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domingo, 6 de dezembro de 2009
Comentário - Epístola Aos Gálatas -CAPÍTULO I
Comentário - Epístola Aos Gálatas
CAPÍTULO I
PARÁFRASE: 1-5 Paulo, embaixador da corte celeste aos povos do império romano, um enviado cujo apostolado, não teve procedência humana nem intermediário humano, mas por toda a linha de sua comunicação veio directa e imediatamente das divinas pessoas do Pai e Filho, cuja união e propósito redentor foram demonstrados na ressurreição de Cristo, - Paulo, Timóteo, Tito, Tóquio e Trófimo, Gaio e outros companheiros, todos acordes nesta mensagem em defesa do único Evangelho – às igrejas de Antioquia de Pisídia, Listra, Derbe e Icônio, e às demais da província romana da Galaica, por Paulo fundadas e por ele orientadas na verdade e na vida cristã. Graça, o favor imerecido mas eficaz que Deus outorga ao crente, e paz, a coroa de todas as bênçãos alcançadas pela fé, – tudo quanto a saudação grega e a hebraica uniram de bons votos para formar palavras características do encontro entre os crentes em Cristo – vos sejam outorgadas da fonte das bênçãos que procedem indistintamente de Deus Pai e Filho, se bem que seja este quem por sacrifício expiatório dos nossos pecados deu-se em substituição dos pecados humanos condenados, arrancando-nos do perverso regime contemporâneo de que fazíamos parte integral e dando-nos a gloriosa liberdade dos filhos de Deus, cuja vida eterna e celeste começamos a gozar quando cremos e se expandirá na glória que nos espera eternamente. Glória, pois, ao Pai nosso e de Jesus Cristo, neste Evangelho que é a extenuação na vida humana do eterno propósito divino e cuja realização redundará na glorificação do nome divino para todo o sempre. Amém.
1 Paulo – nascido em Tarso da Cilícia, talvez no ano 1 de nossa era, uns cinco ou seis anos depois da encarnação de seu Senhor; filho de pais Hebreus, se bem que morando na Dispersão do seu povo; educado nas antigas culturas hebraica – língua morta de seu povo e da sua literatura clássica das Escrituras, – aramaica – o vernáculo da Palestina e regiões vizinhas naquele tempo –, grega a koinê do império romano desde Babilónia até a Espanha e ao norte e ao sul do Mediterrâneo –, latina – a língua das leis, administração e exército formidável e omnipresente daquele glorioso império de que Saulo, embora de uma raça odiada e pequena, era cidadão soberbo; matriculado na escola doméstica da mais estrita educação religiosa e nacionalista sob a instrução dos pais, matriculado nas escolas ou tutores na cultura grega de Traso, sede de notável universidade, matriculado nas aulas teológicas dos rabinos de Israel, formado aos pés do erudito, benquisto, e liberal Gamaliel em Jerusalém; promovido a campeão, de seu povo; membro de seus supremos tribunal, o Sinédrio, e agente da campanha internacional desta corte contra a desprezada seita dos nazarenos; rico, erudito, imoralíssimo, enérgico, aristocrata; filho das três maiores civilizações tempos históricos. Tais fatos e memórias surgiriam no pensamento dos gálatas, como surgem em o nosso, ao ler a primeira palavra desta epístola – Paulo.
1 Paulo – “A raça de que veio a Bíblia era odiada na antiguidade bem como hoje. Como vem, então, que a um produto daquela raça, tenha sido concedida influência irrestrita? Como pode ser que as barreiras separadoras do judeu e gentio, semita e ariano, tenham sido vazadas em um ponto, de modo que à corrente da vida semita tenha sido permitido livre curso sobre os ricos campos de nossa civilização moderna? As respostas a estas perguntas devem ser procuradas na vida mais íntima de um judeu de Tarso. Em lidar com o apóstolo Paulo estamos lidando com uma das forças motoras da história do mundo” (“The Origin of Paul’s Religion”, por Machen, p. 20)
…”O movimento cristão teve início entre um povo muito excêntrico; em 35 d. C., pareceria, ao observador superficial, uma seita judaica. Trinta anos mais tarde era, francamente, uma religião mundial. Verdade é, que seus membros eram em número reduzido. Os passos realmente importantes, porém, haviam sido dados. A conquista do mundo era agora questão de tempo. Este estabelecimento do cristianismo como religião mundial, tanto quanto é possível atribuir-se qualquer grande movimento histórico a um homem, é devido a Paulo.” (De “The Origin of Paul’s Religion”, por Machen, pp. 7-8).
“…O cristianismo, em outras palavras, não podia viver sem teologia. E o primeiro grande teólogo cristão foi Paulo.” (Em “The Origin of Paul’s Religion”, por Marchen, p 20.)
…”A história da doutrina poderia ser escrita como a história das reacções paulinas na Igreja.” (Von Harnack, “History of Dogma”, p. 136.)
1 Apóstolo – o termo foi usado na Septuaginta em I Reis 14:6 referindo-se a Aías como “enviado” para predizer a ruína da casa Jeroboão. Era comum no sentido de um delegado, mais do que mensageiro (anjo). Os gregos usavam o termo para a frota. Os judeus empregavam a palavra a respeito de uma embaixada das autoridades para uma cidade estrangeira, especialmente para obrar tributo para o templo. Paulo era apóstolo do Sinédrio, em missão perseguidora, quando Cristo o capturou para seu apóstolo. O termo indicava, depois da queda de Jerusalém, um conselho, ao redor do sumo-sacerdote, de eminentes judeus para ajudarem nas suas deliberações de política doméstica e representá-lo no estrangeiro.
Não foi, pois, uma palavra nova, mas bem conhecida e honrada. Nem foi restrita, em seu uso, aos Doze. Nesta epístola mesmo há reminiscência tanto de Cristo como do Espírito Santo terem um apostolado da parte do Pai, (4:4, 6), e Jesus é chamado apóstolo, em outro escrito, também apologia anti-judaizante, Heb. 3:1.
Com os primeiros oficiais do Cristianismo, os doze apóstolos pertenciam à ordem única do ministério primitivo, eram pastores (João 21:15, 16, 17), presbíteros (I Ped. 5:1), bispos (At. 1:20, simples co-presbíteros do mais humilde bispo de uma igreja antiga. Possuíam, todavia, deveres especiais neste único ministério. Eram as testemunhas oficiais de todo o movimento cristão, desde o baptismo de João através do trabalho e ensino do Messias nos dias de sua carne, e especialmente de sua paixão, ressurreição e ascensão e da vinda do Espírito Santo, que lhes dotou de abundante poder para sua missão. Eram órgãos de revelação, co-fundadores do cristianismo – pedras de alicerce, Jesus sendo a rocha fundamental, a pedra da esquina. Eram os autores do Novo Testamento, com a colaboração de seus auxiliares; constituíam, informal, informal e individualmente, ou em grupos, uma corte de apelação para as igrejas enquanto a verdade ainda era uma tradição oral, a completar-se e concretizares no Novo Testamento. Pela imposição de suas mãos, davam poderes milagrosos aos dignos, At. 8:18. Tinham seus auxiliares, delegados, amanuenses e correios. Cumpriram a promessa de Jesus de que ele havia de completar sua revelação, por meio deles, sob influência e graça especial do Espírito, João 14:26; 15:26, 27. Sua posição no cristianismo é única e eterna, pois a vida cristã tanto celeste como terrestre se edifica sobre eles, como o Apocalipse testifica em símbolos encantadores.
Como, pois, admitir em este grupo um estranho, a quem faltasses uma parte dos requisitos? Os judaizantes contestaram a possibilidade. O caso de Matias não foi precedentes, porque Judas nunca participara das realidades carreira. Matias tinha sempre as qualificações e completava o número, potencialmente, desde o princípio.
A resposta é dupla.
1 . Os Doze propalamento nunca tiveram sucessores, em sentido algum. Estão com sua posição eterna e inalterável no cristianismo, tanto sobre nossas consciências como no destino celeste, onde estão associados com Jesus. Esta espátula mesmo não coloca a Paulo, na “sucessão apostólica” – é o primeiro golpe contra “uma sucessão apostólica” – nem para a cátedra de Tiago, filho de Zebedeu, morto por Herodes. Os Doze ficam doze, reinarão sobre doze tronos em Israel, não mais, e nem Paulo missão. Eram os apóstolos de Israel, primeira e principalmente.
2. Paulo nunca teve nem parte nem missão no apostolado original. Jesus o escolheu para um apostolado único, para os gentios. Não é rival de Matias ou de qualquer outro apóstolo original. Teve seu próprio lugar. Deus o proibiu de evangelizar na Palestina e marcou seu campo de acção no mundo gentio. Ele nos deu a metade dos livros de nosso Novo Testamento. Ele valeu mais que os Doze, pelos vistos recursos de sua cultura, personalidade, fervor, tenacidade e perspicácia mental. Sob a inspiração do Espírito ele nos informa, sem falsa modéstia, que ele era mais operoso para Jesus e o reino do que os Doze: “Antes trabalhei mais abundantemente que todos eles”, I Cor. 15:10. No apostolado, Paulo não é número trezes. E’ número um – e único. Ele possuía todas as qualificações enumeradas acima excito o acompanhamento pessoal do Batista e do Messias, nos seus ministérios. Associou com ele, porém, Marcos e Lucas, os quais lhe suplementaram esta deficiência, por ensino caquéctico que nos deu dois evangelhos, Marcos agindo mais sob Pedro, mas principiando sob Paulo. Paulo pregava, como os demais, sobre João Batista e seu ministério de introdução do cristianismo (Atos 13:24, 25; 19:4). Ele supriu, pois, esta falta nas suas qualificações. Era um apóstolo no sentido mais lato da palavra.
É mister, porém, reconhecer um sentido menos lato desse termo. Apóstolo, no grego, é missionário, no latim. Na etimologia e na significação os termos são, em sentido restrito, sinónimos. Os doze e Paulo eram missionários de uma categoria sem sucessores, pois sua missão permanece fundamental pelo tempo e pela eternidade e para o cristianismo todo. Apóstolos, porém, isto é, missionários, eram Barnabé, At. 14:4, 14; talvez Anacrónico e Junja (Rom. 16:7; certamente Silas e Lucas, embora o termo não se use a seu respeito. Quando Paulo, porém, teve a visão da chamada para passar à Macedónia, Lucas testifica: “Procuramos logo partir para a Macedónia, concluindo que Deus nos havia chamado para aí pregar o Evangelho”, At. 16:10. Lucas era notável missionário e participou da chamada. Paulo, também, inclui seus companheiros na missão europeia no uso do termo no segeiros” e “enviado” em II Cor. 8:23 e Fil. 2:25. O termo evidentemente ficou generalizado neste sentido. De outra forma Paulo não poderia ter taxado de “falsos apóstolos” (missionários) I Cor. 11:13, seus antagonistas. Os judaizantes, certamente, não fingiam ser da categoria dos Doze. Bajulavam antes aos Doze em oposição a Paulo. Eram, porém, zelosos missionários – missionários falsos porque seu evangelho era falso.
Missionários, em geral, são enviados – enviados que são, pioneiros em fundar e estabelecer o cristianismo numa região até ao ponto de se manter ela por si, sem auxílio de fora, em pleno vigor doutrinário, ético e cooperador. “Evangelistas” são missionários itinerantes, numa região onde o cristianismo já se estabeleceu mas de cuja extensão ali se ocupam. Paulo era evangelista, às vezes, missionário, por gosto especial, e mesmo apóstolo no sentido mais lato e profundo do termo. É nosso apóstolo, também sem sucessor ou par, através dos séculos. Esta epístola o defende e confirma nesta posição e autoridade.
1 “NÃO”. A terceira palavra da epístola é um não enfático e há vinte e oito dessas negações, e entre elas há várias das declarações mais enérgicas do trecho biográfico da epístola. Analisemos esta constante negação de Paulo.
NÃO da parte de seres humanos (1:1): negando que fora constituído apóstolo pela autoridade ou comissão de homens.
NÃO por via humana (1:1): negando que qualquer homem fora porta-voz da chamada ou revelação divina, afirmando que Deus era fonte e Deus o canal, a origem e meio de graça e verdade, de revelação e do apostolado, no caso de Paulo. A causa original e a causa instrumental são divinas, não humanas, em tudo quanto se diz respeito ao apostolado de Paulo.
NÃO é segundo uma norma humana (1:1). Não tem de conformar-se com padrão de vida dos Doze, porque era um apostolado sui generais, sem precedente na vida humana.
NÃO o recebi eu (enfático) do lado nenhum homem (1:12). A preposição “ao lado de” é usada duas vezes, composta no verbo e independente com o substantivo. Duplamente Paulo nega ter ficado ao lado de qualquer mestre humano para dele aprender o Evangelho. Outro – “mas não EU” – receberam de terceiros seu evangelho; eu, Paulo, porém, tomei-o directamente dos lábios de Jesus.
NÃO fui ensinado (1:12). Nenhum mestre cristão poderia dizer: Paulo foi aluno. Só Jesus, em notável apocalipse, se lhe tornara Mestre, directamente do céu e pelas revelações dadas mediantes o Espírito.
NÃO consultei a nenhuma ser humano (1:16). A verdade, e a certeza da verdade, habitavam a mente e o coração de Paulo desde que viu a Jesus. Não se sentia dependente de opiniões ou conselhos humanos. Ele foi i mais humilde dos homens, atribuindo a Jesus todas as suas ideias fundamentais, sem gabar-se de um só pensamento original, ou foi o mais audaz e presunçoso dos homens, atribuindo completamente a Deus tudo quanto ele mesmo originasse. Paulo era bom, veraz, e órgão de revelação divina, ou era fraquíssimo em carate e personalidade.
NÃO subi a Jerusalém. Fora ali antigamente para matricular-se no estudo da Lei. Sozinho, porém, com Jesus, no deserto, meditou as relações entre a Lei, que conhecia a fundo, e a novidade do Evangelho revelado.
NÃO seria escravo de Cristo, se agradasse aos homens. Logo o agradar não é a irmã de seu propósito e conduta.
NÃO vi outro dos apóstolos senão Pedro e Tiago, dos quais, claramente, não recebeu seu Evangelho anti-judaizante.
NÃO minto. (1:20). Há tantas teorias psicológicas sobre a experiência de Paulo que se resumem na ideia de que ele mentiu, ou, pelo menos, pensam que a verdade está muito aquém de que o apóstolo afirmou nesta epístola. Enganam-se.
NÃO fiquei conhecido de vista às igrejas da Judeia (1:22). Seu ministério não teve fase neófita em Jerusalém.
Paulo fez uso exaustivo de todas as possíveis maneiras de negar. Negou pelas preposições que poderiam expressar quaisquer relações entre seu Evangelho e os homens. Negou tudo e por todos os meios, a fim de afirmar, pelo contrario, a origem e transmissão total do único Evangelho, directamente, de Deus e Jesus Cristo, a Paulo e, por Paulo ás igrejas. Foi para dizer não tantas e tantas vezes que Paulo escreveu esta epistola.
“Paulo cria que Jesus Cristo era um ser celestial; Paulo colocou-o claramente ao lado de Deus e não do homem. Não por homem algum, mas por Jesus Cristo, diz ele ao iniciar a Epístola aos Gálatas”. (“The Origino f Paul’s Religion”, por Machen, p. 22.)
2 Ás igrejas da Galáxia – É o “modelo de sãs palavras”. Não o desprezemos. A revelação divina jamais designou pela palavra igreja uma organização eclesiástica de natureza provincial, nacional ou internacional. A razão é simples: não havia no cristianismo apostólico semelhante grei ou concepção ou vontade. Os apóstolos receberam dos lábios de Jesus Cristo a palavra igreja e significava uma congregação ou assembleia, capaz de ouvir e resolver problemas de disciplina, segundo a palavra de testemunhas e a deliberação congregacional, Mat. 18:17. No fim do período de revelação crista, no Apocalipse, Jesus ainda está enviando mensagens a tais igrejas e na última página do Novo Testamento ele está esta “a favor das igrejas”. Não há vislumbre nem sílaba de ensino no Novo Testamento a favor de uma vasta organização eclesiástica, quer nacional, quer católica. Tudo isto nasceu nos séculos pós-apostólicos em imitação carnal do imperialismo dos Césares. Deu-nos papas em lugar de Césares, com Roma ainda “a cidade eterna”, de eterna tirania e usurpação dos direitos humanos. Quando obtivermos o consentimento de nossas consciências para dizermos: “A Igreja da Galáxia” – ou da China ou de Portugal ou do Brasil – já nosso cristianismo está na descida vertiginosa para a carnalidade e a apostaria. Já não tem valor aos nossos olhos “o modelo de sãs palavras” apostólicas; e já não somos dóceis discípulos de Cristo, mas ambiciosos para impor as nossas ideias e vontade sobre a própria Palavra de Deus, quando mutilamos uma palavra que encerra uma revelação divina. O cerimoniaríamos gera o orgulho e o orgulho quer o imperialismo eclesiástico nacional ou internacional, às vezes prostituindo-se com César, em união abominável de igreja e Estado. Assim o Evangelho e as igrejas do Senhor desaparecem, no redemoinho da vontade própria dos ambiciosos, refractários sempre à revelação divina. O Novo Testamento se dirige às igrejas locais, autónomas em suas respectivas cidades. “Nada além”. A sabedoria carnal não dará ao reino de Cristo melhor agência do que as livres, autónomas e democráticas igrejas do Senhor, cooperadoras no bem. São igrejas do Novo Testamento porque estão segundo o “modelo das sãs palavras” do Novo Testamento e são a qualidade de igrejas que o Novo Testamento sempre produz, quando consciências regeneradas e livres de preconceitos buscam nas Escrituras apostólicas a norma de uma vida cristã obediente.
2 A ausência do artigo na frase ressuscitou dentre mortos intensifica o alcance largo e indefinido da linguagem. Deus não fez que Jesus saísse de entre os mortos, conhecidos e definidos, mas de entre mortos em geral, todos que eram desta categoria. É difícil traduzir esta concepção em nosso idioma mas, mas vale a pena preserva-la.
2 Alguns dos irmãos que estavam com Paulo, se esta epístola foi enviada de Corinto, eram Timóteo, da Galáxia mesmo, Tóquio e Trófimo, da província vizinha da Ásia, mencionados em Atos 20:4 como tendo partido em companhia de Paulo quando deixou Corinto. Na companhia em Corinto, estava talvez Tércio, o amanuense da Epístola aos Romanos, e Lúcio, Jason, Sosípatro e Gaio, irmãos notáveis no grupo associado com Paulo em Corinto, Rom. 16:21, e talvez, Tito. É um prazer lembrar-nos de todos esses santos pregadores primitivos, unidos com Paulo contra o legalismo e o ritualismo.
2 Galáxia – “Paulo, possivelmente, teria dado a estes cristãos incipientes na Galáxia, mais do que seriam capazes de apreciar ou reter. O panfleto, todavia, que incorpora sua oferta e seu apelo permanece um dos documentos clássicos da religião crista, e apesar da apreciação histórica das circunstâncias imediatas ressaltar as formas efémeras e inconvenientes de sua lógica, deixa também transbordar o elemento eterno da mensagem.” (“The Approah to the Testament”, por James Moffatt, p. 141).
3 Soberano – “O que é, porém, de muito maior valor é que o termo “Senhor” nas epístolas paulinas – denominação característica usada por Paulo com relação a Cristo – é o mesmo, em todos os sentidos, para referir-se à divindade, quando o termo “Deus”. Ainda, através das epístolas, a atitude de Paulo para Cristo não é mera atitude de homem para com homem, ou discípulo para com o mestre; é atitude do homem para com Deus”. (“The Origin of Paul’s Religion”, por Machen, p. 198).
4 em expiação de – Sabemos que esta frase é mais do que uma tradução da preposição grega do original. É uma tradução desta preposição e da ideia ordinariamente associada com a mesma, em relação ao problema dos pecados humanos. Ligtfoot declara categoricamente que a ideia de substituição expiatória não é dada pela palavra, (Comentário, p. 73). O dr. A. T. Robertson, porém, demonstrou cabalmente, depois, que esta é precisamente a preposição predileta usada em toda a literatura grega para indicar substituição. É a interpretação normal num contexto onde este problema surge. Nossa tradução, pois, é da ideia de Paulo. (Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research, p. 630-632). Em lugar de nossos pecados, em substituição expiatória, Jesus se deu, ofereceu, entregou. Como diz o “Expositor’s Bible”, p.26: “No sentido de sacrifício, como vitima no altar da expiação, “como cordeiro, levado ao matadouro”, ele se deu a si mesmo por nós todos. “Para nos remir de um mundo perverso”, diz o apóstolo; para remendar um mundo suficiente”.
4 “A fim de que nos safasse da atual era maligna – O Prof. Findlay, no “Expositor’s Bible”, p. 32, exclamou há décadas: “E não é uma era maligna (mundo mau)? Cada matutino põe diante de nós sua miserável narrativa de desastre e de crime. Todo o dia o nome do Todo-Poderoso é blasfemado desde a manhã até ao por do sol. E cada noite tem suas horríveis orgias enquanto as filhas da vergonha andam nas ruas seduzindo. Grande impérios impões taxas sobre o pão dos pobres e lhes amarguram existência, a fim de manterem seus exércitos e suas crudelíssimos máquinas de guerra. E mesmo em cidades abarrotadas de riqueza há milhares de homens e mulheres pobres, pacientes e honrados cuja vida e uma verdadeira escravidão a fim de banir a fome de suas portas.” E que não diriam Paulo e Findlay de nossa geração de após-guerra, e de novas guerras? Verdadeiramente maligna!
Paráfrase, 6-9: Talvez minha epístola chegue em tempo para ainda suster a deserção de tantos revoltosos contra o Evangelho da graça, seduzidos para as fileiras do falso evangelho judaizante. Pasma pensar em tamanha instabilidade! Pobres vítimas da ideia fixa de uns fanáticos! O Evangelho, porém, é um só e imutável. Sois engrenados por agitadores; nem agitador, no entanto, nem apóstolo genuíno nem anjo da corte celeste pode mudar em coisa alguma o Evangelho de Cristo. Já vos prevenimos contra esta sedução e repetimos a cautela agora. Este movimento subversivo não está inocente! Como órgão de revelação divina eu vos declaro que é amaldiçoado por Deus. Qualquer um – apóstolo, anjo ou agitador – é maldito por Deus se procura modificar em sentido algum o evangelho que vos proclamei na sua inteireza puríssima quando vos evangelizei. Não é genuíno nada além, nada que se finja ter progredido além da verdade salvadora que eu, como apóstolo, vos revelei, no meu Evangelho de Jesus Cristo.
6 Estou estranhando – A Epístola aos Gálatas facilmente se analisa. Cap, 1 e 2 tratam da defesa do apostolado de Paulo. Cap, 3 a 5: 12, é a defesa de seu evangelho, e o resto da epístola é a exortação prática que aplica os princípios do Evangelho à vida e conduta dos crentes. Principiemos agora o estudo auto-biográfico que Paulo escreveu para provar a origem divina de seu apostolado, independente de qualquer outro apóstolo.
O termo defesa precisa de mais uma palavra de explicação. É uma das máximas militares de Napoleão: “O exército que fica nas trincheiras é derrotado.” Paulo jamais caiu neste erro de tética. Sua defesa é investir contra a fortaleza do inimigo. Ele defendeu o cristianismo com medidas positivas, mesmo numa polémica enérgica de ataque frontal.
Quando se converteu, foi logo à sinagoga dos judeus para converte-los também. Por sua vontade teria ajustado seus canhões contra o judaísmo na própria Jerusalém, à sombra do templo, mas Deus proibiu isto numa visão, pois a fúria farisaica não lhe pouparia a vida. Em todos os lugares Paulo vai logo iniciar o Evangelho na própria sinagoga até que de lá seja expulso pelos rabinos. Quando processado nos tribunais romanos, ele procura converter seus juízes. Quando emissários vêm de Jerusalém a Antioquia para escravizar os crentes gentios sob o jugo de costumes levíticos, Paulo vai a Jerusalém mesmo, fortaleza dos judaizantes, e lá vence os adversários do Evangelho da graça, e consegue que esta igreja história os repudie, e, para ter uma demonstração cabal da vitória, leva a consigo a Tito, gentio incircunciso, que continua gozando a comunhão cristã na própria Jerusalém sem ser circuncidado. Quando se levantaram turba - multas Paulo sempre quis pôr-se no meio delas para convence-las com sua eloquência, e várias vezes conseguiu este desideratum. Sendo preso, evangelizou a própria casa de César e a guarda imperial. Nenhum inimigo jamais encontrou Paulo e suas forças nas trincheiras, timidamente esperando o ataque para defender-se, dispostos a deixar o inimigo devastar os campos da seara divina se tão somente não tocasse nas suas pessoas. Não. A defesa de Paulo é um salto para o combate, e a primeira palavra de guerra é: “anátema”, pois não é sobre assunto de somenos importância.
Paulo podia assim agir por ser desinteresseiro. Pugnava pelo bem, verdade, pela salvação de outros. Que qualquer interesseiro cuide em não usar o método de Paulo para fins particulares ou partidários! Senão, seu “anátema” cairá sobre sua própria cabeça ignóbil, pronunciado pelo público cristão, horrorizado ao ver um interesseiro praticar o sacrilégio de explorar as coisas sagradas para sua própria comodidade.
6 desertar – “A palavra que descreve a falta dos gálatas é um termo militar significando deserção e daí mudança de opinião. Assim Dionísio de Heracléia, que abandonou o partido filosófico estóico para abraçar o epicureu, foi chamado o desertor, ou vira-casaca”. (David Smith, me Life and Letters of St. Paul, p. 196).
8 pregar como evangelho – Este verbo significa directamente, ou em reminiscência, pregar como evangelho, ou proclamar uma pessoa ou nova como evangelho. Há muitos verbos para pregar; a ênfase, porém, deste verbo é sobre a mensagem pregada. Meu Dicionário Grego assim o define: “levo boas novas a, proclamo as coisas concernentes à salvação cristã, … podendo a boa nova ser uma pessoa”. É a pessoa de Cristo, v. 16, a pessoa não do rabino Jesus, senão do Cristo crucificado e ressuscitado, Salvador, Senhor, Sacerdote e Rei, a pessoa e sua obra redentora. Evangelizar é pregar esta mensagem. Pregar outra mensagem não evangelizar – engana os incautos, e com consequências eternas. Paulo exclama: “Ai de mim, se não anunciar o Evangelho.” O ai é duplo. Ai de mim, se, possuindo o conhecimento do Evangelho, e sendo chamado por Deus, eu, todavia, não me entregar ao ministério de sua proclamação. É o ai do desviado de sua carreira, do rebelde, do ocioso, do negligente. O outro ai é ainda mais terrível – o de ativar-se em pregar mensagem que não seja evangélica, “bem outra”, diferente. Este é a ai que cabe no coração judaizante, romanista, sacramentariano, moralista, pagão. É o ai de Paulo que corresponde ao anátema do mesmo Paulo. Os judaizantes eram modelo de zelo, operosidade, constância, lealdade em proclamar o que criam. Aí está a calamidade. O que criam e pregavam não se podia chamar Evangelho. Era uma nova má, escravizadora, impotente para salvar ou santificar, morta e mortífera. “Ai e anátema!” exclama o nosso apóstolo.
8, 9 Sobre as palavras “algo além” lede no fim deste livro o estudo suplementar: “Nada além”, e digamos isto mesmo à nossa consciência, cada vez que somos tentados a acrescentar coisa alguma ao cristianismo de Cristo e do Novo Testamento, mormente quando o assunto é o Evangelho, o esclarecimento do caminho da salvação.
8, 9 maldito (anátema) – significa nos papiros pagãos: “maldição dos deuses infernais. E no Novo Testamento quer dizer: maldição, objecto amaldiçoado, entregue às mais terríveis imprecações”, (meu Dicionário Grego, p. 11). A ideia de censura eclesiástica, excomunhão, não se associa com a palavra no Novo Testamento. No grego patrístico o termo adquiriu esta noção; é alheia, porém, às epístolas de Paulo.
8, 9 maldito – “As palavras ásperas da linguagem do apóstolo, tanto em Gálatas e II Coríntios, foram sem dúvida, evocadas pelo menos por idêntica aspereza por parte dos seus oponentes. As questões pendentes, eram fundamentais e a discussão das mesmas não era qualquer calmo debate académico, mas uma verdadeira competição de greves consequências entre homens de intensa convicção e profundo sentir. Não era significativa somente para a Galáxia, e Corinto e Jerusalém, nem para aquela época para esposar o ponto de vista defendido por Paulo, ou tivesse a controvérsia terminado na vitória do partido judaizante, toda a história do cristianismo seria diversa da que tem sido. O cristianismo seria somente uma seita do judaísmo, e como tal, seria, relativamente, uma pequena força na história do mundo, ou teria mesmo se perdido, reabsorvido na comunidade da qual surgiu. A Epístola aos Gálatas é documento de primeira mão, do coração de uma das mais significantes controvérsias na história da religião.” (Burton, no “International Critical Commentray”, sobre Gálatas, p. 1 vi).
6 a 9 – Quando é a intolerância religiosa uma virtude? Às vezes, é virtude. Quando é perversidade e pecado? Geralmente, a intolerância é pecado. Paulo nos serve de exemplo e podemos segui-lo como ele seguiu a Cristo.
Esta é a única epístola em que apóstolo não louva os leitores mas o seu escrito é tão intolerante contra o mal em que caíram que não se demora em formalidades. Lança imediatamente um repto aos judaizantes e os põe fora da comunhão evangélica pela simples medida de negar que sua mensagem seja digna do nome Evangelho.
Notai o ponto da controvérsia. Os judaizantes, para ganhar terreno entre discípulos de Paulo, dizem que o Evangelho de Paulo é deficiente que eles trazem um outro evangelho suplementar que vai além do que Paulo pregava.
Daí a indignação tempestuosa de Paulo: –
a) Essa mensagem é realmente e radicalmente outra, de natureza diferente – v. 6 “evangelho diferente”, “bem outro”.
b) Toda a mensagem fingidamente evangélica, que vá além do Evangelho de Paulo, é maldita, pois é uma maldição para quem por ele ficar decepcionado. O Evangelho de Paulo é salvação para todos os que crêem, de todas as raças e nações, na condição única de fé. Os propagandistas vêem catequizando os neófitos, dizendo: – “Paulo prega a Cristo. Sua mensagem é evangelho elementar. Mas nós temos verdade mais completa que vem de Jerusalém. Não é a fé só, mas a circuncisão também.” Assim iam “além”. E a resposta de Paulo foi: “Ainda que um anjo vos pregar do céu um evangelho além do que vos pregamos, seja anátema – Se alguém vos está pregando um evangelho além do que recebestes, seja anátema”.
Quase todos os chamados evangelhos de hoje em dia estão precisamente nesta categoria. São evangelhos de salvação por meio de fé e obras, fé e batismo, fé e a igreja, fé e sacramentos, fé e sábados, fé e batismo no Espírito Santo, fé e falar línguas, fé e tantas invencionices eclesiásticas ou filosóficas! Sejam anátema os mensageiros de tais evangelhos e seja anátema seu evangelho, diferente do Evangelho que diz: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. É aquele que pões outra condição para ser salvo que desperta a indignação de Paulo, pois avilta o cristianismo, pondo em destaque considerações materiais e ofuscando a espiritualidade da experiência da graça salvadora em Cristo.
O grande teólogo escocês, Jayme Denny, disse dessa intolerância de Paulo: “Intolerância como esta é elemento essencial na religião; é seu instinto de preservação própria. Se Deus, de fato, fez alguma coisa por Cristo da qual depende a salvação do mundo, é um solene dever cristão ser intolerante contra tudo quanto ignore, negue ou sofisme esta obra de Cristo. Nem o Velho Testamento nem o Novo conhece coisa alguma de uma religião sem este espírito de intolerância, Êx. 20:3; Atos 4:12; I João 5:12; Mateus 11:27”.
Notemos, pois, inteligentemente, a esfera dessa intolerância cristã:
1) É no terreno de doutrina, não de interesses pessoais ou partidários.
2) É no terreno religioso, não no civil. Paulo nunca invocou a arma da lei aniquilar heresias ou punir hereges.
3) É no terreno de livre discussão e de decisão pessoal. O tribunal a que o apóstolo faz seu apelo é à consciência pessoal, e à decisão voluntária por parte de cada um e da parte da igreja como congregação autónoma.
4) Trata-se de um real perigo às almas humanas, ao Evangelho ao reino de Deus e à honra de Cristo.
5) Sua intolerância é franca e pública. Não consiste em ostracismo mesquinho ou politicagem.
Esta norma de intolerância podemos e devemos imitar – não a intolerância de interesses rivais, mas sim a atitude pessoal de repulsa de erro e de defesa da verdade na sua pureza sem mescla de erro.
9 “anátema” – “Estas coisa têm sido desprezadas como especulações estéreis, mas são, na verdade, o fôlego de nossas vidas cristãs. São, verdadeiramente, o campo de batalha dos teólogos; a Igreja fulminou de anátema aquelas que defendiam a ideia de que Jesus, embora grande fosse menor do que Deus. Esses anátemas, porém, foram benéficos e justos. Tal diferença de opinião não era qualquer questiúncula: não existe um ‘quase Deus’. Tal ideia é blasfémia; um plano inferior ao infinito é infinitamente menor”. (What is Faith?” p. 116, por Machen).
9 “anátema” – “As sentenças de julgamento pronunciadas pelos apóstolos apresentam um chocante contraste com os que têm fulminado da cátedra de seus sucessores, elevados a ela por auto-eleição. Nos Cânones do Concílio de Trento, por exemplo, contamos cento e trinta e cinco anátemas. Uma grande porção destes concerne aos direitos do sacerdócio; outros a complicados pontos secundários de doutrina; alguns foram dirigidos, virtualmente, contra os ensinos de Paulo. Aqui está um exemplo: “Se alguém disser que a fé justificadora não é mais que confiança no perdão de pecados por amor de Cristo, ou que por esta fé, somente, somos justificados: seja anátema.” Ainda: “Se alguém disser que o Cânon da Missa contém erros e que, portanto, deve ser ab-rogado: seja anátema.” Na sessão de encerramento, o ato final do cardeal presidente foi pronunciar: “Sejam anátema todos os hereges;” ao que os prelados reunidos exclamaram antifonalmente: “Anátema, anátema.” Com esta impressão nos lábios, os Pais da Igreja encerraram seus pios labores. Foi a Reforma, “a liberdade dos filhos de Deus”, que Roma anatematizou. A censura de Paulo vigora contra todos os Cânones Conciliares e as Bulas Papais que lhe contra venham. Duas vezes, apenas, ele pronunciou esta grave palavra: uma sobre aqueles que “não amam o Senhor;” outra, sobre aqueles que, propositadamente, pervertem seu Evangelho. Os anátemas papais soam como as maldições de um sacerdócio irado, ciumento de suas prerrogativas; aqui temos a santa severidade de um apóstolo inspirado, preocupado unicamente com a verdade e com a honra de seu Mestre.” (The Epistle to the Galatians”, por Findlay, pp. 46, 47).
Paráfrase, 10-14 “Maldito”, é minha solene sentença. Agora, diante dessa linguagem resoluta, quem terá a coragem de me acusar de ser bajulador de homens? Eu, que livremente me fiz escravo de Jesus, procuraria outro senhor – o instável populacho, ou sanguinolento sinédrio – para lhes agradar? Não tinha eu vantagens, posição e tudo mais no judaísmo, se tais coisas pudessem me atrair? Abandonei o que vossos agitadores alegam ser o móvel de minha conduta. E o motivo foi: eu vi Jesus. Não me matriculei no estudo do Evangelho do modo como me formei, após longos anos de estudo, na escola rabínica de Gamaliel. Ninguém me educou na fé. Jesus Cristo fez passar diante de meus olhos um apocalipse de sua divina pessoa gloriosa. Meu evangelho, pois, é Jesus e nada além.
10 agradar a homens – “Isto é, por poupá-los a dolorosa operação cirúrgica de circuncisão e, em geral, por tornar-lhes fácil o Evangelho”. (Moffatt, num artigo em “The Expositor”, sobre “Paul and His Critics”).
10 favor dos homens… de Deus – O apóstolo, primeiramente, elimina a sugestão dos inimigos de que seu ministério fora egoísta. Um ministério que tem por fim agradar aos homens jamais agrada a Deus. Desde que ninguém pode ter dois senhores, aquele que busca agradar aos homens não será servo de Cristo. O apóstolo nestas palavras condena, terrivelmente, a muitos ministros do Evangelho. Gál. 1:10: I João 2:15.
10 Weymouth assim parafraseia: “Sim, digo maldito! Será linguagem de um bajulador de homens?” Conybeare e Howson atribuem grande valor à posição enfática dos advérbios de tempo: agora e ainda. “Sua resposta é que se a popularidade fosse seu alvo, Paulo teria permanecido no Sinédrio. Os advérbios de tempo salientam o contrate entre sua posição antes e depois da sua conversão. Comparai 5:11”. (Life and Letters of St. Paul, p. 525).
11 não da parte de homem algum – “A única acusação que seus críticos poderiam fazer seria mais ou menos assim: Paulo recebeu de outros (os Doze) seu evangelho precisamente como nós outros, e era seu dever ficar nisto (isto é, na corrente da tradição; Jesus, os Doze, Paulo); ele, porém, rompeu a corrente, sem justificativa, livrando-se desta dependência, própria e justa, e pregou aos gentios um afastamento da ideia de lei que é equivalente à rejeição de toda a autoridade. em repudiar a censura de seus oponentes, Paulo contesta a premissa do argumento deles: a linda da sucessão apostólica não é: “Jesus – os Doze – Paulo”, senão “Jesus – Paulo”, em seu caso, como era “Jesus – os Doze”, no caso deles. Portanto, a crítica tanto de seu evangelho como de sua autoridade cai terra”. (De um artigo de James Moffatt, em “The Expositor”, sobre “Paul and his Critics”.
11, 12 não segundo padrão humano… não da parte de homem algum – Seria difícil formular uma negação mais cabal. Analisemo-la.
O evangelho e o apostolado de Paulo não é da parte de homens. A sua origem é divina, inteiramente divina, unicamente divina, imediatamente divina, sem mescla de opiniões ou testemunho ou orientação da parte de homens.
Ademais, o evangelho e apostolado de Paulo não vieram “por algum homem”. Nenhum homem serviu de meio e instrumentalidade nas mãos de Deus para chamar a Paulo para ser apóstolo, ou para revelar a Paulo Cristo e sua verdade e vontade. Cristo apareceu a Paulo directamente, pessoalmente, e chamou-o para ser apóstolo e mais de uma vez deu-lhe revelações de sua pessoa e verdade.
Notai o alcance destas declarações.
I. Na época da controvérsia com os judaizantes, este fato fechou toda a discussão do estado dos crentes gentios, pois o Evangelho para todos os povos, sem distinção de classe ou de raça, faz parte da revelação dada por Cristo quando chamou Paulo para ser apóstolo aos gentios.
II. Na época da Reforma este fato destrói a doutrina romanista da primazia de Pedro. Ninguém pode ler Gálatas 1 e 2 e acreditar na primazia, na infalibilidade, ou no papado do falível Simão Pedro que dissimulou em Antioquia e errou na aplicação de doutrina fundamental.
III. Na era do racionalismo os críticos radiais encontraram logo este testemunho de Paulo de uma experiência de revelação sobrenatural. Eles admitem que o homem Paulo existiu e escreveu a Ep. aos Gálatas. Portanto, têm de admitir a revelação que ele afirma ter recebido do Cristo ressuscitado ou inventar uma hipótese de que Paulo ou é mentiroso ou é alucinado. Nem uma nem outra hipótese é verosímil. A única alternativa é aceitar o testemunho de Paulo acerca do Cristo ressuscitado e o Evangelho que ele revelou e confirmou. Vede a Introdução.
Jerónimo disse: – Há quatro qualidades de ministros cristãos:
1. Os que foram enviados nem da parte de homens nem tão pouco pela instrumentalidade de homens; tais foram os protestas e os apóstolos.
2. Os que são de Deus, mas pela instrumentalidade dos homens, como os sucessores de profetas e apóstolos. (Impugnamos a ideia romanista de sucessores).
3. Os que são dos homens, mas não de Deus, como sucede quando alguém é consagrado pelo favor, protecção e lisonja.
4. A quarta classe é composta daqueles que têm sua chamada nem de Deus nem dos homens, mas unicamente de si, como os falsos apóstolos de quem Paulo fala. A vocação de Paulo é imediatamente sobrenatural.
12 revelação (apocalipse) – “Um revelação da verdade, instrução concernente a coisas divinas até então desconhecidas – especialmente as relacionadas à salvação cristã – dada à alma por Deus mesmo, mormente pela operação do Espírito Santo, e assim devendo ser distinguida de outras formas de instrução”.
12 revelação – Quantas revelações de Jesus Cristo mencionou Paulo? Gál. 1:1, 16; II Cor. 12:1, 7; Efes. 3:3; I Cor. 11:23; 14:37; 15:3. Paulo resisto a revolução em Gálatas com a revelação divina. Algumas dessas revelações eram externas e objectivas; todas eram também interiores, no da sua natureza espiritual. Gál. 1:17. Nessas revelações o apóstolo recebeu todas as suas doutrinas. Isto não seria ordinariamente necessário ou natural. No caso de Paulo, porém, era indispensável à sua independência. Isto não impede que ele, como qualquer outro mortal, tivesse aumentado seus conhecimentos de fatos históricos pela conversação com testemunhas, como na visita a Pedro e em outras estadias em Jerusalém. Não é, porém, no terreno de minuciosos fatos históricos da vida de Jesus que Paulo na procura orientar. Suas doutrinas são sua mensagem: e, especialmente, sua interpretação dos fatos centrais da cruz e da ressurreição de Jesus. Pela revelação foi-lhe dada sua doutrina. À vista de Jesus face a face outorgou-lhe a grande revelação de todas as revelações históricas, demonstrando a ressurreição e a redenção. O Espírito o guiava, depois, na devida aplicação deste fato, simetricamente, aos problemas de teologia, soteriológica, escatologia e a vida ética dos crentes. Em nenhum aspecto doutrinário de sua mensagem ficou Paulo o aluno de outro homem.
12 Por uma revelação de Jesus Cristo – Revelações podem ser sonhos, verdades que são fruto de estudo, ensino ou meditação sob a inspiração divina, símbolos interpretados, vozes audíveis de seres invisíveis, etc. Uma revelação desta natureza Paulo menciona em 2:1. Mas este vocábulo tem frequentemente a reminiscência da remoção de um véu ou cortina, deixando visível o actor de um drama. Jesus deu a Paulo um apocalipse, seis décadas antes de assim visitar a João em Patmos. Perto de Damasco ele se mostrou, descortinou o palco celeste e Paulo o ouviu e aí, e somente aí, originou seu evangelho, no seu início e na sua plenitude.
12 “apocalipse” – “Paulo não converteu-se em virtude de ensinos dos recebidos dos homens; não converteu-se como o normal dos cristãos se convertem, pela pregação da verdade, ou pela revelação de Cristo na vida de seus seguidores. No caso de Paulo, Jesus mesmo fez de modo visível o que geralmente faz por meios que ele estabeleceu. Sobre a realidade da conversão, Paulo joga toda sua vida, e sobre ela baseia sua autoridade apostólica”. (“The Origin of Paul’s Religion”, por Machen, p. 66).
13 igreja de Deus – Burton assim os dois sentidos da palavra “igreja” em o Novo Testamento: “O que lhe inspirava a missão era de visão de uma igreja universal, adorando ao único Deus e Pai, e aceitando a Jesus como Senhor e Salvador – uma igreja a que acorressem homens de todas as nações e religiões, não pelo vestíbulo do judaísmo e aceitação da Lei de Moisés e dos ritos do Velho Testamento, mas directamente de onde estivessem, através da porta única de fé declarada e franca em Jesus Cristo. Seus oponentes também criam em um Deus e em Jesus como sendo o Messias, não podiam, todavia, consentir em que se entrasse na comunidade cristã a não ser pela aceitação do Judaísmo, ou que a igreja cristã não fosse mais que uma específica expressão da comunidade religiosa judaica.
“ekklesia" designa, mais comummente, uma assembleia local de cristãos, menos frequentemente o corpo de todos os cristãos no mundo. A razão da distinção entre os dois termos, e a ordem de desenvolvimento dos dois empregos de “ekklesia", são difíceis de se estabeler. Estes exemplos, embora poucos em número, indicam o que o N.T. mesmo fez muito mais claro, que pelo fim do período pré-cristão, as congregações judaicas – “Sinagogas”, por este tempo largamente desenvolvidas tanto na Dispersão quanto na Palestina (veja Bons. Rel. d. Jud. 2, pp. 197 f.) – eram universalmente conhecidas como sinagogas; e o termo “ekklesia", o termo anteriormente usado de preferência para uma assembleia ou comunidade judaica, caiu em desuso. Não existiria, talvez, qualquer explicação mais provável desta mudança de emprego, que o uso corrente de “ekklesia" no mundo grego, para designar uma assembleia civil (cf. Atos 19:39). Este fato levou os judeus, quando se expandiram através de todo aquele mundo e estabeleceram suas congregações locais, a preferir o que havia sido o termo menos usado, sinagoga.
“Por outro lado, quando, nas mesmas regiões em que estas sinagogas judaicas existiram, os cristãos estabeleceram suas próprias assembleia, achando eles mais importante distingui-las das congregações judaicas que das assembleias civis, com as quais muito mais dificilmente se confundiriam, escolheram o termo “ekklesia", que os judeus haviam abandonado.
“… O uso de termo com relação à igreja cristã surgiu primeiro em terras gentias e com referência às organizações locais; o desenvolvimento, porém, do sentido ecuménico foi mais fácil devido ao uso de qahal com referência a Israel com o povo do concerto de Deus e a representação deste termo na Septuaginta por “ekklesia". até certo ponto isto é confirmado pelo uso do termo nas cartas de Paulo. Em todas as que precedem Col., é usado preponderantemente no sentido local”. Burton em “the International Critical Commentary”, o volume sobre Gálatas, p. XII e 418, em seguida). (Discordo da primeira sentença deste parágrafo, por ser anti-histórica, mero criticismo subjectivo radical. O resto da citação tem valor erudito. W. C. T.).
Alguns pensam que Paulo perseguira a igreja universal e a isto se refere quando diz “perseguia a igreja de Deus”. Mas o contexto histórico não se coaduna com esta teoria. Desde o dia de Pentecostes a igreja universal possuía elementos genuinamente cristãos em Roma e suas províncias em três continentes (Atos 2:8-11). Paulo não efectuou uma perseguição em escala universal, antes a sua excursões inevitavelmente esporádicas a cidades vizinhas. Quando começou a alargar demais a esfera de seu ódio, Jesus o fez parar e render-se e o transformou em seu apóstolo.
Ora, temos uma declaração nítida do historiador Lucas sobre a igreja que foi perseguida por Paulo e não deixa possibilidade de dúvidas. “Naquele dia levantou-se uma grande perseguição contra a igreja em Jerusalém”, Atos 8:1. O grego é duas vezes definido: “a igreja, a em Jerusalém”, excluindo determinadamente qualquer outra igreja ou outro sentido do termo igreja. A Ep. aos Gálatas está absorta nos problemas de igrejas locais. E é somente neste sentido que o termo se usa nesta epístola.
Algum comentador faz objecção de que Paulo não teria dito “a igreja de Deus” se a referência fosse à igreja local. Pasma ver tanto preconceito e cobiça de ares católicos entre alguns evangélicos! E não chamou Paulo a Igreja de Corinto “a igreja de Deus” (I Cot. 1:1)? E não escreveu “a igreja de Deus”, I Cor. 10:32; 11:16? Seu uso reverente da frase era constantemente concernente a (chamada) “igreja local” (I Cor. 11:22; I Cor.1:1; I Tess. 2:14; II Tess. 1:4, I Tim. 3:5; e Atos 20:28). A objecção é tão frívola como fútil.
14 tradições de meus pais – “Paulo está pensando de seu pai, como em Gál. 1:15 pensa de sua mãe, e é quase impossível fugir à conjectura de que ele usa as palavras: que me separou, em Gál. 1:15, e separado, em Rom. 1:1, como jogo de palavras sobre o nome dos fariseus – nome de que em tempo anterior fora ele portador orgulhoso, que agora, porém, podia ele empregar em sentido todo diverso”. (por T. Zanh, “Introduction to the New Testament”, in loco).
14 ardentemente zeloso – Nada havia em Paulo de morosa preparação psicológica para a conversão. Ele era perseguidor sincero, adepto adiantado do judaísmo, zeloso das tradições farisaicas. A noção de que ele estava prestes a modificar sua atitudes, e ia meditando nisto em caminho para Damasco, é uma ideia racionalista, sem base bíblica. Ele afrima aqui (vs. 13-14) precisamente o contrário. Sua conversão foi instantânea. Num momento, todo o seu ser estava concentrado em exterminar o culto de Jesus. Em outro, ele ouviu Jesus falar, aceitou o fato da morte e ressurreição do seu Messias, e se fez seu mensageiro aos povos.
William Jenning Bryan uma vez replicou a uns psicólogos descrentes que ridicularizavam a possibilidade de conversões instantâneas: “vós reconheceis que num acesso de ira um homem pode matar seu semelhante; num rasgo de patriotismo pode se tornar um herói e salvar a pátria; num momento de miséria pode suicidar-se; num aperto de fome pode roubar; num surto de paixão pode arruinar a felicidade doméstica alheia e manchar a consciência para sempre. Mas não sabeis que num momento de arrependimento a alma pode nascer de novo.”
Paráfrase, 15-24. Deus é o Autor de minha personalidade, de todos os meus dotes naturais e sobrenaturais. Ele me predestinou, preparou, separou e encaminhou para meu apostolado. E, na hora por ele escolhida, deu-me esta revelação de Jesus, objetiva na estrada para Damasco, subjetiva na minha experiência de sua graça. A revelação foi a chamada. E não desobedeci à visão celeste. A ninguém consultei. Sendo apóstolo e conhecendo a Jesus face a face, não tive de me apresentar perante meus pares, do apostolado limitado da circuncisão. Fui ao Sinai. Meditei a Lei e o Evangelho. O Espírito me comoveu, me acalmou e me iluminou e inspirou. Voltei em tempo e me pus a evangelizar. Afora uma quinzena na casa de Pedro, em amigável visita em Jerusalém, eu nenhum contacto tive com os Doze, nem com as primitivas igrejas da Palestina, nem com aquela que eu persegui – se bem que vi ligeiramente seu líder Tiago – nem com as muitas outras que daquela originaram, quando minha perseguição cruel a espalhara. Estou falando com absoluta veracidade quando vos afirmo que por dezassete anos preguei este mesmíssimo Evangelho sem que sua mensagem variasse que o Cristo glorificado me dera. E isto se tornou notório na cristandade inteira, a qual, mesmo lá nas igrejas da Palestina, glorificou a Deus porque a mesma fé que eu procurava exterminar, agora estou anunciando pela autoridade de Jesus Cristo e como o único Evangelho. Perguntai a esses emissários de Jesus. Testemunho que lá mesmo ouviram este apoio e regozijo geral na minha missão e mensagem.
1:15 em diante: A harmonia de Carroll é assim: - Leia-se Atos 9:17-19, então Gál. 1:15-17, depois Atos 9:20-25, e Gál. 1:18; em seguida, Atos 9:26-27 e Gál. 1:18-20 e, de novo, Atos 9:28-29 (menos a última cláusula); então leia-se Atos 22:17-21 e Atos 9: 29 (última Cláusula) até verso 31, e Gál. 1:21-24. Carroll, seguindo Lighfoot, supõe que Paulo aqui não menciona a visita de caridade por não vir ao caso do que estava discutindo isto é, sua relação com os Doze, os quais estavam fora de Jerusalém durante a fome de Atos 11:30. A terceira visita de Lucas (Atos 15) é identificada com a segunda da Ep. aos Gálatas (Cap. 2).
Notai que propósito de Lucas é bem diferente de Paulo, sem ser contrário. Lucas história a atividade dos apóstolos e sua unidade de vistas, muito tempo depois de estar morta esta controvérsia judaizante. Paulo, no meio da controvérsia, salienta sua independência dos apóstolos de Jerusalém.
15 Paulo “nasceu e nasceu de novo, para ser o apóstolo aos gentios, dotado pela natureza pela regeneração, para sua alta vocação”. (Bruce em “St. Paul’s Conception of Christianity”, p. 42).
15 comprazeu-se – Paulo creu na soberania de Deus na conversão do pecador: “Mas quando aprouve a Deus”. A conversão é um ato divino primeiro, e depois uma experiência humana. A providência de Deus tinha preparado Paulo na sua vida e, no tempo predeterminado, chamou-o pela sua graça, “Saulo, Saulo, por que me persegues?”, e com aquela irresistível voz na alma o maior inimigo de Jesus logo cedeu e reconheceu, em Jesus, seu Jeová (Senhor).
15 “Aquele que me separara e designara para a carreira apostólica” é tradução de uma só palavra, particípio de um verbo que indica “marcar confins”, separando de certas esferas e limitando a outra. O contexto esclarece a referência do verbo no sentido de que a carreira designada, como os limites dentro dos quais a vida do apóstolo haveria de correr, seria o apostolado. Subentendida esta referência do contexto, o resto da tradução procede legitimamente do verbo como explicado. A doutrina é a conhecida verdade da predestinação. Vidas santas e operosas correm na senda do propósito eterno de Deus.
15 “graça” – Os gálatas foram chamados por Deus “na graça do Cristo”, v. 6; Paulo “mediante a graça de Deus”. Notai como a graça, e a chamada eficaz para a salvação que é estendida na esfera da graça e por meio da graça, procedem igualmente do Pai e do Filho. A graça, a chamada eficaz e a salvação eram comuns a Paulo e aos crentes gálatas.
16 Revelar seu filho em mim”. Intérpretes liberais e radicais procuram opor esta sentença ao fato da revelação objetiva na qual Jesus se descortinou na sua glória celeste sem perder sua identidade terrestre. Persistem em dizer que a revelação, sendo “em mim”, era apenas subjetiva, e que qualquer um recebe revelação congénere quando crê.
Sobre esta ideia se pode dizer: (1) que, se Paulo apenas tratava de uma experiência comum a ele e aos demais crentes, não havia motivo para tanta exaltação; (2) em mim pode ser traduzido, ou significar: em meu caso; e revelar reter seu pleno valor objetivo – Lighfoot assim interpreta a frase; (3) outrossim, o verbo pode muito bem indicar a revelação total em todos os seus aspectos objetivos e subjetivos. Um fenómeno meramente objetivo não é uma revelação. Os judeus acharam que a fala do Pai a Jesus era trovão. Tribos africanas que fogem apavoradas para a floresta quando pela primeira vez um avião desce na sua vizinhança não recebem qualquer revelação de sua natureza. Os que acompanhavam a Paulo presenciaram os fenómenos que resultaram na conversão dele; nada, porém, entenderam. O aparecimento objetivo de Jesus na glória tinha de ser percebido subjetiva, íntima e intelectualmente, “em” Paulo, para servir de revelação e operar sua conversão. Nada perdeu de sua realidade como fenómeno objetivo quando foi subjectivamente percebido em Paulo e espiritualmente oprerou sua regeneração.
16 Evangelho – “Desde o princípio, o Evangelho cristão, como de fato o nome “Evangelho”ou “boas-novas” implica, consistia no relato de algo acontecido. E, desde o princípio, o significado do acontecido era exposto, resultando daí a doutrina cristã. “Cristo morreu” – isto é a história; “Cristo morreu por nossos pecados” – é a doutrina. Sem esses dois elementos, ligados em união indissolúvel, não há cristianismo. A narração dos fatos é a história; a narração dos fatos com seu significado é a doutrina. “Sofreu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado” – é a história. Ele me amou e deu-se por mim” – é a doutrina. Tal era o cristianismo de igreja primitiva”. (“Christianity and Liberalusm”, por Machen, p. 27 e 29).
16, 17 “Possivelmente existe também um contraste implícito em Gál. 1:16, 17, entre a conferência com os primeiros apóstolos, e a comunhão direta com Cristo; provavelmente Paulo quer dizer: Ao invés de conferenciar com a carne e o sangue em Jerusalém, comunguei com o Senhor na Arábia.” (“The Origin of Paul’s Religion”, p. 74).
16 A mais simples defunção do Evangelho temos aqui – “o pregasse sempre”. É o mesmo que Filipe anunciou incontinente ao estadista etíope: “principiando por esta Escritura, anunciou-lhe a Jesus”. O Evangelho não se isola da Escritura, I Cor. 15:3, 4; porém, na base da historicidade e exegese das Escrituras, proclama ricas boas-novas, as quais significam precisamente o valor da pessoa e obra redentora de Jesus Cristo crucificado e ressuscitado.
16 revelar seu Filho em mim – Paulo recorre a sua experiência cristã para provar seu evangelho. Ele era testemunha do Cristo ressuscitado e suas provas do Evangelho eram sempre a narração do que tinha experimentado.
A experiência de Paulo é única entre todas as conversões na história cristã, com talvez a excreção de Tiago, que provavelmente foi convertido também pela vista do Senhor ressuscitado, I Cor. 15:7. Nós outros fomos convertidos pelo testemunho alheio, pela leitura da revelação dada a outros. Paulo foi convertido pelo Senhor Jesus, que na sua glória excelsa pessoalmente evangelizou e capturou seu grande inimigo e o fez seu principal mensageiro, I Cor. 15:10.
Devido a esta experiência sobrenatural, única, objetiva e real, na qual ele viu e ouviu a Jesus Paulo estava em posição de ser apóstolo, testemunha da ressurreição; e seu testemunho é prova cabal do poder de Cristo na vida, e da verdade do Evangelho da graça.
16 em mim – A experiência, mesmo de Paulo, era no íntimo. A vista que lhe foi concedida do Senhor Jesus foi objetiva, exterior, fenómeno natural, embora a causa fosse sobrenatural. A experiência, porém, produzida por este fato era íntima. “Aprouve a Deus revelar seu Filho em mim”.
Esta combinação dos fenómenos iscos que demonstraram a ressurreição e identificaram o Crucificado com o Senhor da Glória, com a percepção e fé nos mesmos, constituiu tanto a experiência como a revelação dada a Paulo. São as credenciais do seu apostolado, do seu evangelho e do próprio cristianismo.
15 separara… para a carreira apostólica – Há dois externos a evitar em nosso pensamento a respeito de Paulo e sua contribuição ao cristianismo. Os seus contemporâneos ultra-nacionalistas julgavam que ele nada sabia de Cristo e do cristianismo, portanto o consideravam fato desprezível em interpretar a revelação dada em Jesus.
Os racionalistas pensam que Paulo foi o primeiro cristão e o verdadeiro autor do cristianismo.
A Epístola aos Gálatas é a resposta cabal a ambos os erros. Paulo prova que seu evangelho e ministério são genuínos, autorizados pelo próprio Cristo em pessoa. Ao mesmo tempo, ele insiste na identidade do seu evangelho e na igualdade do seu apostolado com a mensagem e posição dos doze apóstolos. E o resto dos primeiros dois capítulos é dedicado a provar esta independência e igualdade, conservando ao mesmo tempo o ato de haver um só Evangelho.
Paulo historia sua carreira para provar que ele não foi discípulo dos outros apóstolos.
a) Foi convertido fora de Jerusalém, longe dos Doze. Não consultou a nenhum líder cristão.
b) Passou seus dias de neófito na Arábia, sendo Deus seu único Mestre, e a meditação sua única escola.
c) Voltou para Damasco e evangelizou, já certo da sua mensagem.
d) Só foi a Jerusalém depois de três anos, e mesmo assim de visita a Pedro, visita de quinze dias. Um apóstolo visita a um colega não vendo qualquer outro, senão a Tiago, o irmão de Jesus.
e) Então passou longos anos na Síria e na Cilícia em evangelização. As igrejas da Judeia ouviram dos resultados e glorificaram a Deus pelo ministério de Paulo.
f) Depois de quotize anos, foi a Jerusalém com Tito, em obediência a uma revelação divina, não para consultar a quem quer que fosse.
g) O caso de Tito, mesmo em Jerusalém, demonstrou a aceitação da mensagem e doutrina de Paulo, por Tito foi aceito ali na comunhão cristã sem se circuncidar.
h) Paulo explicou seu evangelho, na ocasião, aos principais cristãos daquela primitiva igreja. Nada lhe acrescentaram. Pelo contrário, deram-lhe a mão de parceira, e reconhecem como a esfera e campo de seu apostolado o mundo gentio.
i) A prova cabal é quando Pedro e Barnabé, influenciados por admiradores do austero Tiago – admiradores estes que foram além dos princípios de seu venerável pastor – erraram em doutrina e prática, Paulo, longe de se sentir inferior ou subordinado a eles, repreendeu-os e corrigiu-os publicamente, e salvou na sua pureza o Evangelho que a covardia ou a moleza deles teria comprometido.
Esta é a cadeia de provas de sua independência dos Doze. Cristo foi o Mestre de Paulo, não Pedro, Tiago e João. Damasco foi o berço espiritual de Paulo, não Jerusalém. Paulo estudou a teologia cristã na Arábia, não em Jerusalém, Paulo visitou como colega, não como discípulo. Paulo discutiu o Evangelho com os demais líderes, como sócio na evangelização mundial, não como enviado deles. Paulo corrigiu as imperfeições deles na aplicação dos princípios evangélicos. Paulo demonstrou em Jerusalém a autenticidade do seu evangelho e pelo notório caso de Tito venceu toda a oposição.
Logo é apóstolo e órgão de revelação divina, e os emissários que percorrem Galáxia pregando um evangelho além do dele são anátema, são falsos irmãos.
Esta é a marcha do argumento no resto do Capítulo 1 e o Cap. 2.
16 o prego como Evangelho – Notai bem. Pregar o Evangelho não é argumentar, defender e impor um sistema de pensamento ou acção. É proclamar alegre e convincentemente uma pessoa, e esta pessoa é Jesus. “Filipe abriu a boca, e… anunciou-lhe a Jesus.” Nada menos, e nada mais é pregar o Evangelho. O Evangelho é uma pessoa; a fé salvadora, portanto, é uma transacção pessoal entre o pecador penitente e o Salvador, uma aproximação de nosso espírito contrito diretamente ao Salvador. E são boas novas o podemos, sem medianeiros mortais, chegar a Jesus e ser salvos. O prezado leitor entende o Evangelho? É o assunto que mais convém e urge entender.
17 Arábia – “Ele agora é impelido pelo Espírito, como Cristo fora impelido, para o deserto; e o rabi que se sentara aos pés de Gamaliel, sentado agora aos pés de Cristo, se torna o grande mestre da Igreja, interpretando o Cristianismo no sentido de ser uma religião universal”. (R. M. Elder, “The Concise Bible Dictionary”, p. 87).
17 Arábias – incontinenti para a Arábia – As opiniões mais desencontradas existem sobre esta viagem de Paulo à Arábia. “Fui-me embora para dentro da Arábia” – é o que Paulo realmente escreveu. Parece uma viagem considerável. Não sou dogmático em pensar que ele foi ao Sinai. Peso a seguinte objeção de Frederico Rendall, no “Expositor’s Greek Testament”, in loco: “Se fora concedida a Paulo comunhão com Deus no monte Sinai, o toponímico teria valor demais, como argumento em favor de sua divina comissão, para que fosse omitido aqui. Além disto, a península sinaítica era remota de Damasco; a jornada era sempre perigosa para viajantes sem escolta, e no ano 37 (a data mais provável para a conversão de Paulo) era quase impossível por causa da guerra entre o Rei Aretas e os romanos”.
Sobre isto eu diria, em resposta: (1) A comunhão com Deus alegada por Paulo, seja onde for, não teria valor apologético, pois não poderia ser provada pelas “duas ou três testemunhas” exigidas em toda a Escritura e pelo bom senso. (2) Paulo não ostenta comunhão desta na II Cor. 12:4. (3) Viajar não era tão difícil. Paulo sempre soube chegar ao seu destino e não lhe falavam os recursos necessários. (4) Notando, na Introdução, os esquemas cronológicos, o leitor verá que o ano 37 não é muito provável para a data da conversão, logo seus eventos não influiram, pois é quase certo que Paulo se converteu antes desse tempo. Teodoro Zahn deu muito estudo à cronologia de Aretas e afirma que Paulo não se podia ter convertido, depois do ano 36. É bem provável que sua conversão se desse três ou quatro anos antes desta data. (“Intriduction” vol III, p. 455). (5) Quanto à distancia, Elias foi para lá em quarenta dias. Paulo teve três anos para a ida e volta. Damasco não é muito mais longe do Sinai do que Carmelo. (6) Quanto às dificuldades, desaparecem quase por completo quando nos lembramos de que Paulo fabricava tendas, como oficio, e seria bem-vindo entre aquelas tribos do deserto por causa de sua arte.
Naturalmente, não insistimos em que Paulo esteve no Sinai apenas por motivos sentimentais. Há sólidas razoes. (1) Arábia é por ele mesmo identificada com Sinai, na alegoria de 4:21-25. (2) O nome dado a Sinai pelos árabes é Agar (4:25) e isto Paulo chegaria a saber lá na vizinhança e não em outra parte. (3) fosse ao pé do Sinai ou mais longe, Paulo sem dúvida contemplava o Sinai na sua meditação, viu que o Calvário sobrepuja e eclipsa o Sinai e fez este desaparecer com seus relâmpagos e ameaças (Heb. 12:18-22). Seriam mais vivas estas meditações na vizinhança. (Crisóstomo e outros alegavam que Paulo evangelizava no deserto; isto não é, porém, declarado nem é provável.)
Lightfoot, pois, num estudo especial sobre o assunto, parece ter razão em dizer: “Assim no deserto do Sinai, como no monte da transfiguração, se encontram três dispensações como se fossem um só. Aqui Moisés recebera as tábuas da Lei no meio de fogo, temporal e espesso negrume. Aqui, de novo, Elias, profeta típico, escutara a voz de Deus e partiu, refrigerado, para sua missão de justiça. E finalmente, aqui, na plenitude dos tempos, São Paulo, o maior pregador daquela de quem a Lei e os profetas falaram, ficou fortificado e santificado para a sua grande obra, foi instruído tanto na largura como no cumprimento da sabedoria de Deus, e foi transformado de campeão de uma tradição intolerante e estreita para ser o apóstolo, de grande coração, aos gentios”. (Comentário de Lightfoot sobre Gálatas, p. 89).
17 “Arábia” – “A importância da Arábia no argumento de Paulo é devida tão somente ao fato de que a Arábia não é Jerusalém; Paulo menciona a viagem à Arábia meramente em contraste com uma jornada a Jerusalém, que ele exclui em interesse de seus argumentos. O único motivo que, parece, exigirá uma prolongada demora na Arábia é a narrativa da primeira visita de Paulo a Jerusalém, Atos 9:26-30; a desconfiança que cristãos de Jerusalém revelaram contra Paulo é claramente explicável se após sua conversão estivesse ele vivendo em regiões mais remotas de Jerusalém do que Damasco o é.
“O detalhe referente aos três anos era grandemente valioso à argumentação de Paulo em Gálatas, onde mostra que por um considerável período posterior à sua conversão, não se encontrara com aqueles de quem diziam ter ele recebido seu evangelho.” (“The Origino f Paul’s Religion”, Machen, p 73.)
18 conhecer a Cefas – “Para explorar a São Pedro, a fim de descobrir como se disporia a tratar o ex-perseguidor que agora se virara em campeão”. (F. J. A. Hort, em “Judaistic Christianity” p. 56). Este verbo era usado de viagens de turistas para ver as maravilhas do mundo. Certamente, porém, Paulo não foi a Jerusalém somente para mirar a Pedro como o viajante mira a esfinge ou o Taj Mahal! Seu motivo era cristão. E Findlay (em o “Expositon’s Bible”, in loco) diz: “Para que esta visita? Foi para dar relatório às autoridades da Igreja e colocar-se sob a sua direção? Para procurar a instrução de Pedro, a fim de obter um conhecimento mais seguro do Evangelho que abraçara? Nada disso. Nem mesmo para fazer perguntas a Cefas, como alguns vertem este verbo, segundo uma velha praxe clássica – “ganhar informação” dele; foi, porém, para “conhecer a Cefas”. Saulo foi a Jerusalém com o coração cheio da certeza de sua alta vocação, procurando, como de igual para igual, conhecer pessoalmente o líder dos Doze”.
18 conhecer a Cefas face a face e – A linguagem em si magnifica o apóstolo Pedro. A Bíblia, porém, parece prever (“a Escritura previu” 3:8) o uso sectário e interesseiro que o clero Roma faria do nome de Pedro. Portanto, cada vez que Pedro é louvado por suas genuínas virtudes, no contexto há um antídoto para o romanismo, uma declaração que demonstra a falibilidade e fraqueza do apóstolo explorado pelo clero. Logo depois de Cristo dizer o “Tu és Petrus”, que os lábios clericais pronunciam com tanta avidez, disse o mesmo Cristo ao mesmo apóstolo: “Satanás, tu és para mim uma pedra de tropeço, porque não cuidas das coisas de Deus”, etc. na ocasião em que Pedro teve o exaltado privilégio de estar presente à transfiguração, proferiu uma asneira sobre a construção de três tabernáculos e somos informados por que: “não sabia o que havia de dizer”, (Marcos 9:5). É Marcos, “interprete” de Pedro, que nos informa disto. É eco do próprio apóstolo, na sua madureza, quando se chamava apenas “co-presbítero” e queria que todos magnificassem a Cristo e não ao servo de Cristo. Depois de Jesus proferir as palavras: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados”, vem em poucos dias a pergunta humilhante, três vezes repetida, “Tu me amas?”
Outrossim, imediatamente depois de lhe dizer “Pastoreia as minhas ovelhas”, Jesus lhe prediz sua morte ignominiosa e o repreende pela disposição sempre buliçosa, dizendo: “Que tens tu com isso? Segue-me tu”. Quando usa as chaves do reino para abrir de par em par a porta de bênção aos gentios, Lucas relata que ele estava tão obstinado em seu preconceito que se opôs três vezes ao próprio Deus e recusou obedecer-lhe na santa visão. E ele tem de defender-se, na Igreja de Jerusalém, defesa que temos no extenso capítulo 11 de Atos.
Na mesma narrativa deste carta em que se historia que Paulo visitou a Pedro em Jerusalém, como para conhecer uma maravilha e, em outra ocasião, o chamou à parte em importante palestra, como sendo uma das “colunas”, eis que no mesmo contexto há a narrativa da hipocrisia de Pedro, seu abuso de sua grande influencia para levar outros a pecar, e a censura publica que mereceu da parte do apóstolo aos gentios.
Deus era soberano para usar Pedro como queria. E nós serenamente magnificaremos a obra e as Escrituras de Pedro, em pleno acordo com o propósito divino. O clero não nos afastará da verdade para um extremismo que despreze o grande apóstolo. “A Escritura previu”, todavia, o erro romanista, e para um texto que magnifica a Pedro, existe um contexto que revela sua falibilidade e imperfeição. Jesus quis usar a generosa personalidade do enérgico pescador, mas a Escritura, cada vez que historia a liderança de Pedro, usa de um forte caveat contra séculos medievais para não supor que o mais instável de todos os apóstolos fosse infalível.
18 Cefas – Conybeare e Howson observam: “Cefas, não Pedro, é a lição dos melhores MSS através desta epístola, como nas epístolas enviadas a Corinto, exceto numa passagem, Gál. 2:7, 8. São Pedro era conhecido, ordinariamente, até este período pela forma siro-caldaica do seu nome (o nome aliás conferido por nosso Senhor), e não pelo equivalente grego. É admirável que ele mesmo, nas suas epístola, usasse a forma grega, talvez como distintivo do seu antagonismo contra judaizantes que instintivamente se apegariam à forma hebraica”. (Life and Letter of St. Paul, p. 526).
19 … “Certamente, é muito mais provável que a verdadeira razão para Paulo ver apenas a Pedro e Tiago, dentre os líderes, é que os outros estivessem fora da cidade em trabalhos missionários na Judéia. A presença deles nas igrejas da Judeia explicaria a menção daquelas igrejas em Gál. 1:22. Paulo está indicando a parcimónia de seu contacto direto com os primitivos apóstolos. As igrejas da Judéia se tornariam importantes em seus argumentos se constituíssem em cenário dos labores apostólicos.
“Paulo nada diz do ocorrido durante os quinze dias de suas relações com Pedro. É, porém, altamente improvável, como Holston mesmo indica, que ele os passasse fitando silenciosamente a Pedro, como se este fosse uma das belas cenas da cidade.” (“The Origino f Paul’s Religion”, por Machen, p. 76).
19 o irmão do Senhor – Temos aqui uma declaração que identifica o principal bispo da igreja de Jerusalém, como Tiago, “o irmão do Senhor”. O artigo grego salienta o substantivo – “o bem conhecido, o notável irmão do Senhor”.
Em vão o romanismo procurou torcer esta linguagem. Seu significado é natural, claro, insofismável. Tiago era irmão de Jesus, filho da mesma mãe.
Esta passagem concorda com Mat. 13:15. Aí é a multidão de Nazaré que fala, todos conhecedores da família do Carpinteiro. Do mesmo modo que afirmam que Maria é a mãe de Jesus, afirmam que Tiago, José Simão e Judas são seus irmãos e que suas irmãs são conhecidas. Um fato é tão certo quanto o outro. Da mesma fonte de que sabemos ser Maria a mãe de Jesus, sabemos também ser Tiago seu irmão – da Bíblia, e dos vizinhos de Jesus em Nazaré, pelos seus testemunhos preservado na Bíblia.
Convém lembrar que nossa Bíblia foi escrita por um povo, e para um povo, que não praticou o celibato nem exaltou a virgindade, antes considerou o casamento sem filhos maldição divina e a maior desgraça. A Bíblia é um livro judaico, não um documento europeu e medível, e portanto só pode ser entendida pelos que ponham longe de si todas as ideias de superior santidade de celibato e antes reconheçam a glória, a pureza, e a santa nobreza do lar, da maternidade e da família. Paulo chama Tiago “o irmão do Senhor”, usando o nome divino de Jesus. Nenhuma ofensa há ao Deus encarnado ter irmãos carnais. Aliás, Paulo fala “dos irmãos do Senhor” na primeira Epístola aos Coríntios (9:5).
A Maria da Bíblia, virgem-mãe de nosso Senhor, virtuosa esposa de José, foi a santa mãe de Tiago, José, Simão, Judas e algumas filhas, modelo de todas virtudes femininas, entre elas a maternidade e a direção de um lar piedoso. Esta Maria é a mulher que Deus agraciou e o anjo saudou e as primitivas igrejas honraram e todos hão de chamar bem-aventurada. E é figura mais digna e real, no santuário do seu humilde lar, instruindo seus filhos nos mistérios de Deus, do que a fictícia rainha do céu, adorada em altares semi-pagãos, com falso fogo e o incenso de superstição, nos faustos templos de Roma.
É o dever supremo da atualidade libertar as moças desta geração dos falsos ideias de convento, que arruínam a vida de suas vítimas, e roubam a sociedade, empobrecem o lar e o Estado, e negam ao próprio Jesus e às suas verdadeiras igrejas vidas que poderiam ser bem úteis. Maria é protagonista do lar, não de conventos; da santidade da família, não do celibato; de serviço à igreja na comunhão de seus membros, não do isolamento no claustro.
20 Evidente neste histórico é a absoluta ausência do papado no cristianismo apostólico. Paulo é salvo, chamado ao apostolado, firma suas convicções doutrinárias, começa a pregar, é enviado ao mundo gentio, e funda o cristianismo na Galáxia e outras vastas províncias sem ser consagrado por Pedro ou qualquer outro dos Doze, sem consultá-los, sem receber deles doutrina ou autoridade alguma, sem a mínima dependência deles no sentido mais remoto. Ou isto é a verdade ou Paulo é mentiroso e perjuro. Ele, porém, solenemete declara: “Eis que perante Deus afirmo que não minto.”
Não somente era sua carreira, do princípio até o fim, independente de Pedro, dos demais apóstolos e do primeiro bispo de Jerusalém, o notável irmão do próprio Jesus, mas serviu em diversas ocasiões para corrigir o erro na doutrina e prática deles e de seus partidários e intérpretes.
21 Síria e Cilícia – O fruto desta atividade é visto em Atos 15:41. Paulo e Silas, na segunda viagem missionária do apóstolo que partiu de Antioquia, iam “fortalecendo as igrejas” em “Síria e Cilícia”. Paulo e Barnabé não alcançaram estas províncias na primeira viagem. Como podia Paulo ir “fortalecendo igrejas” na referida zona? Claramente, ele já organizara igrejas ali no seu ministério primitivo, antes de Barnabé levá-lo a Antioquia. Agora, na segunda missão, ele confirma tanto sua atividade quando trabalhava a sós como a obra que acabara de efetuar com Barnabé. Vemos as igrejas largamente espalhadas, em tempo bem primitivos na história cristã. É a norma apostólica universal e perpétua.
22 às igrejas – Esta informação da Epístola aos Gálatas sobre organização congregacional do cristianismo apostólico é importante.
A. Não existia nenhuma organização provincial. Há muitas igrejas, não uma “igreja da Gálatas”, não “a Igreja” da Galáxia.
B. Paulo nos revela que a pluralidade de igrejas na própria Judéia principiou muito cedo. Era ele “desconhecido às igrejas da Judéia que estavam em Cristo”. Portanto quando voltou de Damasco a Jerusalém já existiam “igrejas da Judéia”, organizadas nos três anos de sua ausência. Era natural que por longos anos houvesse somente a grande congregação de milhares dos cristãos em Jerusalém, reunindo-se no templo. Depois da perseguição de Paulo, porém, os membros ficaram espalhados e se arraigaram logo em novos centros onde fundaram igrejas. Já havia diversas nesta ocasião quando Paulo visitou a Judéia. Ele perseguira uma igreja (v.13), a Igreja de Jerusalém, Atos 8:1,3. Quando voltou, á Judéia encontrou cheia de igrejas. Sua perseguição estimulara, pela providência de Deus, a multiplicação das igrejas congregacionais na província.
C. Cada qual é autónoma e directamente unida com Cristo. Não havia clero ou organização centralizada a que as igrejas se fundissem, sendo unidas com Cristo, Não. Todas as igrejas estão em Cristo.
D. Esta sentença confirma a cardeal doutrina de que os membros de uma igreja tem de ser regenerados antes de se batizar e fazer parte de uma igreja. Como pode uma igreja estar em Cristo, e os membros que a compõem estarem fora de Cristo?
Nenhum igreja é bíblica se os membros não estiverem em vital união com Cristo por uma fé viva e santificadora. Se os membros estão em Cristo, a igreja que compõem está em Cristo. E quanta dignidade e privilégio há em que uma assembléia de pecadores, salvos pela graça, esteja “em Cristo”. Enaltece as igrejas, e aumenta a responsabilidade de se manterem puras e santas.
22 As igrejas…em Cristo – Duas verdades se manifestam incidentalmente aqui. Uma é a pluralidade de igrejas autónomas, na ordem apostólica da vida cristã. Por longo tempo só havia uma igreja na terra. Paulo, na providência de Deus, perseguiu aquela. Essa providência logo multiplicou-a em muitas igrejas, do mesmo género, da mesma fé e ordem. Se alguém quer agora fundir as muitas igrejas em uma só, está procurando fazer os ponteiros do relógio divino voltar para traz vinte séculos.
Outra verdade gémea é a ênfase sobre a fé regeneradora, antes do batismo e antes de o batizando ser, em qualquer sentido, membro de uma igreja, (comungante ou não-comungante). Esta ênfase dá-nos o ideal de igrejas compostas únicamente dos regenerados. Deus nos fala segundo a norma de nosso ideal – dando a Simão o nome de Pedro, a nós outros o título de santos e às igrejas o emblema de seu sublime idealismo – as igrejas que estavam em Cristo. União de todos os membros com a cabeça os constitui vitalmente um corpo – corpo de Cristo. Mera união dos membros, porém, sem estarem em Cristo, dá-nos um cadáver eclesiástico, cheio de corrupção contagiosa, mortífera e repugnante.
23 prega a fé – A fé em Cristo é a atitude que traz a salvação, é o aspecto saliente na religião cristã. Portanto, “a fé” quase se tornou sinonimo do cristianismo, como “o Caminho”, igualmente, se fez um nome popular do mesmo movimento, segundo historia Lucas, nos Atos. Não temos aqui seu uso, em sentido posteriormente popularizado, para significar a soma das doutrinas cristãs. Mas a fé – uma parte, – por uma figura bem comum, ficou sendo o nome do todo. “Pregar a Cristo” é “pregar a fé”, que é nossa atitude eficaz em receber a Cristo. E ambas as frases explicam o que significa “evangelizar”, pregar o Evangelho.
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