouco por qualquer associação com os apóstolos. Se não veio dos homens, é porque deveras veio a mim direita e totalmente de Jesus glorificado, sem intermediário algum.
Pois bem. O Jesus glorificado será menos capaz de se revelar e de me ensinar do que o Jesus na sua humilhação que ensinou aos Doze? Pereça a ideia! Nesta reunião em Jerusalém fiquei lado a lado com os Doze. Não acharam em mim deficiência, nem no meu discípulo-amostra, que levei para demonstrar minha obra entre os gentios; nem podiam apontar falta na minha exposição particular do meu evangelho nem ainda me acrescentaram coisa alguma ao evangelho ou ao apostolado ou à autoridade, antes me deram a mão de plena camaradagem e igualdade, reconhecendo os confins de seus atributos e o território de minha missão. De certo, espiões legalistas não concordaram na decisão e hoje a procuram anular; eles foram, porém, os repudiados, eles os “falsos apóstolos” não eu!
1 Esses incidentes são o verso da medalha que popularmente se chama “O Concilio em Jerusalém”. Pela frase, alguns querem dizer que em Jerusalém no meado do século apostólico, se reuniu o primeiro desses vastos conclaves eclesiásticos que publicaram credos, com anátemas a granel em tom feroz contra todos quantos discordassem deles. A ideia é falsíssima, caluniadora e anacrónica. O que houve em Jerusalém foi:
(1) Uma conferência promovida por uma igreja local, congregacional e autónoma, para haver um entendimento com outra igreja mais antiga, de mais experiência, mais dotada de órgãos de revelação divina, uma igreja, porém, da mesma categoria. A Igreja de Antioquia enviou seus representantes. A Igreja toda de Jerusalém assistiu às deliberações (Atos 15:22). O acordo foi transmitido aos interessados por um grupo representando as duas igrejas, escolhido dentre o ministério de ambas.
(2) Paulo e Barnabé, possivelmente Tito também, os Doze em Jerusalém, Marcos, os profetas cristãos, Silas e alguns dos Sete eram, alguns mais, outros menos, órgãos da revelação divina, os intérpretes e orientadores doutrinários do novel cristianismo. Sendo o assunto doutrinário era natural, inevitável, que se lhe pedisse uma declaração a respeito. Esta declaração se fez numa afirmação de que como fruto desse amigável estudo da questão, “parecida bem ao Espírito Santo e a nós…”
(3) A Igreja de Jerusalém como o seu ministério e seus hóspedes concordaram em repudiar os emissários do movimento judaizante que haviam perturbado as boas relações entre as duas igrejas e enganando os incautos sobre o caminho da salvação. Ficaram conhecidos e classificados como “falsos irmãos intrusos”, “perturbando com palavras”, “subvertendo as almas”, (Gál. 2:4; Atos 15:24). O que não houve, foi: (1) Coisa alguma “ecuménica”. Somente duas das muitas igrejas se fizeram representar a conferenciaram. (2) Confecção de credo algum. O que se votou era uma sugestão provisória, uma “carta” (Atos 19:23) para facilitar a evangelização tanto de judeus como de gentios, em cidade onde viviam lado a lado, a fim de não se escandalizarem mutuamente. Esta sugestão foi efémera e de limitado alcance, uma medida provisória cujos ensinos Paulo contradisse nas Epístolas aos Coríntios (I Cor. 8:8, 9; 10:25-32). Nós não a acatamos nem se fez referência ao assunto nesta ou em outra epístola de Paulo. O próprio texto da passagem é preservado em duas lindas é complexo e dificílimo. (3) Nem tampouco houve a presença de bispos, no sentido moderno da palavra. Era o ministério modesto e democrático da era apostólica, cada um igualmente pastor presbítero-bispo – todos, desde Pedro até Tito, “co-presbítero”, (I Ped. 5:11). (4) Não houve anátemas nem excomunhão nem nem coisa semelhante. O “anátema” de Paulo nesta epístola foi sua interpretação da atitude divina, como órgão que era de revelação, contra o falso evangelho judaizante. (5) Não houve intervenção do estado para fornecer um diretor – como Constantino, o qual, mesmo sem ser batizado ainda, se fez chefe do Concílio de Nicéia e impôs sua autoridade imperial anti-evangelicamente – nem para forçar a conformidade da dissidência nem para punir heresia ou banir ou queimar hereges. Não há vislumbre de semelhança entre a reunião de Atos 15 e Gálatas 2 e os concílios católicos. A ideia é muito e exploração eclesiástica. É uma injeção venenosa do medievalismo em o Novo Testamento.
Nem tampouco era a reunião uma convenção ou presbitério assembleia geral ou coisa semelhante. Tais organizações hodiernas se reúnem este ano em tal lugar, e para o ano em outro lugar, e assim por diante. Onde, pois, se efetuou a segunda reunião na suposta série da qual a Atos 15 e Gál. 2 foi a primeira? Em que cidade que reuniu a segunda? Não houve segunda, pois não era reunião anual organização permanente de espécie alguma.
As únicas organizações cristãs conhecidas em o Novo Testamento são as igrejas de Deus. Não há outra espécie de organização superior, para senhorear e escravizar as igrejas. Mesmo reuniões de caráte cooperativo, promovidas pelas próprias igrejas, não se desenvolveram por, falta de liberdade, e porque o apostolado e a profecia serviam de elo de comunicação e orientação cooperadora, juntamente com a importante agencia geral do ministério – os evangelistas. (I Cor. 16:1; II Cor. 8:1-24; Rom. 15:25-27). Há uma só menção de um presbítero cristão, não como tendo sessões anuais ou exercendo autoridade sobre as igrejas e o ministério, mas reunido para consagrar outro ministro para sua carreira e recomendá-lo à confiança das igrejas, I Tim. 4:14. Organizações gerais são permissíveis como método da cooperação das igrejas. No dia, porém, em que tais agremiações principiam a assumir qualquer função das igrejas de Deus, já se desdivaram da norma apostólica. Às igrejas cabe chamar e exonerar pastores, celebrar a Ceia e exercer a disciplina e outros tais atos coletivos e eclesiásticos. Uma organização geral que usurpe estas funções é ilícita, anti-bíblica e perigosa. Uma organização geral que julga ser unidade superior, da qual as igrejas do Senhor Jesus sejam meras fracções, já é um desvio de Novo Testemunho. Organizações cooperadoras extra-bíblicas são lícitas como meras servas das igrejas, métodos úteis usados na esfera voluntária por estas para cumprirem sua missão divina e inalienável. O Novo Testemunho reconhece a doutrina da cooperação das igrejas por meio mensagem, II Cor. 8:23. E Atos 15 dá o exemplo de duas ou mais igrejas estudarem por um grupo de representantes um problema comum e até fazerem recomendações a outras igrejas a bem da paz e da evangelização. O resto da história apostólica, porém, mostra a autonomia destas e das demais igrejas em afastar semelhante plano logo que não lhes conviesse. Na senda desses princípios é que deve seguir toda a organização extra-bíblica. Fique cada uma sem função eclesiástica alguma e bem subordinada às igrejas que a criaram e a queiram usar nas suas tarefas cooperativas de largo alcance. São princípios que Atos 15 e Gál. 2 e as duas Epístolas aos Coríntios nos advertem a respeitar.
1 “Quotize anos!” ¬– “Como a maior parte dos agentes da providência divina, São Paulo tinha larga experiência em demoras”… (Bruce, “St. Paul’s Conccption of Christianity”, p. 98). Para a harmonia de Atos e Gálatas e a identificação desta vista, vede a Introdução.
2 em particular aos lideres – Notemos a tática de Paulo. Ele expos o seu evangelho aos líderes. Expor o Evangelho não é recebê-lo dos Doze, nem pedir seu apoio sua opinião. Visa conservar a unidade do cristianismo por uma declaração que mate as distinções desairosas e artificiais.
Os judaizantes eram tão acerbos que por pouco teriam desfraternizado os cristãos das igrejas fundadas por Paulo. Portanto, o apóstolo tudo fez para conservar a unidade cristã. Não havia diferença doutrinal entre ele e os Doze. A melhor maneira de demonstrar este fato era expor-lhe com toda a franqueza sua mensagem e que eles o dissessem com igual franqueza aos seus admiradores partidários.
Isto fez com os três de maior nomeada, como em Atos 15 expos tudo à igreja de Jerusalém publicamente. Era boa tática, são juízo. Sirva-nos de exemplo ao buscar a paz, a unidade, a cordial fraternidade, numa base Tiago, João e Pedro verificaram que estavam pregando as mesmas verdades. Assim todos poderiam dar a mão de parceira, mutuamente, pois eram sócios ao pregar o mesmo, o único Evangelho.
Há uma relação entre a doutrina e a diplomacia. O pregador precisa de convicção, de cortezia, e de coragem.
2 revelação – Vede a discussão de 1:12, 16. Esta revelação orientou tanto a Paulo como a Igreja de Antioquia, Atos 15:2, 3, 22, 30, 31.
2 Evangelho – Vede 1:16. Paulo é arauto deste. Evangelho, como João Batista era Precursor e Voz de Jesus.
2 costumo pregar – Paulo usa um verbo diferente aqui, uma reminiscência do reino, da vinda do Rei e de João Batista. O evangelho é a boa nova de um reino e a chegada do Rei: Paulo, como o Batista, se pôs nas encruzilhadas da vida, continuamente proclamando em voz alta que o povo “preparasse o caminho do Senhor”.
2 “líderes” – Tiago, Pedro e João eram precisamente líderes. Estavam na frente porque corriam melhor na carreira cristã, não por nenhuma arbitrariedade ou proteção eclesiástica ou hierárquica. Paulo, pela mesma primazia na operosidade decidida, tomara a dianteira e se tornara mais notável do que Barnabé. Aqui vemos a descrição do verdadeiro líder do povo de Cristo. Um líder bem pode destruir outro, pela rivalidade e ciúme. Paulo sacrificou sua soberba, seu brio carnal. Em lugar de isolar-se e exigir que os outros o investigassem antes de espalhar e apoiar boatos contra sua obra e mensagem, ele foi voluntariamente perante os colegas de maior influência, na região de onde vinha o perigo cismático, e procurou a unidade de vistas e de lealdade. Pediu licença para expor sua mensagem e o perigo de uma propaganda rival e contraditória. Os três seriamente o escutaram e lhe deram razão; e a decisão pública, se bem que não mero eco desta reunião particular, teve seu êxito devido à harmonia essencial entre quatro homens que de antemão puderam firmar sua unidade de vista e lealdade, por um aperto formal das destras. Paulo conseguiu, assim, que nem sua carreira passada nem a futura viessem a terminar em futilidade. Não basta ser ortodoxo na verdade. É mister também ser tratável, esquecido de si, estadista espiritual, sabendo o essencial em que não se pode ceder uma polegada de terreno, e um mero costume em que se pode ceder tudo pelo amor da paz.
2 “futilidade” – Se Paulo evangelizasse o povo gentio, não seriam salvos seus conversos, mesmo sem o apoio de Jerusalém? Sem dúvida! Como, pois, seria “futilidade” seu ministério passado e futuro, sem o resultado dessa entrevista com as três colunas do cristianismo em Jerusalém? Em primeiro lugar, soberbos emissários do farisaísmo batizado ameaçavam arrastar para o judaísmo os convertidos nas igrejas por Paulo fundadas. Em segundo lugar, iam inutilizar a influência e capacidade de futura evangelização da parte do apóstolo, destruindo de vez a confiança cristã na sua conversão, chamada para o apostolado e revelação recebida de Jesus Cristo. Com uma rápida série de vitórias, como esta, que estavam na iminência de ganhar na Galáxia e na Acáia, teriam os emissários da carne silenciado e desprestigiado a voz mais forte e eloquente do Espírito. Paulo poderia ter separado seus conversos, que não fossem arrastados pela onda, para um cristianismo gentio, isolado cristianismo original. Mas que desilusão! Nem por um instante optou por semelhante tragédia. Voou, qual uma flecha, para Jerusalém e uniu em sincero e urgente estudo da crise os mais sábios e responsáveis pela futura direção da cristandade, pois os líderes inevitavelmente dão o rumo a seguidores e ao curso da coletividade.
Notai quão diferente Pedro agiu em Antioquia. Estava no campo alheio, hóspede, visitante em território onde ele mesmo tinha concordado na direção do trabalho por Paulo e Barnabé. Logo se esquece disto. Chegando de Jerusalém um grupo de outros estranhos, ele lhes escuta as sugestões. Não se lembrou de convocar uma reunião de líderes para tomar uma atitude unida e estudada. Com a ousadia que lhe era inata, toma logo uma posição incoerente consigo, para o Evangelho e para com Paulo, do qual era hóspede, divide a igreja de Antioquia em dois grupos, separados por um abismo racista. Opõe-se ao princípio fundamental de Paulo, ergue de novo aquela muralha cerimonial que Cristo derrubara com a cruz do Calvário (Efes. 2) e virtualmente anula a graça de Deus para quase a totalidade da raça humana. Nem consultou a Paulo no caso. Faz propaganda secreta para apresentar uma frente única dos demais líderes. Quando Paulo descobre a propaganda, já o mal esta feito. Só uma repreensão pública, só outro “motim” pode salvar de novo o Evangelho da graça. “Futilidade” é o nome mais leve que se pode dar ao curso de Pedro em Antioquia. Paulo chama-lhe condenável.
2 lideres – Lighfoot nota que a tradução frequente desta linguagem com um verbo subentendido no tempo passado (como na Ver. Bras.) erra e deixa uma falsa impressão. Paulo aqui reconhece que esses com quem conferenciou em particular SÃO líderes. Sua posição e influência na cristandade não se acabara de forma alguma quando ele escreveu esta epístola. Parece proceder este engano da Vulgata, “qui videbant”, embora a Versão Latina Antiga tivesse o tempo presente.
3 Tito – Vede nas notas sobre a tradução o pensamento do dr. A. T. Robertson de que Lucas e Tito eram irmãos carnais.
3 nem Tito… obrigado – Com a prudência da serpente Paulo combina a intransigente inocência da pomba. Podia comparar doutrinas, particularmente, para verificar a essencial unidade de vistas. Nenhum comprometimento, porém, consentiu fazer para a paz. A circuncisão de Tito seria uma perda para o Evangelho, devido à maneira por que seria interpretada. Portanto, Paulo recusou, a todo custo. Ele circuncidou a Timóteo porque a interpretação dada ao ato seria benéfica; recusou circuncidar a Tito porque seria interpretado o ato como submissão a uma doutrina falsa. Muitos alegam que não se importam com o que outros dizem. Paulo se importou. A interpretação dada por outros aos nossos atos, embora errónea, pode colocar o peso da nossa influência ao lado de erro. Somos responsáveis por praticar o direito e conseguir que o nosso exemplo valha na defesa e propaganda da verdade.
3 “embora seja grego” – “Parece haver aqui uma alusão tácita ao caso de Timóteo. São Paulo parece argumentar deste modo: Vós alegais que eu concedi a validez da Lei de Moisés quando circuncidei a Timóteo. O caso era diferente: Timóteo era meio-judeu, de filiação. Como foi que eu agi no caso de Tito, um verdadeiro gentio? Não consenti por um instante.” (Lightfoot, Comentário sobre Gálatas, p. 105).
4 pseudo-irmãos – Aquele que realmente confia num rito para obter a salvação, a vida eterna e a justiça de Deus, não é irmão do crente. Paulo perscruta a propaganda e analisa os motivos dos propagandistas de erro. A um erro ético sempre acompanha o erro doutrinário, pois não há infalibilidade. Paulo questiona os motivos dos judaizantes em 1:7; 2:4; 4:17 e 6:12. A peseudo-largueza que atribui a todos os propagandistas de erro motivos do bem é de uma vez simplória e traidora da cidadela. “Provai os espíritos”, é a ordem divina.
4 “Entraram como espiãos penetrando no acompamento de seus inimigos, no qual pé ante pé foram avançando, imperceptivelmente, a fim de saber até que ponto ficara relaxada a observância da lei judaica pelos cristãos em Antioquia”. (Conybeare e Howson, Life and Letters of St. Paul, p. 186).
4 Subjugassem à escravidão – Temos uma construção rara, reminiscência do pensamento vívido no cérebro do autor – a fim de que eles vos irão subjugar á escravidão. Estava na sua mente a lembrança do perigo e de sua vontade de prevenir os gálatas: “eles vos subjugarão à escravidão, estão determinados a impor-vos um jugo à cerviz.” Ficou a linguagem – tempo futuro indicativo – na cláusula dependente. O fato mostra a ânsia e agitação espírito de Paulo enquanto ditava a carta.
4 “A nossa liberdade” – “de isenção das ordenanças da Lei mosaica” – Conybeare e Howson. Notai bem que temos esta liberdade em Cristo Jesus. Unidos com o Senhor, “tomando sobre nós o seu jugo”, temos liberdade. Sacudindo de nós o jugo da Lei, sem tomar nossa posição grata e obediente sob a lei de Cristo, teríamos apenas a anarquia moral, a licenciosidade. A união com Cristo, porém, nos dá a liberadade santa, sob “a lei real”.
4, 5 “Parece que São Paulo ia acrescentar: “Os apóstolos principais instavam comigo para ceder”… os conselhos dos apóstolos da circuncisão constituem a pedra escondida contra a qual se bateu em naufrágio a gramática desta sentença… O sentido da declaração de Paulo deve ser: “Aos escrúpulos dos irmãos mais fracos eu teria cedido o ponto; os ensinos, porém, dos irmãos falsos tornaram impossível qualquer concessão nesta matéria”. (Lighftoot, Comentário sobre Gálatas, p.106).
5 “fosse determinada de vez a permanência inalterável” – “A ideia de firme possessão é reforçada pelo verbo composto, no original, o tempo aoristo e a preposição”, Lighftoot, in loco. O grande anglicano define “a verdade do Evangelho”, no mesmo contexto, como: “A doutrina da graça, a manutenção da liberdade cristã, como oposta ao falso ensino dos judaizantes.”
5 “Permanência inalterável da verdade do Evangelho” – “Paulo não era um cristão de prática, apenas, que considerasse a vida como superior à doutrina, e a prática superior ao princípio. Antes, ao contrário, ele sobre posse ao princípio do particularismo judaico, pelo único modo possível; venceu-o por um princípio. O verdadeiro apóstolo dos gentios não era Paulo o missionará da prática, senão Paulo o teólogo.” (“The Origim of Paul’s Religion”, por Machen, p.3.)
6 A referência á posição honrosa é ao fato de que esses propagandistas tinham visto o Senhor Jesus nos dias de sua carne e assim se consideravam superiores a Paulo, e mormente alegavam que por este motivo os Doze eram os únicos apóstolos. Paulo repudia isto como uma consideração carnal.
7 “Pelo contrário”. Weymouth contesta a ideia adversativa, dizendo: “O contrário de acrescentar é tirar”. Mas em discussão. Longe de os primitivos apóstolos acrescentaram coisa alguma a Paulo, ele lhes acrescentou sua percepção nítida universalidade de Evangelho sem peias de nacionalismo, legalismo ou racismo. A Pedro ele acrescentou a repreensão de seu erro e a explicação do Evangelho que Bengel chamou “a medula do Cristianismo”. Nenhum apóstolo teria negado, em tese, estas verdades. Paulo lhes acrescentou a clareza e intensidade destas convicções e sua aplicação fiel aos problemas atuais.
7 “tenho sido constituído o permanente depositário do Evangelho” – O tempo perfeito passivo do verbo “confiar” dá esta ideia. Deus confiou o Evangelho a Paulo para todo o mundo gentio. Foi feito em tempo passado o depositário, e continua, na hora de escrever esta epístola, na mesma responsabilidade. O mesmo verbo se subentende a respeito de Pedro. Limitou-se, assim, o ministério e o Evangelho de Pedro à circuncisão em tempo passado, e em 57 d. C. anida se limita aos mesmos confins judaicos. Este verbo teria sob impossível e falso, na pena de Paulo, se Pedro já tivesse se constituído bispo de Roma na década anterior.
8 “Um apostolado da circuncisão”, ou à Palestina, ou a Israel na Judéia e na Diáspora. A ausência do artigo com “apostolado” é indício de haver diversos apóstolos a Israel, não apenas Pedro. Se bem que seja possível que o genitivo dependente torne definido o substantivo apostolado, não é, porém, provável. Em tais casos pode estar ausente o artigo de ambos os substantivos. Achando-se, porém, num e não no outro, é provável que este seja indefinido, um entre diversos. Pedro, pois, tinha um apostolado e entre diversos, não somente na pequenina Palestina gozando uma posição única comparável à Paulo no apostolado às nações no mundo gentio.
9 Tiago, Cefas e João. Um exemplo da obstinada interpretação tendenciosa que em tudo vê a primazia de Pedro é a maneira por que o clero de Roma foge à sua posição secundária nesta lista. O paladino dos papas, Leonel Franca, na sua opus magnum, em primeiro lugar vê primazia quando Pedro fica por último. De novo enxerga a primazia do apóstolo quando seu nome está em segundo lugar, a posição central. E, com exultação, lembra-se de qualquer menção de Pedro, primeiro na lista. Se Pedro é último na lista, “o clímaz é evidente”. Se é primeiro, a posição oposta dá a mesma ideia sugerida pelo último lugar. A vontade crer, vê a primazia em todas as posições, primeira, segunda ou última. Que os romanistas sinceramente lastimam a menção secundária de Cefas aqui é evidente pela constante modificação da ordem nos textos. O próprio Padre Leonel Franca cita a passagem: Pedro, Tiago e João, no corpo de seu livro, e na nota em tipo fino confessa o texto genuíno e argumenta que a posição secundária – que evita citar – é que indica primazia.
9 Tiago, Pedro e João eram colunas, não “as (únicas) colunas”. Havia outras.
9 mãos direitas – “É evidente que este incidente em Antioquia, que a princípio parecia pleno de perigo à propagação do Evangelho, deveria depois, poderosamente, confirmar o caráter decisivo da carta escrita de Jerusalém. Se as autoridades de Jerusalém foram fracas em executar a doutrina que esposaram, e depois quando resistidas por S. Paulo, reconheceram-lhe o direito, como aparentemente fizeram, estavam daí por diante duplamente obrigadas a apoiar concordemente o caráter do trabalho de S. Paulo.” “Judaustuc Christiantiy”, Hort p. 8.
9 gentios – Acha-se às vezes empregada nesta Epístola a palavra que se traduz uniformemente, em nossas versões, “gentios”. Com esta tradução, se bem que geralmente certa, no sentido secundário do vocábulo entre os judeus, perdemos toda a reminiscência da ideia fundamental do termo. Significava “as nações”. Em contrate com os judeus exclusivistas, o resto do mundo eram “os gentios”, “as nações” versus “o Povo”; mas Paulo em seu espírito missionário, sem dúvida, retinha em seu pensamento “os povos gentios”, o vasto mundo a evangelizar, e assim o temos traduzido às vezes. Moffatt está certo, também, ao usar o termo “pagãos”, em vários contextos. E em 2:12 provavelmente a referência primacial é aos crentes que se haviam convertido do povo não-judeu.
9 Tiago – A linguagem de 1:19 não é decisiva sobre a questão do apostolado de Tiago. O original é ambíguo. Certamente Tiago não foi um dos Doze, e com igual certeza era um dos grandes missionários primitivos. Vede meu comentário sobre “A Epístola de Tiago”. Tiago, como Paulo, foi convertido pela vista do Cristo ressuscitado e parece não ter havido fervor como o destes dois que, embora quase como abortivos, foram troféus imediatos do Cristo ressuscitado, um antes, o outro depois da ascensão. Neste transe as quatro colunas cristianismo eram estes. Dois eram do grupo privilegiado da Transfiguração e do Getsêmane, sendo que o terceiro daquele grupo se fizera mártir. Dois eram frutos da ressurreição de Jesus. Em Jerusalém, Tiago era o homem de maior influência, como as visitas de Paulo deram ocasião de demonstrar, Atos 15, 21. Fora da Palestina, Paulo o grande crente. Em Antioquia, Tiago, uma vez pareceu mais forte do que Paulo. Pedro e Barnabé assim julgavam, mas descobriram o contrário antes de findar o incidente. Face a face, Tiago e Paulo sempre se tratavam com grande deferência. Esta luta visava obrigar os partidários de Tiago a respeitarem as praxes estabelecidas ou reconhecidas por Paulo, entre os crentes gentios, no território por ele evangelizado, como Paulo escrupulosamente respeitava as praxes recomendadas por Tiago no território onde ele era o vulto que servia de norma aos costumes dos crentes. Tiago foi a ocasião – não a causa – de Paulo ser preso, perder em prisão anos de sua atividade e ser mártir afinal; o apóstolo dos gentios, porém, nunca se queixa.
Alguns pensam que Tiago foi eleito pela igreja de Jerusalém como apóstolo, para completar o número dos Doze, quando Tiago, filho de Zebedeu, foi morto por Herodes. Outros supõem que ele alcançou o título pela sua grande influência, santidade e associação com os apóstolos nas decisões de vital interesse à Igreja de Jerusalém, da qual era talvez o bispo-presidente. Ainda outros interpretam o grego de modo a exclui-lo do número dos apóstolos. Outros pensam que era apóstolo no sentido geral de missionário pioneiro. Logo não é possível o dogmatismo no caso.
9 “a graça que me fora dada” – A graça divina é a força mais operosa e versátil na vida humana. “Salva” (Atos 15:11; Efes. 2:8), gera no homem arrependido a fé salvadora (Atos 18:27), “justifica” (Rom.3:24), outorga firmeza (Rom. 5:2), superabundou em força redentora mais eficaz do que a terrível força do pecado (Rom. 5:20), reina na vida outrogada ao crente pela justiça de Jesus Cristo (Rom.5:21), assenhoreia-se de crente para a santidade, libertando-o do domínio da Lei (Rom.6:14), e do pecado, do qual a Lai é a força (I Cor. 15:56), faz Vingar propósito divino na eleição (Rom. 11:5, 6), inspira o ensino apostólico nas Escrituras (Rom. 12:3), distribui soberanamente a todos os crentes seus dons para servir a Cristo (Rom. 12:6); a graça sendo a fonte das graças da vida cristã (I Cor. 1:4), orienta o lançamento dos fundamentos de novéis igrejas (I Cor. 3:10), produz no caráter e operosidade cristã tudo quanto o melhor crente consegue (I Cor. 15:10), cria a nossa vida cristã em santidade (II Cor. 1:12), produz a sublime generosidade na mordomia (II Cor. 8:1), é suficiente para toda boa obra (II Cor. 9:8), dá força na fraqueza e conforto na tribulação (II Cor. 12:9), dada sempre gratuitamente (Efés. 1:6; Rom. 3:24), rica em efetuar nossa redenção e a remissão dos nossos pecados (Efés. 1:7), garante nossa vida na glória nos séculos do provir (Efés. 2:7), cria ministros (Efés. 3:7), leva-os a pregar (Efés. 3:8), é universal entre os regenerados e distribuidora de dons espirituais a todos estes (Efés. 4:7), é fonte de melodia no coração nos cânticos do povo de Cristo (Col. 3:16), dá eterna consolação e boa esperança (II Tess. 2:16), salva, “não segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito e segundo a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos” (II Tin. 1:9), é a suprema educadora da consciência regenerada, “ensinando-nos, a fim de que renunciando a impiedade e as paixões humanas, vivamos no presente mundo sóbria, reta e piamente” (Tit. 2:11, 12), justifica (Tit. 3:7), entronizada no céu, fonte das respostas divinas às nossas (Heb. 4:16), por ela prestamos serviços agradáveis a Deus (Heb. 12:28), confirma o coração (Heb. 13:9), constitui a atmosfera e ambiente vital em que crescemos espiritualmente (II Pedro 3:18).
Notai esta “graça multiforme de Deus” (Versão Rohden de I Pedro 4:10). Absolutamente nenhuma associação se vê desta graça com sacramentos, igreja, confessionário, sacerdócio, indulgências, romarias, água, benta, rosários, bentinhos, “Jesus Sacramentado”, imagens, hóstias nem qualquer outro elemento de superstição pagã ou romana. A graça de Deus define como “favor não merecido mas livremente outorgado, especialmente a bondade pela qual Deus manifesta favores aos que estão destituídos de mérito e concede aos pecadores o perdão de suas ofensas e os convida a aceitar a salvação eterna em Cristo; a bondade e misericórdia que Deus outorga, exercendo sobre a alma sua santa influência, convertendo-a a Cristo, guardando-a, fortalecendo-a e aumentando nela a fé, o conhecimento, e o afeto e acendendo nela as virtudes cristãs”. Thayer citado no meu Dicionário Grego. A graça é uma realidade espiritual. É espiritualmente comunicada. Mana do Espírito de Deus a nossos espíritos por uma experiência sobrenatural. Graça e espiritualidade e vida estão nas esferas celestiais em Cristo Jesus, em união com os nossos espíritos, e absolutamente não se canalizam por água, hóstias ou outro elemento material nem por organização eclesiástica. Tal superstição não passa do materialismo que só acredita naquilo que vé e apalpa com as mãos.
Segunda a sua natureza, pois, opera a graça divina em chamar, abendçoar e outorgar poder e dons ao ministério cristão. Isto é vastamente diferente da noção romanista, anglicana e ortodoxa-grega de o sacramento de “ordens”. Em primeiro lugar, o único ministério oficial do cristianismo não se divide em castas sacerdotais de ordens hierárquicas graduas. Pedro mesmo nunca chegou a grau mais elevado no ministério do que ser “copresbítero” com os demais presbíteros nas igrejas de Deus, todos estes bispos humildes, sem pompa e gáudio mundano, todos pastores de rebanhos autónomos congregacionais, todos pregadores da Palavra de Deus. Em segundo lugar, longe de a graça de Deus passar pela sagração episcopal, das mãos impuras de um bispo antibíblico, para um seminarista não regenerado, preso nas mãos de uma hierarquia celibatária desde tenra idade, lançado nesta carreira sem se consultar sua vontade madura, gravando-se um suposto caráter indelével em sua alma – longe disto, digo, a graça divina, sem essas peias paganizadas da Roma medieval, consiste em Jesus Cristo mesmo chamar, pelo seu Espírito na consciência do chamado, a quem ele quiser para proclamar o Evangelho e pastorear um rebanho do seu povo.
Paráfrase: 11-14. Se, porém, em Jerusalém eu não era inferior aos Doze, em Antioquia, pouco depois, meu Evangelho coerência doutrinária eram maiores e melhores. Além de igual e independente, tive de me tornar mentor de Pedro. A sombra de Tiago, austero vulto da Lei e do Evangelho, se lançou desde Jerusalém até a Síria. De novo apareceram espiões de nossa liberdade, conseguindo amedrontar a Pedro, e em seguida aos demais judeus na igreja de Antioquia, inclusive mesmo Barnabé. Tive de corrigir-lhes a defecção doutrinária da verdade do Evangelho da graça a castigar-lhes publicamente, a aberração moral, pois estavam solidários no caminho torto da hipocrisia. Fiquei só, o único judeu a não me esquivar da comunhão em Cristo que recusa admitir barreiras de nacionalismo ou racismo. Bem sabeis, contudo, que não fiquei só depois de declarar a verdade. Não foi em vão a defesa do Evangelho.
11-21 “Ao escrever Gál. 2:11-21, Paulo cessara, completamente, de pensar em Pedro. O que ele dissera a Pedro em Antioquia era exatamente o que ele queria dizer quando escrevia esta epístola aos gálatas. Ao relatar, quando escrevia esta epístola aos gálatas. Ao relatar, não com pedante precisão verbal, antes em substância o que dissera a Pedro, Paulo penetrava no coração de seu evangelho que havia sido desprezado pelos judaizantes na Galáxia. Muito antes da gloriosa passagem de Gál. 2:11-21 findar, já ele olvidara completamente a Pedro, Barnabé e Antioquia, e pensava unicamente na graça de Cristo, e como se tornava inoperante para os que dela desertam para uma religião de obras”.
Ele e Pedro, diz Paulo, concordaram perfeitamente sobre a insuficiência da Lei, e a suficiência absoluta da fé em Cristo. Por que então agiria Pedro em contrário a essas grandes convicções?”
“A passagem Gál. 2:11-21, portanto, longe de estabelecer um desacordo fundamental entre Pedro e Paulo, fornece a mais inesperada evidência possível, de sua unidade fundamental.” (“The Origin of Paul’s Religion”, por Machen, p. 102).
11 Pedro foi a Antioquia – Por que? Não era uma invasão do território de Paulo e Barnabé? Não dera sua palavra de honra – manifestada no formal aperto de mão de “um acordo de cavalheiro” – que ele iria à circuncisão? Temos um bom exemplo aqui da maneira como não devemos agir! Pedro estava no território de Paulo, mas seguiu os costumes de outra província, desprezando as praxes locais. Não tomou conselhos do responsável pela direção do trabalho. Fez uma cisão entre obreiros unidos, sobre um pretexto de somenos importância. Causou um escândalo público. Levou dolorosa repreensão. Quão diferente a conduta de Paulo no território de Pedro! Nem ficou ali porque Deus o designou outro campo. Voltava a Jerusalém apenas como visitante e filantropo, e como visitante cortes se comportou. Adaptou-se às praxes do povo visitado desde quando não viessem em conflito com a verdade do Evangelho. Que espírito de consideração Paulo mostrou em Atos 21:20-26! A demarcação de esferas de responsabilidade e o respeito mútuo na divisão de trabalho é a única base de um entendimento duradouro, de uma paz estável, de uma cooperação eficaz. Pedro não doi o último presunçoso que levou uma repreensão por ter invadido o terreno dos atributos alheios, bulindo com aquilo que não era de sua conta. Bem dissera Jesus a seu apóstolo buliçoso: “Que tens tu com isso? Segue-me tu!” Paulo apenas repete, na sua repreensão severa, a lição que nosso Mestre dera ao seu discípulo tão difícil de ensinar o que ele não queira aprender. Notai a declaração de Paulo, anos depois do evento: “ele persistia numa atitude condenável”. “Também de pecados de presunção guarda o teu servo; que eles não se assenhoreiem de mim; então serei perfeito, e ficarei livre de grande transgressão” (Salmos 19:13).
11 “resisti” – O verbo indica que Pedro foi o agressor” (Burton “International Critical”, Vol. Sobre Gálatas, in loco). Burton assim analisa os eventos. Pedro chegou, provavelmente, na ausência de Paulo. Viu e gostou da liberdade gentia na igreja de Antioquia. Neste transe chegam alguns de Tiago. Pedro, amedrontado pela atitude intransigente deles a favor das praxes menos liberais de Jerusalém, recua e se separa. A igreja se confunde e ameaça cindir-se. Barnabé e os demais judeus crentes se aliam a Pedro com os partidários de Tiago. Pressão formidável é aplicada socialmente aos crentes gentios para obrigá-los a evitar a separação por ceder sua relutância e circuncidarem-se. Neste transe Paulo volta de uma viagem. Repreende publicamente a Pedro, foco emocional e social da crise, o responsável no caso, reafirma a liberdade doutrinada previamente na conferência em Jerusalém e vai além para a plena liberdade gentia de qualquer subordinação legalista ao regime mosacio.
13 “até Barnabé”. “Et tu Brute!”
13 “hipocrisia” – A palavra usada por Paulo é HIPOCRISIA. Recear traduzi-la fielmente é o mesmo respeito aos homens que Paulo tanto condenava pela sua indevida influência sobre as nossas lealdades a Cristo e à sua verdade. Pedro e os demais judeus crentes sabiam a verdade. Agiam ao contrário, pecando contra a luz, por covardia perante representantes de poderosos elementos farisaicos que exploravam o nome Tiago. O “Expositor’s Greek Testamenti” (Vol. III, p. 163) diz que esta palavra corresponde nitidamente à nossa palavra “hipocrisia”. Fidelidade ao texto grego torna difícil outra tradução. Os que ontem comiam com seus irmãos gentios e hoje recusam comer com eles, mesmo na própria cidade gentia cuja hospitalidade gozam, estão fingindo escrúpulos que não sentem e o apóstolo Paulo não hesita em dar a semelhante insinceridade seu nome claro: “hipocrisia”. O de. A. T. Robertson disse que a palavras significa hipocrisia, no legítimo sentido mau. (Word Pictures, Vol. IV, p 287).
13 dissimulação “Pedro, porém, havia realmente transcendido aquele ponto de vista; e quando ele, temendo estes recém-chegados, alijou-se gentios, ocultava suas verdadeiras convicções. Foi a inconsistência de sua conduta que Paulo foi levado a observar. Tal inconsistência não podia deixar de ter um mal efeito sobre os cristãos gentios. Pedro recebera-os à verdadeira comunhão. Agora, porém, aparentemente julgava ele dever ocultar e envergonhar-se da tal prática. Os cristãos gentios eram levados à conclusão de que, na melhor das hipóteses, estavam apenas no limiar da comunidade cristã; o chefe dos primitivos apóstolos de Jesus envergonhavas e, aparentemente, de associar-se com eles. A despeito da liberdade outorgada pelo concílio apostólico, os cristãos gentios eram de novo tentados a remover os impedimentos que sobre eles repousavam, aceitando a circuncisão e tornando-se, plenamente, membros da Igreja. Evidentemente o guardar da Lei por parte dos cristãos judeus era uma posição média. Quando seguido conscienciosamente, como um dever que descansasse ainda sobre os da descendência judia, Paulo lidaria com o caso mais amenamente. Quando, todavia, fosse seguida por temor dos homens, a despeito de uma compreensão superior, tornava-se “hipocrisia”, repreendida acremente.” (“The Origim of Paul’s Religion”, por Machen, p. 101-2).
Paráfrase: 14-21. O teor de minhas palavras ditas a Pedro, eu renovo nesta crise igual entre vós. Tomem nota todos os crentes aí entre os meus patrícios: Pedro e os demais judeus crentes, na casa de Cornélio e em Antioquia, vivam como se fossem gentios, comendo as carnes que o judeu considera cerimonialmente imundas, e sem as lavagens de purificação que a Lei prescreve. A mesa do Senhor nos era sempre uma, em cada igreja composta de judeus e gregos. A norma se firmou, a bandeira de liberdade içou-se, a doutrina se definiu em Jerusalém com o concurso de todos os órgãos de revelação e do Espírito Santo, a nova foi formalmente promulgada entre gentios e judeus, e lá e cá temos vivido e ensinado assim, apóstolos de ambos os grupos. É erro doutrinário procurar fazer voltar os ponteiros do relógio para o primitivo regime da Lei; é hipocrisia fingir que tudo isto não se deu. Tamanha obras da graça libertadora não se anula por timidez, nem se esconde por prudência, nem se nega por atamento a colegas austeros cujos problemas bairristas talvez sejam complicados pela liberdade alheia. Nós, como crentes judeus, estaríamos negando nossa própria experiência se aceitássemos a teoria judaizante. Sabíamos a fundo a impotência da Lei e suas obras para nos justificar. Por este motivo, nós, que éramos da Lei, corremos a Jesus e nos tornamos crentes em o Salvador e Messias prometido. Não éramos “pecadores” – termo pejorativo que como judeus costumávamos usar em orgulhosa hostilidade contra todos os gentios. Talvez agora nos caiba o epíteto judaizante de “pecador”, pela nossa infracção cristã do regime mosaico e pela confissão de nossos pecados e imperfeições que Cristo ordena confessar a Deus e uns aos outros. Não responsabilizamos a Jesus nem a sua graça por nossas imperfeições nem por um instante consentimos que seja Cristo taxado do labéu de autor das faltas que no progresso da nossa santificação ainda restam vencer. Ele é o Autor das vitórias da graça em nossa experiência até aqui e das demais etapas do nosso futuro progresso na senda do aperfeiçoamento.
Lealdade, pois! Coerência com experiência da graça e a doutrina da graça. Não desmanchemos o que temos edificado; nem edifiquemos, em adulação aos homens, o regime que formalmente desmanchávamos em nossa vida entre os povos do mundo. Ora, foi a Lei mesmo que nos educou, por duras lições, na impotência ética da lei e na sua incapacidade de salvar. Quando por esta educação preparatória nós fomos promovidos para a vida em Cristo e o viver de Cristo em nós, por via de nossa fé, não está em desabono de nosso amado Israel e seu regime religioso. Este regime foi dado por Deus precisamente para nos trazer como um povo ao dia do Messias e sua graça, o atual estágio da progressiva revelação divina. Agora temos chegado ao Calvário, não recuemos para o Sinai! Eu me identifico permanentemente com a crucificação de Jesus e com a sua ressurreição em poder. A morte do meu Salvador foi uma necessidade fundamental do universo. Não foi um gesto dramático desnecessário, e recuso anular a obra redentora de Jesus por um rescuo para qualquer regime de lei, seja de Moisés, seja de quem for. Se há possibilidade alguma de justiça por lei, então a exigência da graça divina é nula e a morte de Jesus na cruz foi supérflua, um gesto frívolo do infinito sacrifício do Calvário e suas riquezas de graça e glória.
14 judaizarem – “Não poderia ser uma qualquer distinção sutil acêrca desta ou daquela forma de intercâmbio, pois S. Paulo denominou-a de modo amplo: “um constrangimento dos gentios a se judaizarem”. Isto foi provavelmente uma alegação de inoportunidade: “É mais importante conservar os amigos de Jerusalém em boas relações do que evitar qualquer risco possível de afugentar nossos irmãos gentios recém-convertidos: não importa em rejeitá-los ou obrigá-los à circuncisão; nem fraternizando-nos com eles, desde que sabemos a ofensa que disto resultará em Jerusalém: bom será demorar um pouco para ver se as circunstâncias de si mesmas não se acomodam para melhor, aguardando nós isto sem pressa excessiva”. Raciocínio plausível deveria ter sido este, e por certo existiu algum raciocínio plausível, capaz de enlear a Barnabé e mesmo a Pedro. O resultado disto era, todavia, que multidões de crentes gentios batizados, e até aqui tratados em termos de perfeita igualdade, deveriam ser de então exibidos como desiguais da companhia dos cricruncios Apóstolos do Senhor que por eles morrera. Tal juízo, S. Paulo bem diria ser em assência covardia moral; e tal conduta, não sendo em forma uma expulsão dos gentios convertidos, era um alijamento de sua companhia, e em efeito uma intimação a que se tornassem judeus caso quisessem no sentido mais amplo manterem-se cristãos. S. Paulo não nos diz como findou a querela: tendo ele continuado, porém, mantendo excelentes relações com os apóstolos em Jerusalém e prosseguindo com um evangelho desimpedido em sua mão, é razoável supor que S. Pedro e os outros reconheceram-lhe o direito. De modo contrário, a história da Igreja tomaria um curso muito diverso”. (Judaistic Christianity”, Hort, p. 78.)
14 “Contra a verdade do Evangelho” – “S. Paulo repreendeu, em S. Pedro, não uma aberração doutrinário, porém, moral: ele era simplesmente infiel às suas próprias convicções.” (“Judaistic Christianity”, Hort, p. 77). Mas as conclusões a que o povo chegava afitariam o Evangelho, daí o discurso de Paulo. Pedro aceitava, ás escondidas, a verdade; seu público, porém, era contrário tanto à verdade como ás suas próprias convicções. Daí a hipocrisia e a tendência de anular a graça de Deus.
O erro de Pedro, pois, objetivamente considerado e classificado, foi erro em doutrina, tornando nula a revelação que ele recebera em Cesaréia; foi um erro prático de terríveis consequências, e envolvendo o ostracismo social da maioria dos crentes; foi um erro de caráter, pois Pedro sabia melhor. Dissimulou, manchando seu caráter com a covardia e hipocrisia; foi um erro na prática de uma das ordenanças da casa de Deus, pois desvirtuou a unidade da igreja em Antioquia, que é parte do simbolismo da Ceia do Senhor para cada igreja que a celebre, símbolo em que todos os membros comem juntos na celebração coletiva prescrita (I Cor. 11:17-34).
Ninguém pode ler inteligentemente a Epístola aos Gálatas e crer na infalibilidade de Pedro. De todos os homens, Simão Pedro seria o último a professar a infalibilidade. E se tivesse semelhante ideia, permaneceria na memória a repreensão pública de Paulo para logo afugentar da sua mente tamanha presunção.
Autores romanistas têm procurado vários subterfúgios para livrar a sua doutrina de infalibilidade papal das sérias consequências da repreensão dada a Pedro por Paulo.
(1) Alguns chegaram a negar que Cefas era Pedro, e alegaram tratar-se de outro discípulo qualquer.
(2) Outros, como os franciscanos, fingem que a visita de Paulo a Pedro em Jerusalém foi em homenagem à sua primazia e autoridade papal; o contexto, todavia, contém o incidente, logo narrado, do encontro em Antioquia; e a associação de Tiago e João com Pedro na única passagem em que Paulo se refere aos três com certa deferência – sendo Tiago mencionado primeiro, e Cefas segundo – mostra quão fútil é esta busca de argumentos.
(3) Os franciscanos, nas notas que afixam à sua tradução do Novo Testamento, procuram desviar o termo “repreensível” de toda a culpa no sentido de erro doutrinário. A linguagem de Paulo, porém, mostra que ele não considerou o erro leve.
a) Tudo isto está num contexto em que Paulo afirma que sua atitude fez permanecer a verdade do Evangelho.
b) Paulo diz sem rodeios que Pedro “era condenado” em Antioquia.
c) Acusou-o de ter “dissimulado”.
d) Afirma que “não andavam retamente conforme a verdade do Evangelho.”
O grego é vivo – estavam andando numa vereda torta.
e) Paulo diz que o curso de Pedro é equivalente a edificar as coisas que destruira (a Lei e suas cerimônias) e afirma que quem toma esse curso é “transgressor”.
f) Usa a frase ainda mais significativa: – “Não faço nula a graça de Deus”.
Os franciscanos traduzem “simulação” em lugar de dissimulação e citam lá um jesuita qualquer par provar que, “Nem toda a simulação é ilícita”.
Bem diz o dr. Carrol que se Paulo não tivesse agido como agiu em Jerusalém, e Antioquia, segundo narra neste capítulo 2, não haveria hoje nenhum cristianismo gentio, e o cristianismo judaico seria uma seita sem valor. O apóstolo salvou o Evangelho.
Surge a pergunta natural: “Se os apóstolos eram homens falíveis, como é que temos certeza do cristianismo”?
Bem. Em primeiro lugar apeguemo-nos aos fatos. Nunca neguemos um fato por medo das duas consequências. O fato é que apóstolos eram pecadores falíveis. Os Evangelho narram suas opiniões erróneas, corrigidas por Jesus. Aqui Pedro foi Corrigido por Paulo. O próprio Deus ter de dar uma visão muito chocante a Pedro em Cesaréia sobre este mesmo assunto para vencer-lhe aos preconceitos nacionalistas e conseguir que aceitasse a universalidade do Evangelho e evangelizasse a Cornélio.
O Novo Testamento não historia extensamente a vida dos Doze exceto Pedro, portanto não podemos dar detalhes nos outros casos. Tiago, porém, o primeiro autor inspirado, diz: “Pois todos nós tropeçamos em muitas coisas”; e João afirma “Se dissermos que não cometemos pecado a nós mesmos nos enganamos e a verdade não está em nós”. Ora, se alguém é pecado, é falível, pois é da natureza inescapável do pecado fazer aberrar o juízo e o pensamento.
Deus para orientar o cristianismo podia ter adotado duas medidas – A) Tornar os apóstolos isentos do pecado, glorificando-os para nos servir de guias infalíveis. Isto ele não fez porque seria misturar fenómenos celestes com terrestres. Tais homens não nos serviriam de estímulo porque seriam muito deferentes de nós, isentos de nossas limitações e sofrimentos. B) Deus podia dar aos homens seu Espírito e revelar-se na história cristã, guiar suas igrejas, em crise permitidas na sua providência, inspirar os apóstolos a escrever epístolas infalíveis para revelar a verdade sobre o problema em foco. Do mesmo modo que o Espírito gerou no ventre da virgem, falível e sujeita às imperfeições humanas, o Infalível Verbo, a Palavra encarnada, assim também este Espírito divino inspirou nas mentes dos escritores falíveis do Novo Testamento a Palavra Inspirada e Infalível da revelação cristã.
A Bíblia desconhece homem infalível entre os pecadores não-glorificados; porém, as Escrituras são perfeitas, inerrantes, soberanas na vida, na consciência e no pensamento do Evangelho, na sua pureza e infalibilidade, entregue em vasos de barro, frágeis e impuros, como o muito falível, precipitado e, às vezes, covarde Simão Pedro.
Lutero disse no seu Comentário sobre Gálatas – “Por que devo eu desprezar a Deus que é o grande Mar e tão altamente reverenciar a Pedro que é uma gota de água no Mar? Antes deve a gota ceder lugar ao Mar, e Pedro a Deus”.
A Fonte infalível de orientação cristã é a Bíblia, não homem algum. Deus emprega mensageiros humanos para transmitir sua Palavra aos homens; é a Palavra, porém, que tem autoridade, não o mensageiro.
14 andava… contra a verdade – Vemos quanto valor Paulo deu à coerência doutrinária. Seu apelo a Pedro foi para ser coerente com a doutrina da universalidade do Evangelho, verdade que ele abraçara.
Dizem que a “coerência é vício de almas mesquinhas”. Depende. Há coerências e coerências. Pedro estava coerente com seu passado e com uma forte corrente de opinião cristã quando recusou comer com os crentes gentios em Antioquia. Esta coerência com o passado, com as tradições, pode ser grande vício, e até abominável pecado. Nada de coerência com tradições falsas ou um passado erróneo.
A coerência com a verdade, porém, é a essência de um espírito cristão. Esta virtude nos fazer parecer muito incoerentes com nosso passado, mesmo com nossa conduta de ontem; porém, a norma da vida não é o passado mas sim a verdade. Se descobrimos que nosso passado não estava de conformidade com a verdade em qualquer respeito, temos de recuar, ou antes avançar para a posição reta e bíblica.
Uma consciência bem disciplinada e alentada pela graça é a única fora que nos pode orientar assim.
14 “Contra Pedro a declaração memorável de Paulo sustenta três acusações sérias: ele fora réu (1) de virtualmente excomungar os cristãos gentios, pela insistência no cumprimento do costume judaico a título de base de comunhão, a compulsão partindo do próprio exemplo dele; (2) de estultificar-se por estar reedificando o que tinha destruido; (3) e de frustrar a graça de Deus por declarar, em efeito, que é insuficiente para a salvação dos homens, necessitando o auxílio suplementar de práticas legalistas.” (Breuce, “St. Paul’s Conception of Christianity”, p. 58)
14-21 Foi preciso repreender, à vista de todos, um pecado público. I Tim. 5:20. Há três acusações contra a conduta de Pedro: (a) uma infração da comunhão cristã contra os crentes gentios, 14-16, (b) incoerência com seu próprio evangelho, estultificando-se, 17-20 (c) anulação da graça de Deus por declarar em efeito que ela é insuficiente para a salvação, carecendo ser suplementada pelas ordenanças legais, 21.
Esta secção da carta serve a um propósito duplo – tanto para defender a autoridade do apóstolo quanto para introduzir a próxima discussão e distinguir a justificação pela fé da justificação pelas obras de lei. (a) Os judeus não podem se justificar pelas obras da Lei; tem de crer, porém, em Cristo para salvação. Sendo assim, tanto maior é a necessidade de o gentio não confiar em obras legais senão em Cristo, 15-18 (b) o pecador não pode justiçar-se pela Lei nem pode o santo viver por meio dela. O crente está morto para a lei vive em união com Cristo e Cristo vive na sua vida por meio da sua morte redentora. Bengel chamou este trecho “summa ac medulla christianismi”, 3:19-20. (c) Não há qualquer mistura de lei e graça num evangelho puro. A justiça que vem por meio da morte de Cristo é absoluta e perfeita. Se fosse possível a justiça por outro medito, a morte de Jesus seria vã.
14 “Não é, òbviamente, só por motivos de ordem história que apóstolo aqui repete esta notável exposição de sua fé. Visa, sim, a instrução agora das igrejas para as quais escreve, e significa, embora não o diga: isto é o que disse a Pedro naquele tempo, e é isto que vos digo a vós também agora”.
15 “pecadores” – “A palavra era quase um sinónimo de gentios, no vocabulário religioso dos judeus”. (Lightfoot, com sobre Gálatas, p. 115).
16 Sobre a ausência do artigo com a palavra “lei”, demos várias notas. A ausência do artigo, se em alguns passos um genitivo dependente não torna ambos os substantivos definidos, indica qualquer Lei, qualquer regime legal, sistema de regulamentos cerimoniais e morais que tenha servido ou sirva de base da vida e esperança religiosa entre os povos do mundo. A redenção operada por Cristo visa libertar os povos de todos os legalismos religiosos, não apenas do da Lei mosaica.
16 “lei” – Esta palavra é o assunto da epístola. O termo varia entre sua referência genérica (lei de todas as espécies, tendo directamente em mira a Lei de Moisés) e a referência limitada e particular (a Lei de Moisés). A palavra se encontra usada 32 vezes nesta epístola, sendo esta a primeira. Notai na sua inteireza cumulativa as afirmativas e negações do apóstolo sobre o assunto. Lei não justifica (2:16 declaração repetida três vezes neste versículo); conduz seus adeptos a morrerem para a lei, pelo desespero na possibilidade de por em prática suas exigências, (2:18); não serve de meio de justiça (2:19); não traz pela prática de suas obras o Espírito Santo à vida de seus adeptos (3:2); Deus dá o Espírito ao ouvinte que crê, não ao legalista que obra o que a Lei manda (3:5); amaldiçoa em sentença e na vida absolutamente todos os seus adeptos que sejam réus de uma infracção que seja, em comparação com a perfeita conformidade exigida (3:10 bis); a ninguém justifica perante Deus, pelo motivo de assim anular por semelhante justificação legalista a multissecular Promessa de justiça mediante a fé em Jesus (3:11); não é absolutamente um regime de fé, mas únicamente galardoa o homem perfeito, (3:12); Cristo nos redimiu (entrou no mercado da nossa escravatura espiritual sob lei, pagou o preço e nos libertou e removeu de semelhante domínio) (3:13); “a Lei (a espécie do género lei que Paulo tem em mira nesta epístola) nunca teve senão carreira e propósito parentético, e limitado a um povo, no multissecular prazo da Promessa, que se estende a ambos os lados do parêntese efémero do regime mosaico (3:17); a herança da semente espiritual de Abaão, da qual o Espírito dado ao crente é o penhor, procede da graça, sendo lei e Promessa mútuamente exclusivas (3:18); a Lei teve o positivo propósito de estimular transgressões e assim produzir o desespero nos seus adeptos, preparando-os assim para desejarem e avaliarem sua necessidade de aceitarem a Cristo uma vez que a Lei era um contrato bilateral, com Moisés como mediador, o qual ninguém jamais cumpriu, numa vida humana, quanto ao contratado, senão Jesus Cristo (3:19); não é isto preconceito contra esta acatada espécie de lei, a Lei de Moisés, pois se fosse possível Deus estabelecer uma lei capaz de produzir na humanidade decaída uma real justiça, decerto a Lei de Moisés teria sido esta lei, sua falência e impotência de conseguir aquilo que exige sendo simplesmente a fraqueza inerente em qualquer regime de lei, não especialmente na da Moisés – sendo verdade o converso, também, isto é, se a Lei fosse capaz de conseguir a justiça que exige, então a justiça seria possível por lei, como regime ético eficaz e viável (3:21); na era parentética e preparatória mosaica, a lei tinha as funções de sentinela, carcereira e escravo-tutor de menores espirituais (3:23-24); “a Lei” era querido tutor do judeu, como muitos tutores-escravos foram estimados e amados pelos menores até chegaram à sua maioridade, a qual nós achamos em Cristo e simbolizamos no batismo, qual toga da nossa cidadania no reino de Cristo (3:25-29); lei, em domínio sobre Cristo, era parte de sua humilhação nos dias de sua carne (4:4); ele suportou o jugo para nos libertar, resgatar completamente e de vez de qualquer regime de lei (4:5); “a Lei” teve por fim precisamente nos orientar contra toda a confiança em lei – é seu próprio antídoto, vacinou a Paulo contra o legalismo para sempre, e dá esta isenção a todos os crentes ajuizados em sua interpretação; (4:21); ninguém pode escolher dentre os elementos da Lei algo para guardar e o resto para abandonar ou considerar letra morta – se alguém se sujeitar ao regime, é obrigado a respeitar e executá-lo na sua totalidade, nada de eclectismo, nada de marcar os dez mandamentos para vigorar friamente revogar para si os demais 2376 mandamentos que tiveram igual origem e têm igual autoridade no sistema mosaico (5:3); nada de agradar partidários deste ou daquele elementos de legalismo, praticando para alcançar a justiça a circuncisão, o sábado, a dieta ou qualquer outra mania de legalistas, somente para ter a paz social; quem se faz adepto de um item de um regime legalista está completamente entregue ao sistema todo, não tem parte em Cristo, já não reside espiritualmente na pátria da graça (5:4); a vida do crente é servir em amor, e se alguém tiver medo, fique sabendo que tudo quanto houver de valor duradouro na Lei de Moisés se preserva na sua exigência de amor, decretado também por Jesus para nós, e derramado em nossos corações eficazmente pelo Espírito (5:14); estando, pois, guiados pelo Espírito, absolutamente não estais na pátria da mentalidade chamada “lei” (5:18); ninguém pense que na pátria e clima da espiritualidade vamos cair em condenação, degenerar em anticomunismos, ficar um escândalo na vida, pois, contra os frutos do Espírito a que somos entregues o inteiro sistema e alcance de legalismo não será capaz de pronunciar uma sentença (5:23); pelo contrário, os anticomunismos por excelência, os moralmente impotentes, sempre são precisamente os adeptos de lei, pois não guardam a lei de que são partidários (6:13). E que este testemunho de Paulo é a verdade, torna-se evidente pelo fracasso e desespero do próprio Saulo de Tarso e seu ódio contra Jesus Cristo – o apóstolo sabia por experiência de que falava – e pelo Israel incrédulo de sua geração e da de Jesus. O parêntese mosaico ia se fechar. O novo ia dar a demonstração de seu legalismo. Deus, numa escala nacional, demonstrava perante a raça o que lei consegue no terreno de justiça. Ele separara Israel pela muralha de circuncisão, dieta e cerimoniosíssimo, educou sua consciência na moral por mestres como Moisés e Isaías, deu-lhes juízes, legisladores, moralistas, salmistas, reformadores, sacerdotes no templo, levitas na vida doméstica, profetas e rabis, purificou seu povo por 40 anos de peregrinações, castigos, cativeiros e o heroísmo épico dos Macabeus, iluminou tudo com a esperança messiânica e chamou a raça humana para ver o resultado de tanto esforço, o melhor que Deus e o homem poderiam conseguir pelo ideal sistema de lei. E que é que vemos? Este mesmo povo, em seu auge espiritual, foi classificado por Jesus como “geração adúltera”, vivia em constantes turba-multas, traições e aventuras desordeiras, matou seus profetas, burla sua idolatrada Lei a cada passo, achando nela um jugo insuportável, testifica Pedro, e termina o regime crucificando seu próprio Deus encarnado enquanto seus chefes e a massa popular gritam como lucos, jogam poeira ao ar, rasgaram as vestimentas e insanemente invocam sobre a cabeça da raça para todo o porvir o sangue remidor, mas rejeitado, do imaculado Filho de Deus. Jesus classificou a vida que a lei produziu nesta experiência nacional favorecida pelos céus e a terra, como sendo nada menos do que infernal (Mat. 23:15), um túmulo branqueado hipocritamente, mas cheio de podridão. Quereis ver o antinominianismo concretizado, superlativo, incurável? Vede o que a Lei de Moisés fez para seus adeptos após séculos de esforço. Deus chama a raça humana ao Calvário, dá-nos uma demonstração final da impotência de uma Lei, boa, santa e justo, porém inerentemente incapaz de produzir o bom, o justo e santo que exige, embora sua súmula fosse escrita pelo próprio dedo divino. E Deus nos diz no Calvário: “Eis o capítulo final do legalismo em uma religião tolerado por vosso Deus. Eis o melhor que a Trindade é capaz de conseguir por século de esforço divino no melhor povo na história da moral. Ninguém conseguirá mais. Então terminou a Lei, em sua missão perante Deus. Nunca regenerou, nunca justificou, nunca santificou, nunca espiritualizou a nenhum homem, a nenhum povo. Continuará apenas em seus aspectos terrenos numa limitada esfera de uma teocracia caduca por mais quatro décadas. Seu altar, porém, seus sacrifícios, seu sacerdócio, sua assembleia, seus ritos, sua ética parcial e preparatória, seu templo, seu dourado Santo dos Santos agora são abandonados pela Trinada. O Pai rasga com as mãos invisíveis o véu do templo de cima abaixo, deixando oco e sem Habitante o santuário que era símbolo e centro de todo aqule sistema de religião. O filho clamou: “Está consumado” – “término de lei” está naquele brado! O Calvário é barreira sempiterna. A Lei não passa para vida que Jesus nos comprou. O Espírito vem por ser o Paráclito, o poder, a garantia, a seiva vital que com segurança realiza na vida cristã o fruto e os ideais que a Lei jamais conseguiu. Peço ao sincero estudante que leia e releia, em sua força cumulativa, este testemunho de Paulo contra lei e a Lei. Se consentirmos forjar ainda um ecletismo de Lei e Evangelho e impô-lo sobre a mal orientada consciência dias e nossos círculos de influência, então, quanto a nós, a Epístola aos Gálatas foi escrita em vão, equivale ragá-la de nossa Bíblias, viver com um torso de Novo Testamento, e deixar na confusão muitas almas imortais às quais Paulo revelara a plena luz da Nova Aliança.
16 “Outrossim, é mister lembrar que o apóstolo tivera sua experiência do legalismo antes de sua conversão; para a maior parte dos homens, porém, vem depois. Poucos escapam ao contágio da moléstia em algum tempo da vida.” (Bruce, “St. Paul’s Conception of Chrisitianity”, p. 60).
18 (V. Br.) “Se eu torno a edificar as coisas que destruí, constituo-me transgressor.” Lutero cometeu este erro, e os demais reformadores. Com terríveis açoites castigaram o romanismo por não se conformar como Novo Testamento. E quando os anabatistas mostraram que este princípio destruiria o batismo infantil, logo edificaram o que tinham destruído e insistiram em reter no cristianismo muitos elementos que são meras tradições humanas, tão isentas de qualquer autoridade apostólica quanto é o próprio romanismo.
18 Conybeare e Howson traduzem as elipses na linguagem de Paulo assim: “Porque se eu novamente edifico aquela (estrutura da Lei) que já demoli, então eu me patenteio seu transgressor. Mas a abolição da Lei não me torna transgressor porque, etc.
A parte grifada é considerada como cláusula supressa, mas inerente no pensamento comprimido do apóstolo.
19 “por via de legalismo morri para legalismo” – O legalismo único que é discutido e que deu origem a esta epístola é a Lei de Moisés, que os judaizantes queriam impor aos crentes gentios. O motivo do discurso foi um lapso dado ao legalismo mosaico da parte de Pedro e Barnabé e certos que vieram de Tiago, resultando em cruel ostracismo de crentes gentios porque não judaizavam. Não se tem em vista. Imediatamente, nenhuma outra lei senão a lei de Moisés. O Espírito de Deus, porém, levou Pailo aqui de fazer sua declaração genérica, aplicável a todos os legalismos dos séculos. Certamente, porém, porém, se é aplicável a todas as leis, a aplicação imediata e propositada é à Lei de Moisés.
Alguns querem conservar ainda em vida, mesmo para os crentes em Jesus, a Lei de Moisés. Dizer: morri para lei, mas estou vivo para a Lei de Moisés é como se alguém dissesse: “Não como frutos, só como bananas”; ou se outro declarasse: “Não faço parte do exército, sou apenas seu generalíssimo”; é como se o oceano dissesse: “Eu não sou água, apenas o mar”. onde há legalismo, senão na Lei de Moisés? De que escrevia Paulo? Porventura estava em foco um corpo de leis da autoria de Solom, Napoleão ou Ruy Barbosa? A única forma da lei no horizonte desta epístola é a Lei de Moisés. E é para esta do com Cristo, assimilado à redenção operada na cruz do Calvário.
Há uma teoria que quase se fez dogma a alguns intérpretes. É que a palavra “lei”, no original, sem o artigo, nunca se refere à Lei de Moisés, na que a Lei (com o artigo), sempre se refere à Lei de Moisés e que Paulo morreu para alguma vaga abstracção que não estava em foco nesta Epístola, mas não morreu para a Lei de Moisés, a qual se identifica, nesta teoria, erradamente, com a lei moral. Tudo isto está errado, destituído de qualquer apoio nas epístolas paulinas. A referência direta e única nesta e muitas outras passagens é para a Lei de Moisés, embora a palavra seja genérica, para incluir na condenação os demais legalismos que surgissem.
Outrossim, usa-se o artigo com a palavra lei várias vezes sem que se refira à Lei de Moisés. Paulo fala “da lei de Cristo”, 6:2; da “lei de seu marido”, Rom. 7:2; da “lei do Espírito da vida em Cristo Jesus”, Rom. 8:2; da “lei do pecado e da morte”, Rom. 8:2; da “rei de minha mente”, Rom. 7:23; da “lei do pecado que está em meus membros”, Rom. 7:23; etc. etc. – princípios que ele discutia em vários contextos. Nenhuma destas frases se refere à Lei de Moisés todas têm o artigo com a palavra lei.
Em inúmeras referências lei (sem o artigo) se refere à Lei de Moisés. Quando Paulo ensina tantas vezes que por obras da lei nenhuma carne se há justificada, deve se notar: (a) que é perfeitamente gramatical traduzir “pelas obras da Lei”, pois é princípio da gramática grega que um substantivo, em dependência gramatical sobre outro, permite que ambos sejam considerados como definidos, tão definidos como se houvesse dois artigos gregos na frase. Este princípio da gramática grega impossibilita esta teoria dogmática de que a palavra “lei” sem o artigo nunca se refere à Lei de Moisés. O contesto sempre esclarece. Pode ter esta referência, ou geral e inclusiva, ou particular e única; e pode ser traduzida “a Lei”, como virtualmente todas as versões traduzem, em línguas que tem artigo definido. (b) Mesmo se não traduzirmos assim, e se a referência é genérica, o género “Lei” inclui a Lei de Moisés, e, em muitos contextos, esta é a única lei que apóstolo tem em seu horizonte ou que o leitor poderia entender no caso.
Mas não ficamos em teorias gramaticais ou questões abstratas. O que Paulo aborda em Gálatas, ele frequentemente desenvolve amplamente em Romanos. É o caso aqui. Qual a Lei para a qual Paulo morreu? Há uma passagem paralela em Rom. 7:4 – “De modo que, meus irmãos, também vós desligados estamos da Lei.” Lei aqui tem o artigo. Ninguém pode duvidar que a referência é à Lei de Moisés. Paulo morreu para a Lei e foi desligado da Lei. O corpo de Cristo é barreira intransponível entre o crente e a Lei de Moisés. Esta ficou na outra vida, a vida incrédula, a vida em Cristo, nosso Legislador e Rei. (Veja-se os estudos suplementares sobre os vários e complexos aspectos desta doutrina).
20 fé – “Se a fé cristã está, porém, baseada sobre a verdade, então não é a fé que salva o cristão mas o objeto da fé. E o objeto da fé é Cristo. A fé, pois, de acordo com a persoectiva cristã significa apenas receber uma dádiva. Ter fé em Cristo significa desistir da pretensão de alcançar o favor de Deus pela perfeição do caráter; aquele que crer em Cristo aceita, simplesmente, o sacrifício que Cristo ofereceu no Calvário. Os resultados de tal fé são uma nova vida e todas as boas obras; mas a salvação em si mesmo é, absolutamente, dádiva graciosa de Deus. (“Christianity and Liberalism”, Machen, p. 143).
20 “Leia-se com grande veemência estas palavras me e por mim” – Lutero.
20 “Na história humana os grandes motivos foram sempre o ideal elevado, o magno exemplo, e o forte apego a uma pessoa, e a sentença de Paulo abrange todos os três”. (T. R. Glover, “Paul of Tarsus”, p. 214).
21 a graça de Deus – A substância do Evangelho é a graça de Jesus Cristo – não obras, mas graça! Não obediência nossa, mas confiança em Cristo. Não ritos exteriores, mas o novo coração. Não autoridade sacerdotal, mas o sacrifício e a intercessão de Cristo! Não a observância de dias, mas a nova aliança! Não a moralidade legal, mas o fruto do Espírito! Não uma vida circunspecta, mas a morte salvadora do Filho de Deus! Não uma crença católica, mas uma fé pessoal! Não mérito humano, mas justiça de Cristo! Por amor deste Evangelho bem-aventurado podemos bem decidir como Paulo, “Não tenho a minha vida como coisa preciosa a mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do Evangelho da graça de Deus”.
14-21 “A passagem explica-se melhor, sendo entendida como incorporando a substância do que Paulo disse a Pedro em Antioquia, apesar de que indubitavelmente, nenhum esforço há de uma reprodução verbal. De qualquer modo, quer Gál. 2:14-21 seja um relato do que Paulo dissera em Antioquia, quer seja muito do que almejava dizer aos gálatas, uma coisa é evidente – quando Paulo principia a relatar no verso 14 o que dissera a Pedro, tem a intenção de destacar algo sobre que ele Pedro concordaram; quer dizer: “Tu e eu, embota tenta todas as vantagens da Lei, abandonamos tais vantagens, de modo a sermos justificados pela fé em Cristo. Como, então, forçar os gentios a buscarem a salvação por um meio que em nosso próprio caso era fútil? Além do mais, certo é que isto Paulo disse a Pedro. O contexto torna a questão perfeitamente lúcida. Deve ser lembrado que Paulo responsabilizou a Pedro, não por falsas doutrinas, mas “hipocrisia” – isto é, por ocultar verdadeiras convicções”. (“The Origin of Paul’s Religion”, Machen, p. 123). É mister notar, porém, que a hipocrisia que esconde e confunde a verdade, gera erros, fatalmente, entre as vítimas da confusão, embora o hipócrita tenha melhor orientação íntima que os confundidos. (W. C. T.)
14-21 Não é certo se este discurso se estende até o fim do capítulo 2 ou se Paulo termina o discurso citado em v. 18, e daí em diante temos seu comentário aos gálatas sobre o que dissera a Pedro. Em todo caso discutiremos até o fim do capítulo.
Paulo toma o ponto de vista de um judeu, ao argumentar com Pedro, e mostra que há incoerência com a experiência de salvação pela graça, mesmo no caso de um judeu convertido.
Diz ele: “Nós judeus por natureza e não pecadores diante dos gentios”. Para os judeus os gentios eram pecadores por excelência, fora do pacto da graça. Mas Paulo mostra que mesmo os privilegiados judeus tinham de ser convertidos e salvos pela graça de Jesus. Logo a Lei é outro sistema e sem vigor no cristianismo, pois já foi abandonada como esperança dos judeus crentes, inclusive o próprio Pedro, quando creram em Cristo. Como querem impor sobre os gentios o que eles mesmos não acharam eficaz?
Que significa a pergunta de Paulo no v. 17? Significa que o judeu não se considerava pecador, no mesmo sentido dos gentios. Os judeus disseram a Jesus “nós não somos pecadores.” Paulo mesmo afirmou que tinha vivido segundo a Lei, sem culpa. Isto não afirma impecabilidade, mas que quando pecou orerecera os sacrifícios exigidos pela lei levítica. Portanto, seus pecados passaram para a vítima e foram expiados pela sua morte. Ora, o pecador gentio permanecia sob o peso de seus pecados e assim era por excelência o pecador.
Todavia, Pedro e Paulo não tinham encontrado paz espírito neste sistema de expiação, nem sentiram-se justificados. Abandonaram, pois, esta esperança da Lei e se abrigaram em Cristo, salvando-se, como qualquer gentio pecador, pela graça imerecida de Jesus. Daí a incoerência de se separar dos gentios por motivos legalistas.
Este discurso é sumamente importante para a teologia, para a pureza do Evangelho, e para a edificação e enriquecimento da experiência crista, porque nele nós vemos que as considerações preponderantes na mente de Paulo eram espirituais, na esfera da vida íntima e não somente a satisfação objetiva, legal, e forense da Lei de Deus pela sacrifício de Cristo. A doutrina de Paulo sobre justificação é a “justificação de vida” (Rom. 5). A vida é a palavra tónica de sua discussão. Tem havido tamanha controvérsia entre Gál. e Rom. que, às vezes, este fato fica obscurecido. Notai-o pois: “Estou crucificado com Cristo: logo já não sou eu, o que vive, mas é Cristo que vive em para. Aquela vida que agora vivo na carne, vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim.”
Nenhuma ideia fria, dogmática, de controvérsia, forense, legal faz justiça a estas palavras. A doutrina de substituição aí está, mas é Cristo crucificado, de tal forma, e com tamanho poder atrativo, que leva Paulo à cruz também, e ele fica associado, identificado com Cristo na morte e na ressurreição. É nova criatura pela expiação feita por Cristo na cruz. Cristo morre pela expiações dos pecados de Paulo, ressuscita para sua justificação e se encarna em Paulo, vive em Paulo não pela reencarnação mitológica do espiritismo, mas pela sua onipresença e pela obra de seu vigário, o Espírito Santo.
Ora, este é o princípio do argumento de Paulo, não o fim, não mero corolário. Quem não tiver esta concepção vital, esta experiência de ser crucificado com Cristo, esta convicção de que Cristo vive em sua personalidade, nada sabe da verdadeira doutrina e esperança de Paulo na morte expiatória de Jesus.
Notemos a moral e a consagração no seu ensino. “Eu morri para a Lei a fim de viver para Deus”. Nada do espírito de Balaão que associou a adoração de Deus com a corrupção e a frivolidade. Deus é mais do que sua lei. Cristo na vida, longe de baixar a moral, antes a eleva acima mesmo do que a Lei exigia, pois espiritualiza suas exigências.
Morrer para a Lei, sem que isto seja “a fim de viver para Deus”, não é a experiência cristã. Cristo em nós é tanto “esperança da glória” quanto força moralizadora e espiritual, separando nossa vida do pecado e do mundo e consagrando-a a Deus. Tudo isto está mesmo no prefácio da doutrina de Paulo sobre a justificação pela fé.
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