domingo, 3 de janeiro de 2010

A CRIPTOMNÉSIA - Talento do Inconsciente um gênio desconhecido -NÃO SÓ A ALMA PENSA, MAS TAMBÉM O CORPO






PESSOAS QUE "TOCAM" O PENSAMENTO

Cumberlandismo é um sistema de "adivinhação" curiosíssimo. O nome provém de Stuart Cumberland, talvez o primeiro que o descobriu, estudou e praticou em exibições públicas de Ilusionismo. É sabido que nem tudo o que se exibe em Ilusionismo é truque. O cumberlandismo é uma das exibições espetaculares que não precisa ser trucada.

O charlatão Uri Geller num truque de cumberlandismo: Enquanto segura a mão
do "transmissor" desenha uma cadeira parecida à que "em segredo" fora desenhada e escondida num envelope.

Eis um caso típico: trata-se, de encontrar um relógio que foi escondido no bolso do casaco do terceiro espectador da fileira oito. O ilusionista estava ausente, de costas ou com os olhos vendados cuidadosamente, quando se escondia o relógio. O ilusionista pega a mão de uma testemunha qualquer, preferentemente uma moça (e melhor ainda, uma criança). "Concentre seu pensamento na direção que devo tomar para encontrar o relógio"... O artista anda sobre as pontas dos pés, e sempre tocando uma mão da testemunha balança suavemente o corpo. De repente, e precisamente ao chegar à fileira oito, pára. Pede uma vez mais à testemunha que concentre bem seu pensamento na direção a tomar. Sem hesitação entra pela fileira oito. Ao passar por diante do espectador número três, pára de novo, como atingido por uma rápida inspiração. Com a mão da testemunha sempre segura passeia a sua outra mão sobre as vestes do espectador. Reclama continuamente a concentração do pensamento no lugar onde se acha o relógio. Por fim, ante a estupefação do público, o artista pega o relógio e o mostra.

Pessoalmente, tenho realizado muitas vezes experiências públicas semelhantes, como demonstração prática, quando falo deste fenômeno.

A prova baseia-se nos movimentos involuntários e inconscientes, mínimos, correspondentes ao pensamento da testemunha cuja mão o ilusionista mantém segura.
Claro está que em muitos casos não pode ser excluída a participação de outros sinais, como fonéticos, epiteliais, etc., inconscientemente emitidos, e inconscientemente percebidos, mas influindo na conduta do ilusionismo: Eu, alguma vez, tenho errado em algum pequeno detalhe por interpretar mal os pensamentos da "colaboradora", e outras vezes tenho acertado por ser guiado inconscientemente pelo público quando a "colaboradora" estava errada.

O mais curioso é a admiração da própria colaboradora inconsciente, que até jurará não ter ela indicado nada.

EXPERIÊNCIAS DE CUMBERLANDISMO - Entre 1910 e 1920, o professor Gilbert Murray, da Universidade de Oxford, e Presidente da S. P. R. (Sociedade de Pesquisas Parapsicológicas) de 1915 até 1917, fez em sua casa experiências de cumberlandismo, no começo pensando erradamente tratar-se de telepatia (extra-sensorial).

Qualquer dos membros da família, geralmente sua filha, Sra. Toynbee, escrevia num papel alguma coisa escolhida livremente. Fazia-se entrar então o Dr. Murray que tinha permanecido ausente. O doutor toma pela mão a pessoa que devia pensar no que se habia escrito, e outra testemunha anotava palavra por palavra as declarações do doutor. Por exemplo:

A Sra. Toynbee escreveu e pensava: "Início de um trecho de Dostoiwsky, no qual o cachorro de um pobre homem morre num restaurante".

Chamado o Dr. Murray, pegou a mão da Sra. Toynbee, e disse: "Parece-me que é uma coisa tirada de um livro. Diria que se trata de um livro russo. Um homem muito pobre. Parece-me que se trata algo relacionado com um cachorro. Um cachorro muito infeliz. De repente me ocorre que é dentro de um restaurante e que as pessoas brigam, depois regressam a suas casas e se esforçam por serem bons, Não estou seguro... Tenho a impressão de que é alguma coisa assim como Gorki (por Dostoiewsky). Tenho a impressão de que é alguma coisa da Rússia".

No total das experiências, 505, houve 60% de acertos. Não precisamos aqui da telepatia, que poderia ter dado resultado a quilômetros de distância. Além dos sinais completamente cumberlandísticos, podem-se admitir alguns outros sinais, auditivos ou de outra espécie, inconscientemente emitidos. Esta possibilidade da explicação por cumberlandismo, ou mais em geral por hiperestesia de diversos sinais, posteriormente já foi vislumbrada pelo próprio Dr. Murray, assim como pelo Dr. Verrall que assistiu também às experiências.

Anos mais tarde, em 1931, o mesmo Dr. Murray fez experiências semelhantes com o Sr. e a Sra. Salter. Os resultados também desta vez confirmam a capacidade de adivinhação por meio do cumberlandismo com maior ou menor reforço de outros tipos de hiperestesia, como de novo o mesmo Dr. Murray teve que admitir a título de dúvida, embora ele com escassos conhecimentos das possibilidades da hiperestesia, preferisse, erradamente, inclinar-se pela telepatia (extra-sensorial).

NA RÚSSIA - O Dr. Naum Kotik fez experiências com a menina Sophia Starker.
Sophia ficava com os olhos rigorosamente fechados, as orelhas obturadas com algodão. O pai ficava de costas. Nestas condições qualquer um dos assistentes escrevia alguma coisa no papel que apresentava ao pai. O pai pegava então, sem volver-se, a mão da menina e esta freqüentemente adivinhava, mais ou menos completamente, o que se escrevera.

Não queiramos pensar, como pensou o Dr. Kotik, em telepatia, entre razões pelo fato de que as experiências levadas a efeito pelo próprio Dr. Kotik, com o mesmo objetivo, estando pai e filha em quartos separados, não tiveram êxito nem com os olhos e ouvidos da menina livres. Se fosse telepatia e não simples cumberlandismo, o fenômeno ter-se-ia realizado igualmente à distância. Trata-se pois unicamente de transmissões de sinais inconscientes captados hiperestéssicamente.

EXPERIÊNCIAS ESPECIAIS - Outras experiências de laboratório, que pela engenhosidade ou novidade do método devem ser citadas, são as do Dr. Abramowski em Varsóvia.

Inumeras vezes, em aula, após um crime fingido pelos alunos, localizei a "vítima", o "assassino" e o "punhal".

Cumberlandismo. Tem truque.
Pensava ele que se tratava de telepatia, o que achamos errado, dadas as circunstâncias das experiências. Excluindo o cumberlandismo ou condições aptas para a hiperestesia, as experiências fracassaram.

"Dizia-se ao sujeito um certo número de palavras, três ou cinco, segundo as experiências. Eu escolhia uma dessas palavras como objeto da atividade telepática (?). Eu escolhia dentre elas a que eu pensaria intensamente. O sujeito deveria dizer qual era a palavra escolhida por mim".

"Noutras experiências apresentava ao sujeito vinte palavras que ele lia uma só vez em voz alta. Após a leitura escrevia ele as palavras que tinha lido e retido na memória, esforçando-se mesmo para lembrar. Dentre as palavras esquecidas eu escolhia uma como objeto da transmissão".

Nas experiências, Abramowski segurava a mão do sujeito. Com a mesma técnica realizou transmissões cumberlandísticas de desenhos ou de movimentos dos dedos.

Sobre 324 experiências obteve êxito em 156, quase 50%. Inexplicável pelo simples acaso.
Nem é preciso sempre que o operador faça esforço ou se tenha exercitado em captar os sinais inconscientes. Podem-se também captar inconscientemente, o que nos interessa especialmente do ponto de vista do cumberlandismo.

O operador pode inclusive executar ações inconsciente e automaticamente. Diversos tipos de experiências têm-se feito. Talvez uma das mais fáceis de repetir seja a de fazer que uma pessoa, boa sensitiva, completamente distraída, falando de outras coisas que a absorvem, faça alguma ação que por cumberlandismo se lhe sugira. O sujeito da experimentação, tendo operado como um autômato, não saberá dizer, ao ser perguntado, nada do que realizou. Hipnotizado (ou por outras técnicas), porém, às vezes lembrará tudo o que se lhe fez realizar inconscientemente.

Embora na 2ª série destes artigos, ao tratar dos fenômenos paranormais, falaremos da adivinhação do pensamento inconsciente, devemos aqui aludir a um tipo especial de cumberlandismo. Em quase todos os fenômenos parapsicológicos de conhecimento encontramos o que poderíamos chamar "mecanismo indireto", ou "em L", ou "a três", ou "por procuração": o adivinho capta no consulente o que o próprio consulente sabe, de ordinário só inconscientemente, à respeito de outra pessoa, ou de um objeto diferente do que se quer transmitir, mas com ele relaciopnado.

Osip Feldman, por exemplo, chegou a tal perfeição no cumberlandismo consciente, que podia, inclusive em experiências públicas de Ilusionismo (sem truque), captar o pensamento de um espectador através de várias pessoas ignorantes do que se deveria adivinhar. Todas essas pessoas estavam unidas pelas mãos.

Experiências deste tipo de cumberlandismo "em L" não são excessivamente raras entre os profissionais do palco. Deveriam, porém, ser mais repetidas em laboratório. A explicação é a seguinte: as pessoas interpostas captam só inconscientemente as idéias do pensante (inconscientemente todos somos hiperestésicos) e transmitem os sinais inconscientemente captados. Osip Feldman, no fim da "corrente", os interpreta e os faz conscientes. Feldman tem muita fama no mundo dos ilusionistas.

Outro tipo de cumberlandismo "em L" ou "a três", é experimentado pelo Dr. Émile Boirac, com destaque entre outros pesquisadores.

Uma histérica "lia", segurando uma mão de Boirac, um livro sobre o qual Boirac passava as pontas dos dedos.

Hiperestesia direta (visão para-ótica, DOP - "dermo-optical perception") em Boirac e a histérica interpretava o que captava em Boirac por cumberlandismo sobre o pensamento inconsciente. A adivinhação do pensamento inconsciente excitado por outros tipos de hiperestesia direta tem sido amplamente comprovada, como veremos na 2ª série.

DIGRESSÕES PRÁTICAS - O cumberlandismo, como se vê, pode dar preciosas indicações aos médiuns espíritas (e superstições análogas), na hiper-sensibilidade do transe. A corrente ou cadeia que os espectadores formam em algumas sessões, pode ser o veículo pelo qual o interessado está manifestando ao inconsciente do médium (ou outro tipo d adivinho) as idéias a comunicar.

Muitas revelações, das feitas por um hipnotizado, por exemplo, podem explicar-se perfeitamente por cumberlandismo (extranormal, sensorial), sem necessidade de recorrer a conhecimento paranormal (extrasensorial). Um dos primeiros passos que se costuma dar, para desenvolver a "lucidez" nos hipnotizados, é precisamente puro cumberlandismo. O hipnotizado, para diagnosticar uma doença, por exemplo, põe as mãos sobre a fronte do consulente ou, pegando entre as suas uma mão do paciente percorre lentamente os membros com possibilidade de estarem doentes.

Por cumberlandismo pode um adivinho fazer observações sobre o estado fisiológico, caráter, tendências, passado clínico imediato... e inclusive futuro iminente, isto é, aquele cujas causas já estão agindo no organismo.

Pelas causas antes indicadas, os manuais de hipnose previnem o hipnólogo principiante a não se fiar muito daquilo que o hipnotizado revele sobre a outra pessoa com a qual está em contato. Freqüentemente não dirá mais do que aquilo que esta mesma pessoa pensa de si própria, talvez erradamente.









Uri Geller pretende "dominar" a HIP (Nem ele mesmo evita rir de tão cômica pretensão)

LEITURA SENSORIAL DO PENSAMENTO - Mais do que o cumberlandismo, adivinhação por contato, de que falamos no artigo anterior, Interessa-nos especialmente a adivinhação sem contato.

Pode-se, a certa distância, captar a linguagem fisiológica mínima (os reflexos externos da idéia) de modo que se possa, indiretamente, como que "ver" o pensamento de outra pessoa?
É possível. Até mesmo para apresentações no palco. Seria isso um "cumberlandismo sem contato". E pode-se chegar a extremos maravilhosos, como o ilusionista Marion, por exemplo.

Marion encontrava os objetos escondidos pelos espectadores mesmo quando a testemunha que inconscientemente o dirigia se escondia dentro de uma caixa, só aparecendo os pés.

Marion observava nestes casos as mínimas modificações inconscientes na marcha do espectador que se tinha prestado à experiência.

O Dr. Samuel Soal (um dos melhores experimentadores da moderna Parapsicologia) estudou detidamente as provas realizadas por Marion. Soal chegou à conclusão de que, não obstante as maravilhosas provas, Marion não possuía sentidos mais desenvolvidos que o comum das pessoas (o que confirma mais uma vez que todos somos hiperestésicos no inconsciente), mas que ele tinha aperfeiçoado sua capacidade de observar com o que descobria sinais que pareceriam imperceptíveis, normalmente. Mas esses sinais que até conscientemente se podem perceber com muito exercício de observação, o inconsciente já os tinha percebido antes.

Quantas adivinhações tidas como telepatias, como comunicações do além, etc. não são mais do que o subir ao consciente esses sinais inconscientemente captados!
Já Binet chamava a atenção sobre essa possibilidade e aduzia muitos casos confirmativos.
Fizeram-se famosas as experiências do Dr. Laurent.

Repetindo as do Dr. Pickmann, o Dr. Laurent "pode executar, à distância de quatro metros mais ou menos, as ordens dadas mentalmente por certas pessoas, ordens muito simples, evidentemente, tais como a escolha de um objeto sobre a mesa".

Este tipo de experiência tornou-se clássico entre os hipnotizadores. O divulgador Paul Clément Jagot, por exemplo, ensina o modo de treinar os sujeitos para chegarem a realizar estas experiências, inclusive fora da hipnose, em vigília.

Isto não é telepatia, mas o que chamamos HIP = Hiperestesia Indireta do Pensamento. O "transmissor", ao procurar transmitir ao receptor o que deve realizar, não pode evitar que seu pensamento se reflita em sinais inconscientes. Estes, e não diretamente a ordem mental, são os captados.

O próprio Dr. Laurent acrescenta:
"Bem analisando o fenômeno em mim mesmo, tenho constatado que se tratava de hiperacusia (hiperestesia auditiva) em mim, ou percepção de ordens como que pronunciadas inconscientemente: à direita, à esquerda, sim, não".

Esta hiperestesia dos sinais dados inconscientemente pelo "transmissor" exagera-se às vezes, tanto quanto vimos se exagerava em certos hipnotizados.

O Dr. Grasset transcreve a carta que lhe escreveu o Pe. D'Aix:
"Encontro sempre com a maior facilidade o objeto que me escondem. Com os olhos vendados, sem ver (...) Dirige-me por detrás de mim o Sr. M. (...), concentrando-se fortemente no pensamento que me quer fazer executar (...) Sinto, positivamente sinto, uma pressão sobre as costas, na parte direita superior quando me quer fazer dar a volta (...) É uma pressão doce, algo de sopro e de ímã, que se exerce, não diretamente sobre meu cérebro, mas sobre minhas costas (...) Eu estou sempre a menos de dois metros dele".

Na mesma carta o Pe. D'Aix descreve mais claramente "o exagero", a ampliação automática do mínimo estímulo, quando acrescenta:
"As vezes, quando o senhor M... quer que eu me incline, sinto na cintura um peso extraordinário (...), dir-se-ia que suporto um peso de 50 quilos".

CONDENADO POR HIPERESTÉSICO - Um caso interessantíssimo é o de Ludwig Kahn:
Havia sido condenado pelo tribunal de Karlsrube, acusado de atribuir-se dolosamente um Dom de "lucidez". Ludwicg Kahn para reabilitar-se, recorreu ao Dr. Schottelius pedindo que o submetesse a quantas provas e as mais rigorosas que quisesse para comprovar a veracidade do seu Dom de "leitor do pensamento".

Schottelius colocou Kahn no vestíbulo e ele próprio fechou-se no seu gabinete. Escreveu diferentes frases em três papéis. Depois os dobrou "em oito" e apertou um dos papéis na mão direita bem fechada, outro papel na esquerda e o terceiro deixou-o bem à vista diante de si sobre a mesa.

Mandou então que trouxesse Kahn. E este, a metro e meio do professor, levantou os olhos ao teto e logo disse as frases que estavam escritas nos papéis.

Outras experiências semelhantes foram realizadas pelo Dr. Schottelius, assim como já antes as tinham realizado outros doutores eminentes chegando, como ele, à conclusão de que o fenômeno de "visão sem a ajuda dos olhos corporais" (em frase de Schottelius) é incontestável... Algumas vezes!

Além dos médicos, também os parapsicólogos observaram Kahn em condições rigorosas de experimentação. Depois de umas experiências de orientação, de sondagem, que começaram em Paris em 1925 no Instituto Metapsíquico Internacional (IMI), prestigiadíssimo até hoje, realizaram experiências tanto mais rigorosas quanto mais assombrosos pareciam aos investigadores os êxitos de Kahn. Mas ao fim tiveram que reconhecer "que estamos perante um fenômeno limpo e irrefutável", segundo a expressão do diretor do Instituto, um dos melhores parapsicólogos da história, Dr. Eugêne Osty.

Mas as experiências do Instituto Metapsíquico Internacional terminaram de chofre porque de novo em 1931, um tribunal de Paris condenou Kahn como falsário. O tribunal não podia admitir tal capacidade humana de conhecimento...

Não queremos dizer com isto que Kahn nunca fraudasse. Quem nunca frauda não é psíquico. Não é sensitivo quem domina seu inconsciente até tal ponto que não se veja impelido a fraudar, ao menos inconscientemente, quando o fenômeno que se espera não sai autêntico. O que afirmamos é que muitas das experiências realizadas por ele foram muito bem conduzidas para evitar toda a fraude. O fenômeno em muitas ocasiões é incontestável para qualquer pessoa que conheça as experiências realizadas.

Em todas essas experiências e outras que se poderiam citar, trata-se evidentemente de percepção hiperestésica dos sinais inconscientes emitidos pelo pensante: diríamos cumberlandismo, mas sem contato. Algumas pessoas facilmente podem pensar que se trate de telepatia, como pensara Schottelius e muitos que observaram Kahn, sem refletirem, entre outros vários detalhes, em que era necessária a presença do experimentador que tinha escrito a frase ou feito o desenho. Com a ausência dele, nada sucedia. O fenômeno era, pois, sensorial; era o que chamamos Hiperestesia Indireta do Pensamento (HIP).

CRIANÇAS PRODIGIOSAS - Os casos que vamos citar talvez não sejam mais importantes que outros. Mas os casos que citamos têm a vantagem de terem sido muito bem investigados. Aliás, por tratar-se de crianças ingênuas, atrasadas mentais, prestam-se menos a uma explicação por fraude...

Muito conhecida se fez a menina Ilga K. de Trapene (Letônia). De pais sadios teve um desenvolvimento físico normal, mas intelectualmente ficou muito retardada. Aos oito anos tinha o linguajar de uma criança de dois. Nunca conseguiu aprender a ler nem calcular. Não passou do conhecimento isolado das letras e dos algarismos. Pois bem, aos 9 anos, apesar de ser incapaz de calcular e de ler, Ilga "lia" qualquer parágrafo em qualquer língua, inclusive latim, e resolvia problemas matemáticos, contanto que a mãe estivesse em sua presença, lendo mentalmente o mesmo parágrafo, ou pensasse na solução do problema. Numa ocasião, em vez de 42 Ilga disse 12, mas se perguntou à mãe e comprovou-se que a mãe tinha confundido o número 4 com o 1, pela maneira como estava escrito.

A menina não "lia" o papel mas apenas sentia o que a mãe lia. Um médico do lugar, o radiologista Dr. Kleinberger, comprovou o caso e avisou ao Dr. Neureiter, professor de Medicina Legal na Universidade de Riga. Ilga foi examinada também por especialistas como os Drs. Rochacker e Menshing (de Bonn), Dubicshff (de Berlim), etc.

Segundo as atas das experiências, alguma vez se realizaram estas estando a mãe e a filha separadas por uma porta fechada. Mesmo com a porta fechada, é possível a hiperestesia em bons sensitivos. A porta fechada não pode impedir que, pelos interstícios, cheguem ao sensitivo certos sinais como os sons emitidos pelas cordas vocais, o movimento do ar, os reflexos de luz, etc.

Após as experiências de Neureiter e a publicação do seu livro a respeito, foi nomeada pelo Ministério de Instrução Pública uma primeira comissão sob a presidência do Dr. Dale, diretor do Laboratório de Psicologia Experimental da Universidade de Riga, comissão que incluía psiquiatras, psicólogos, físicos, especialistas em Fonética, em Pedagogia para surdos-mudos, etc.

Além disso, a menina ficou durante 11 meses sob a observação de uma especialista em Psicologia e Pedagogia. Os resultados das investigações da comissão foram publicados pelo Dr. Hans Bender do laboratório de Parapsicologia da Universidade de Friburgo.

A conclusão da comissão parece-nos acertadíssima: "não se trata de telepatia, a não ser de maneira episódica". Trata-se de Hiperestesia Indireta do Pensamento, especialmente de natureza auditiva: Ilga percebia os "cochichos involuntários" da mãe, para expressar-me pelos mesmos termos dos investigadores; "cochichos" que passavam imperceptíveis às testemunhas, por não serem sensitivas.

Por ser hiperestesia preferentemente auditiva, se explica que pudesse captar o que lia ou pensava a mãe, apesar de esta estar detrás de um cortina ou detrás de uma porta, mas não percebia nada se a mãe ficava dentro do estrito isolamento da sala de transmissão da emissora radiofônica de Riga, apesar de que Ilga via a mãe através dos vidros. Nesta ocasião, a menina (retardada mental) gritou à mãe: "não ouço nada!".

"Os lábios da mulher... moviam-se simultaneamente com as expressões da menina", mas ninguém, exceto a sensitiva Ilga, podia ouvir nada absolutamente, além de que às vezes, como expressamente se diz nas atas, a menina dizia a palavra antes de que os lábios da mãe se mexessem. A comissão, aliás, fez que durante algumas experiências se gravassem em discos os sons ao mesmo tempo em que máquinas cinematográficas iam filmando todos os movimentos, comprovando desta maneira que nem sempre houve movimento dos lábios da mãe, antes nem ao tempo da menina dizer o que a mãe pensava. Nestas ocasiões, como comprovou uma Segunda Comissão de especialistas lituanos, o "cochicho" da mãe era interno, nas cordas vocais e demais "órgãos motrizes da linguagem" internos.
Uma outra anotação interessa-nos nesse caso. É que, como já noutra ocasião temos indicado, os sensitivos o são porque podem manifestar no consciente o que todos captamos só inconscientemente. Referindo-nos ao caso concreto da menina Ilga, a sua audição consciente era absolutamente normal, como demonstraram vários testes auditivos.

As Academias de Medicina de Paris e Angers estudaram o caso de Ludovico, caso idêntico ao de Ilga. Muitas revistas de Medicina e Psicologia, dentro e fora da França, ocuparam-se do caso. O Dr. Fargues publicou um relatório interessantíssimo a esse respeito.

Esta qualidade, porém, punha Ludovico em circunst6ancias difíceis para a vida. Quando sua mãe procurou ensiná-lo a ler, compreendeu que era impossível. "Adivinhando", o menino não exercitava nem o juízo nem a memória. Alarmada a família teve de separar Ludovico da mãe para que pudesse receber uma educação normal. Na ausência da mãe o menino deixou de destacar-se como "adivinho".

Se fosse telepatia, como afirma a maioria sem profundos conhecimentos de Parapsicologia, o fenômeno se produziria exatamente igual na ausência da mãe, pois no conceito de telepatia se inclui que o fenômeno prescinde da distância. É a hiperestesia a que requer, evidentemente, a presença do "transmissor". Aliás, a telepatia não se pode provocar à vontade, menos ainda com a pasmosa regularidade com que Ludovico captava as idéias da mãe.

Também se fez muito famosos o menino Bo, de onze anos, retardado mental. A mãe, precisamente pelo pouco proveito que o menino tirava na escola, dava-lhe aulas em casa. E descobriu que Bo dizia espontaneamente para ela palavras, números, coisas que ela só tinha pensado. Bo, que era incapaz de desenhar um quadro ou de repetir uma das frases que no teste de Binet se marcam para menores de cinco anos, era capaz, porém, de resolver qualquer problema, dar qualquer resposta, por difícil que ela fosse, se a solução era conhecida pela mãe.

O Dr. Drake, do Wesleyan College, de Georgia, estudou o caso e fez experiências com o menino. Mais uma vez, não se tratava de telepatia, como pensou o Dr. Drake. A telepatia, extra-sensorial, não precisa da presença do agente. Dizem expressamente as atas:
"Era capaz de dar respostas maravilhosas sempre que estas estivessem na mente da mãe, mas não podia fazer absolutamente nada se ela o deixava sozinho" ou "o menino não pode ler se alguém não está sentado perto dele olhando o livro. Então lê bem, mas, se o deixam sozinho não pode".

Captam-se, pois, sinais sensoriais. É um caso de Hiperestesia Indireta do Pensamento, HIP.

Acerta, pois, plenamente quem foi meu professor, Fernando Maria Palmés, S.J., quando, referindo-se precisamente ao caso do menino Ludovico, escreve: "Os fatos aduzidos se diferenciam do Cumberlandismo propriamente tal, em que (...) falta o contato muscular. As impressões correspondentes aos fenômenos mentais transmitidos, seriam sinais acústicos ou visuais. Pode-se também recorrer à percepção tátil das distintas emissões de ar produzidas inconscientemente pelos órgãos fonéticos do transmissor (...) Tudo isto parece a explicação mais lógica nos casos em que o receptor está a curta distância do transmissor".

A regularidade com que o menino Ludovico, ou Bo, ou Ilga captavam o pensamento da mãe e a quase absoluta ausência de adivinhações com respeito a outras pessoas, explica-se muito bem por poucas noções que se tenham de Reflexologia. Os meninos, por afetividade, ou treino natural, tinham-se condicionado aos sinais reflexos característicos dentro da individualidade da mãe. Ora, o inconsciente tem, ou pode alcançar, uma grande delicadeza para diferenciar os diversos estímulos. Pavlov conseguiu condicionar uns cachorros para um "sinal condicionado" de 250 vibrações. Os sons imediatamente superiores e inferiores, não constituíam sinal para os reflexos condicionados, apesar de parecerem ao nosso consciente absolutamente indiferenciáveis.

A assombrosa capacidade de diferenciação de estímulos ou sinais condicionados de que o inconsciente é capaz é, por si mesma, uma grande hiperestesia, como já mostramos nos dois artigos anteriores.

Outros sensitivos, porém, não se condicionam tão especificamente às características individuais, mas apenas captam os sinais comuns de toda a espécie humana ou de quase todos os homens, não só os de uma única pessoa. Os cachorros de Pavlov, em geral eram condicionados mediante luzes ou qualquer som de apito ou de campainha sem que distinguissem os diversos matizes do som ou voltagem da luz.

O MECANISMO DE CAPTAÇÃO DE SINAIS - Sabe-se que há certas emissões de sinais correspondentes aos atos. Desenho com o qual o Dr. Calligois (professor de neurologia
em Universidade de Roma) explica a HIP: "falamos" com todo o corpo e o inconsciente das pessoas presentes "entende".

internos, embora seja difícil determinar em cada caso quantos e de que tipo são os reflexos fisiológicos externos, os sinais emitidos.

Sabe-se também que o homem capta esses mínimos sinais ou reflexos fisiológicos externos correspondentes ao pensamento de outra pessoa presente, pois o homem é hiperestésico ao menos no inconsciente.

A HIP é a captação e interpretação, geralmente inconsciente, desses sinais. Nos sensitivos essa interpretação passa ao consciente sem que, geralmente, saiba donde veio essa adivinhação, pelo que freqüentemente o fenômeno foi interpretado supersticiosamente.
O Dr. Calligaris, professor de Neurologia na Universidade de Roma, em numerosas passagens de um dos seus livros, afirma, após numerosas experiências, que o "reflexo fisiológico das idéias passa às pessoas presentes como por ressonância ou consonância". A idéia, sentimento, etc., não só tem repercussão fisiológica em determinadas e mínimas "áreas" ou "campos" cutâneos dessa mesma pessoa, senão que a mesma repercussão experimentam por ressonância as "áreas" ou "campos" correspondentes das pessoas presentes.

Com certas técnicas pode-se aumentar essa repercussão fisiológica.

Essa ressonância ou repercussão seria em definitivo o que nós chamamos hiperestesia, percepção inconsciente dos sinais. Uma hiperestesia cutânea, acrescentando-se à hiperestesia visual, auditiva... Por muitos caminhos o reflexo fisiológico do pensamento de outra pessoa passa a nós ou às pessoas presentes.

E como tais reflexos se identificam com o pensamento, como pensamento e reflexo são apenas dois aspectos diferentes de um só fenômeno, compreender-se-á que, se inconscientemente são reproduzidos em nós esses reflexos fisiológicos de outra pessoa, também teremos captado inconscientemente o pensamento.
Se com técnicas especiais, ou pelo treino espontâneo ou provocado, ou em circunstâncias especiais esta ressonância é aumentada em certas pessoas, compreender-se-á que, nessas pessoas, o que só era adivinhação inconsciente possa fazer-se consciente. Nos sensitivos este exagero, esta passagem do inconsciente ao consciente, é mais freqüente ou até quase regular.

Animais que respondem de "forma inteligente".

Vimos no artigo anterior: "Expressão inconsciente do pensamento", o 2º desta série, que todo ato psíquico tem a sua expressão característica em sinais externos, embora mínimos. E vimos no artigo Nº 1 que certas pessoas manifestam assombrosa hiperestesia, capaz de captar, inclusive como que aumentados, mínimos estímulos. Parece que todos, inconscientemente ao menos, seríamos hiperestésicos. Todos inconscientemente poderíamos perceber o reflexo fisiológico dos pensamentos de outra pessoa...

Cartaz do "Porco Inteligente"em 1888.

Dessas bases surge uma conclusão lógica: captando por hiperestesia os reflexos fisiológicos do pensamento de outra pessoa, pode-se captar, indiretamente, o mesmo pensamento por secreto que seja, contanto que o pensante esteja em presença do "adivinho", ou pelo menos não à excessiva distância. Desta maneira não precisaremos recorrer ao paranormal, ao extra-sensorial, para explicar tais adivinhações.
Em 1908, Ernest Naville lançava a idéia: "Creio que todo fenômeno psíquico tem seu correspondente fisiológico, e admito (...) que um sábio ideal conhecedor de toda a psicologia e toda a fisiologia (...) poderia ler como num livro aberto os fatos psíquicos produzidos num indivíduo". Este "sábio automático" seria o inconsciente.
Além da conclusão lógica, é necessário comprovar experimentalmente se por hiperestesia indireta se pode captar o pensamento humano. Falamos aqui preferentemente do pensamento mais ou menos consciente.

ANIMAIS QUE RESPONDEM "INTELIGENTEMENTE" - O comportamento extraordinário de certos animais chamou muito a atenção dos cientistas no começo do século passado.
Em 1892 um velho oficial alemão, aposentado, Wilhelm von Ostem, adquiriu um cavalo chamado "Hans", ao qual ensinou a "fazer" diversas operações aritméticas por meio de quilhas e depois de números. Adições, subtrações e até extração de raízes quadradas foram feitas. A pergunta fazia-se verbalmente; o cavalo respondia batendo com o pé no chão um número determinado de vezes, segundo fosse o resultado do problema.
Mais ainda: perguntando sobre algum problema simples da vida ordinária, o cavalo batia no chão tantas vezes quantas fossem os números do lugar que ocupava no alfabeto cada uma das letras necessárias para escrever a resposta.
Ostem, excêntrico, considerado por muitos como autêntico maníaco, não conseguia chamar a atenção do mundo científico sobre seu "inteligente" cavalo. Desesperado, anunciou num jornal as fabulosas qualidades de Hans, prometendo aos compradores umas demonstrações gratuitas das qualidades do animal. Foi assim que o major Eugen Zobel, escritor, profundo conhecedor de hipologia, começou a publicar artigos sobre o "talento" do cavalo Hans. A partir do então, o nº 10 da Rua Griebenow, em Berlim, viu-se assediado continuamente por curiosos, e também por sábios que queriam investigar o prodígio.
Em 1904, no mês de setembro, uma primeira comissão científica composta de professores de Psicologia, Fisiologia, Zoologia, Veterinária e especialistas em Equitação e Adestramento de Animais, estudou detidamente o caso, com o concurso também de oficiais de cavalaria, assim como do diretor do Jardim Zoológico e do diretor do Circo Busth. A comissão só chegou à conclusão de que o caso devia ser tomado muito a sério e que se deveria investigar cientificamente e devagar pois talvez se chegasse a conclusões que revolucionariam os postulados até então admitidos sobre o comportamento animal.
Um mês mais tarde, em outubro, nova comissão científica, nomeada pelo Ministério de Educação, estudava o cavalo Hans, já conhecido em todo o mundo como "der kluge Hans" (o João inteligente).
A comissão científica, presidida pelo Dr. C. Stumpf, diretor do Instituto de Psicologia da Universidade de Berlim, declarou, depois de metódicos estudos, que o fenômeno era devido simplesmente à percepção hiperestésica por parte do cavalo, de movimentos inconscientes realizados por seu dono ou os assistentes, movimentos não percebidos pelo homem. O cavalo Hans batia no chão ininterruptamente tão logo percebia que lhe faziam uma pergunta, até que algum espectador lhe fizesse o sinal de deter-se, sinal, repetimos, mínimo e inconsciente.
Já antes em 1903, Albert Moll, presidente da Sociedade de Psicologia de Berlim, chegara à mesma conclusão. Agora, porém, Pfungst, que com Hornbosten era assistente do Dr. Stumpf, demonstrava experimentalmente os movimentos que ninguém enxergava e que todos negavam produzir. Pfungst imaginou e construiu um aparelho de amplificação de movimentos muito engenhoso. Amplificados, os movimentos ficavam registrados sobre um cilindro. Sem ouvir ele próprio a pergunta, o professor percebia o momento exato em que o cavalo deveria parar de golpear.
Vimos no artigo anterior que a linguagem fisiológica, os sinais inconscientes correspondentes às idéias, são automáticos, inevitáveis. Assim não será de estranhar que, tanto o cavalo como o professor Pfungst com seu aparelho, respondessem inclusive as perguntas que não eram formuladas verbalmente, mas só pensadas. A idéia implica sinais inconscientes externos que, captados ou ampliados pelo aparelho, eram percebidos pelo prof. Pfungst ou pelo cavalo Hans. E guiavam-se por esses sinais. O cavalo, com os olhos vendados, não dava a resposta exata: batia com o pé até cansar-se.
Ruiu o mistério: von Ostem morria , abatido e desiludido, em 1909.

OS CAVALOS DE ELBERFELD - Os cavalos, porém, que verdadeiramente revolucionaram o mundo científico, foram os famosíssimos cavalos de Elberfeld. O Dr. Claparède, da Universidade de Genebra, qualificou o surpreendente fato como "o mais sensacional acontecimento jamais surgido na Psicologia".
"Munito" o "Cachorro Inteligente". Afirmavam
que sabia geografia, botânica e história natural.
O rico industrial Karl Krall, que em 1906 recebeu de presente o cavalo Hans, decidiu ensinar a outros cavalos as mesmas operações que realizara Hans, mas em condições mais espetaculares. Empregou muito tempo, dinheiro e engenho. Conseguiu no fim que quatro cavalos parecessem inteligentes. Eram dois cavalos árabes, Muhamet e Zarif; um pônei, Hanschen e um velho cavalo cego, chamado Barto.
A literatura e as polêmicas que surgiram por causa destes cavalos, mormente após o livro publicado pelo seu proprietário, é enorme. Os mais famosos sábios da época foram a Elberfeld para estudar a "inteligência" dos cavalos. Muitos sábios e comissões científicas chegaram a defender essa inteligência nos cavalos, ou, ao menos, a telepatia. Já então se usava esse nome hoje reservado pelos especialistas em Parapsicologia para a adivinhação extrasensorial, espiritual.
Experiências conduzidas com o mais severo controle científico concluíram, é verdade, pela existência da fraude em algumas ocasiões, quando, por exemplo, um cuidador dos animais se ocultava dos investigadores, ficando, porém, visível ou perto dos cavalos. Charles Richet protestou contra toda suposição de fraude inconsciente ou consciente, baseando-se, como argumento principal, em que a resposta às vezes se dava em poucos segundos. O melhor calculador não poderia encontrar tão rapidamente a raiz quadrada de 456.776 ou a raiz cúbica de 15.376 como os cavalos fizeram em certas ocasiões diante do Dr. Claparède. Ora, esta objeção de Richet, seria mais um argumento em prol da fraude: não vamos supor mais inteligência nos cavalos do que no homem...

O CÁLCULO DAS RAÍZES - Calculavam os cavalos, superando em rapidez aos sábios? Há métodos especiais para extrair as mais complicadas raízes, métodos que desafiam os melhores matemáticos e superam inclusive as máquinas calculadoras. Métodos especiais, reservados aos "iniciados" (os mágicos), mas sem truque.
O Dr. Maeterlinck ficou surpreendidíssimo ao comprovar que uma vez em que o cavalo Muhamet não respondeu, era porque o número que lhe propunha não tinha raiz quadrada exata. Ora, isto mesmo sucede aos "iniciados", que só podem extrair, pelos seus métodos, raízes dos números que a têm exata. Dos demais, só por aproximação, ou com métodos mais complicados e menos rápidos sem que por isso deixem de ser espetaculares.
Devemos notar que a atividade aritmética é na realidade bastante simples, alheia à inteligência posto que pode ser realizada por máquinas. Mas não quer dizer que os animais sejam capazes de extrair raízes quadradas! Queremos dizer que não seria difícil ao rico senhor Krall encontrar alguma pessoa que conhecesse este mecanismo simples, que é guardado com desvelo pelos ilusionistas, pelos "iniciados".
O método pode ser praticado inclusive por pessoas pouco inteligentes.
Fleury, cego, degenerado, quase idiota, era capaz de calcular num minuto (um minuto e quinze segundos exatamente) o número de segundos que há em trinta e nove anos, três meses e doze horas, sem esquecer os anos bissextos. Igualmente era capaz de extrair raízes quadradas de cor.
Ele descobriu instintivamente, inconscientemente, o método simplificado dos "iniciados".
Com talento e um pouco de sorte, o método pode ser descoberto inclusive conscientemente. R. Quinton, filósofo, como conseqüência de uma acalorada discussão a propósito dos cavalos de Elberfeld, descobriu este método simplificado a que aludimos. E, em 1912, extraía ele mesmo, de cor, em dois segundos, as raízes de números de muitíssimos algarismos diante dos membros da Faculdade de Filosofia de Paris. Os sábios filósofos acreditavam que se tratava de um calculador prodigioso, mas o mesmo Quinton explicou que se tratava simplesmente de um método, muito simples, e que sozinho chegara a descobrir com base no que conhecia dos cavalos.
Que o método não é muito difícil de aprender, se compreenderá sabendo que para minhas demonstrações quando atuava como mágico, e para algumas palestras públicas sobre este tema foi sempre um menino a quem ensinei a extrair raízes cúbicas e quintas de números até dez bilhões e que o menino as extrai de cor e com tal rapidez que nem tempo dá a que escrevam os números que lhe ditam. No Brasil e Argentina apresentei os irmãos Paulo César e Gerson Sperb Scherer, de 12 e 11 anos (em 1961), de São Leopoldo (RS).

OUTRAS DIFICULDADES - Ora, deu-se que um destes cavalos realizou, certa vez, seus "cálculos" e deu as respostas na ausência de todos, sendo só observado por uma pequena janela. Como admitir aqui a explicação por sinais inconscientes dados pelos espectadores?
"O Cavalo que fala", acusado
de consórcio com o Diabo!! Na
França do século XVII.
O caso não oferece dificuldade insolúvel. Estamos precisamente falando da percepção hiperestésica de sinais. Aqueles animais eram muito sensíveis. Captar os sinais através de uma pequena janela não é aumentar excessivamente a dificuldade, posto que os sinais inconscientes se difundem por todo o corpo e cada uma das suas partes. Fica pelos menos todo o rosto do observador para transmitir o sinal visual. Para sinais auditivos, por exemplo, a dificuldade é ainda menor. E há outros tipos de "emissões"...
E o cavalo Muhamet que foi observado pelo Dr. Maeterlinck em grande escuridão? Se a escuridão não era o bastante para impedir as observações de Maeterlinck, menos impediria as observações do cavalo. E não se trata só de ver, mas também de ouvir, sentir, etc...
E o cavalo Barto, velho e cego? É maravilhoso, mas a questão é que a cegueira, mormente de nascença, não impede a "visão", como já estudamos no artigo anterior. (Não se trata de vista propriamente dita, mas de toda classe de sensação hiperestésica).

MAIS ANIMAIS "INTELIGENTES" - Conhecida ou suspeitada a solução das dificuldades, já foi fácil reproduzir o fenômeno. Alguns preparadores de cavalos conseguiram amestrá-los até igualar e inclusive superar os cavalos de Elberfeld. Houve vários, mormente nos Estados Unidos.
Fizeram-se famosos os cavalos Lady e Black-Bear. A égua Lady também dava respostas corretas às perguntas feitas em chinês. O preparador do pônei Black-Bear fê-lo realizar, um dia, uma brincadeira. Perguntou ao cavalo a raiz quadrada de 841. Respondeu 49. Errado. Notado isso, o cavalo aproximou-se do seu treinador e, batendo para designar letras, formou a frase: "Você me amola".
Este pônei, porém, não foi ensinado mais do que a atender a seu treinador. Morto o preparador, o cavalo perdeu suas "misteriosas" qualidades.
O Dr. Bechteref, e mais tarde o Dr. Flexor, de Moscou, estudaram um cachorro fox-terrier e outro são-bernardo. Numa ocasião o cachorro realizou a ordem prevista para a experiência... seguinte!
Precognição? Não, explica-se por hiperestesia por parte do cachorro dos reflexos fisiológicos provocados pela idéia da experiência que o experimentador pensava fazer depois.
Foram também muito famosos uma gata chamada Daisy e os cachorros Rolf, Lola, Awa, etc.
Já na época mesma do cavalo Hans, uma cadelinha chamada Nora conseguia rivalizar com o cavalo. Emílio Rendich, um inteligente pintor italiano que vivia em Berlim e acompanhara admiradíssimo as experiências com Hans, terminou por suspeitar a explicação. Com paciência, conseguiu fazer aparentar que sua cadelinha Nora era capaz de ler, reconhecer as notas musicais, dar respostas inteligentes por meio de latidos.
Ninguém percebia os sinais inconscientes, automáticos, que Rendich dava à cadela. Foi precisamente Rendich que orientou com estas experiências o Dr. Stumpf e os seus colaboradores para decifrar o mistério do cavalo Hans.
Pouco depois far-se-ia também famoso um chimpanzé do Jardim Zoológico de Frankfurt, o chimpanzé Basso.
Comprovou-se de novo que tudo se devia aos sinais inconscientes e mínimos fornecidos pelo guarda e dos quais o próprio guarda não tinha conhecimento: O treinamento do animal, feito ao começo talvez conscientemente, foi-se fazendo cada vez mais insensivelmente, até terminar por surpreender ao próprio treinador.
É verdade que o primeiro animal que chamou a atenção dos cientistas foi Hans. Mas não se pense que o fenômeno seja absolutamente novo.
Já o filósofo Le Gandre, por exemplo, nos fala de um outro cavalo exposto na feira de Saint Germain em 1832 e que depois percorreu outras feiras na França. O escritor Guer, que também refere o fato, descreve como o cavalo reconhecia cartas de baralho, somava os pontos dos dados, indicava as horas e minutos de um relógio, somava o valor das moedas que se lhe apresentavam... O sistema, como em Elberfeld, era o de bater com a pata no chão para dar as respostas.
O famoso cavalo Muhamed, treinado
pelo Sr. Krall, em Elberfeld.
O filósofo Le Gandre já dava então a solução. O cavalo era guiado pelos sinais mínimos dados pelo seu dono, ou pelos assistentes ao "prodígio", apesar de que os assistentes mesmos (e disto se maravilha Le Gandre) não percebiam esses sinais.
Todo o assunto da inteligência dos animais calculadores, de telepatia animal, mediunismo e quantas outras teorias falsas e supersticiosas se aduziram para explicar os fatos, hoje deve ficar soterrado. O fenômeno pertence aos artistas dos circos. Marcel Sire, em 1954, com estilo violento concluía assim a questão: "Aí não há mais do que tolices e pilhérias de espertalhões. Hoje é difícil compreender como homens sérios deram prova de tão pouco talento".
O próprio entusiasta dono dos cavalos de Elberfeld, embora começasse as "lições" pretendendo demonstrar a inteligência dos cavalos, teve de reconhecer, decepcionado, que eram absolutamente incapazes de toda invenção própria, só reproduzindo o que tinham treinado. Nem se esforçam, nem calculam, só enxergam ou sentem. E mesmo o alcançável pelo treino, tem um limite curto demais.
De tudo o que foi dito, há uma conclusão interessantíssima para nós: por hiperestesia os animais podem chegar a captar, indiretamente, certos pensamentos de uma pessoa, dar respostas a perguntas inclusive muito difíceis e até mesmo que não cheguem a ser formuladas. E isto, no escuro, observados através de uma janelinha pequena, mesmo um cavalo velho e cego. Poderão também alguns homens captar o pensamento dos seus semelhantes por hiperestesia indireta? É o tema para os próximos artigos.

Fenômenos extra-normais de conhecimento
expressão inconsciente do pensamento

O PROBLEMA - Uma pergunta se impõe pelo seu interesse prático. Será que os sentidos podem captar o pensamento de outra pessoa? Diretamente, é claro que não, porque o pensamento em si é algo imaterial, que escapa aos sentidos. Mas, indiretamente, não poderá ser captado o pensamento? Esta pergunta, de enorme transcendência, pode substituir-se por esta outra: o pensamento humano se traduz em algum sinal fisiológico, externo, embora mínimo? Se assim for, logo aparece a possibilidade de que por hiperestesia se possa indiretamente captar o pensamento humano...

Tomamos a palavra "pensamento" em representação de todos os atos psíquicos: pensamentos, sentimentos, lembranças, desejos...

Pensamos até com os cabelos! François Suliny, autor do "best seller" "O pedestre de Stalingrado", na 2ª Guerra Mundial, sob o bombardeio... ficou com todos os cabelos brancos. Numa noite! (Descarga de telergia parapsicológica, pois os cabelos são células mortas, produto de excreção).

OS PRIMEIROS PASSOS DA INVESTIGAÇÃO - A descoberta científica dos movimentos involuntários e inconscientes correspondentes às idéias foi acolhida na ciência com grande alvoroço. Foi em 1853 que "Le Journal des Débats" publicava uma carta do Dr. Chevreul para o Dr. Ampère sobre o assunto. A carta já tinha sido publicada 20 anos antes na "Revue des Deux Mondes", mas não teve a devida repercussão entre os especialistas. E o assunto da carta ainda se referia a umas experiências feitas pelo autor, Chevreul, outros 20 anos antes, em 1813.

Só em 1853, com a publicação da carta em "Le Journal des Débats", dar-se-ia a máxima atenção ao assunto por trazer grande luz sobre as acaloradas discussões de então a propósito da varinha adivinha, pêndulo do radiestesista, etc. , e especialmente das mesas girantes que o espiritismo nascente espalhava por toda parte.

Na famosa carta, Chevreul descrevia a Ampère as experiências por ele realizadas, e concluía:
"O pensamento duma ação a produzir pode mover nossos músculos sem que tenhamos nem a vontade nem o conhecimento destes movimentos".

Pouco depois, com novos estudos, Chevreul publica uma monografia.
Como não é raro que aconteça, descobriu-se o que já estava descoberto dois séculos antes, embora ninguém ligasse para as observações e experiências que se julgaram de pouca transcendência prática, publicadas em 1646 pelo Pe. Atanásio Kircher, S. J., em Colônia, e pouco depois, em 1654, em Roma.

Após a Segunda publicação da carta de Chevreul a Ampère, a ciência interessou-se com entusiasmos pela descoberta. No mesmo ano, 1853, Arago dissertou sobre os movimentos involuntários e inconscientes na "Academie de Sciences" da Paris, e Faraday na "Society Regal" de Londres. Logo apareceram as publicações de Babinet na "Revue de Deux Mondes" e do Pe. Moigno em "Cosmos". Por fim, Pierre Janet, em 1855, publicou os resultados das suas investigações, com o que ficou suficientemente estabelecido e conhecido o fenômeno dos movimentos involuntários e inconscientes.

Recentemente, as experiências de Pavlov sobre os tão conhecidos reflexos incondicionados e condicionados aprofundaram e explicaram os automatismos no seu aspecto de movimentos involuntários e inconscientes em resposta a "sinais" externos, ou seja, em definitivo, em resposta as idéias e imagens conscientes ou inconscientes. Um interessante estudo sobre os movimentos inconscientes foi realizado por Jung.

Há, pois, movimentos, ações, sinais mínimos correspondendo às nossas idéias, ao nossos sentimentos, etc., sem que tenhamos vontade nem consciência de que os fazemos.

RELAÇÃO ENTRE IDÉIA E MOVIMENTOS INCONSCIENTES - Quantas idéias se refletem em movimentos externos?

Em algumas pessoas mais imaginativas e impulsivas, há movimentos reflexos das idéias sumamente amplos. "Um cego os veria", poderíamos dizer.

Mas do ponto de vista da "adivinhação" do pensamento não são estes sinais os que mais nos interessam, pois a "adivinhação" não teria mérito. Queremos saber se existem outros sinais mais sutis, só perceptíveis, quando muito, por hiperestesia.

Já em 1908, Ernest Naville defendia:
"Penso que todo fenômeno psíquico, de qualquer ordem que seja , tem seu correspondente fisiológico".

Evidentemente, essa correspondência fisiológica tem que ser mínima, pois não se percebe à primeira vista.

Em 1929, Charles Baudoin, diretor do "Instituto Internacional de Psicagogia", de Genebra, descobria o modo de ampliar os movimentos reflexos das idéias, a fim de fazê-los perceptíveis. Partindo das experiências antes aludidas de Ampère e Chevreul, instituiu uma série de experiências novas altamente demonstrativas.

Eis uma destas experiências destinada a aumentar os movimentos inconscientes de modo que sejam perceptíveis:
Sobre uma folha de papel traça-se um círculo, e cortando-o, duas linhas perpendiculares entre si. O sujeito da experimentação mantém sobre o círculo um pêndulo não excessivamente pesado, segurando-o pelo extremo do cabo com as pontas dos dedos.

Nesta posição, o sujeito pensa em qualquer dos desenhos que há sobre o papel: o círculo, uma das linhas ou a outra perpendicular à primeira. Suponhamos que pensa no círculo, ou melhor, que pensa que o pêndulo se movimenta em círculo, da direita para a esquerda. O sujeito não deve fazer nada, conscientemente, para mover o pêndulo. Não obstante, após alguns segundos, muito poucos, se o pêndulo é das devidas dimensões e o sujeito não está mudando continuamente de pensamento, veremos que o pêndulo está oscilando em círculo, da direita para a esquerda. A oscilação irá aumentando cada vez mais em amplitude.

Estando o pêndulo em pleno movimento, se o sujeito muda de pensamento, escolhendo agora, por exemplo, uma das retas perpendiculares entre si, o pêndulo começará a variar de direção, até seguir perfeitamente a linha pensada. Se pensa depois na outra linha, o pêndulo se acomodará docilmente ao pensamento.

Experiências de outros tipos, às vezes engenhosíssimas, são muito numerosas, demonstrando plenamente a realidade dos reflexos inconscientes e involuntários, como tradução fisiológica das idéias e imagens. Escreve o especialista da Enciclopédia "Espasa":
"A realidade do movimentos inconscientes correspondente a todos os atos internos ou de consciência deve ser admitida por todos, pois tem sido muito bem estudada".

NÃO SÓ A ALMA PENSA, MAS TAMBÉM O CORPO - Tão íntima é a relação entre a imagem mental e o reflexo fisiológico "visível" externo, que Tassy pode escrever que a "imagem e sua expressão são um só fenômeno".

A tal ponto são "um só fenômeno" o ato da consciência e a sua expressão que não é só o ato de consciência que provoca a "mímica" externa, mas também dá-se o inverso: a "mímica", o gesto, a atitude, etc. tendem a provocar a idéia, a imagem, o sentimento... Ou melhor, provoca-os no inconsciente e daí tende a surgir no consciente.

O prestigioso parapsicólogo Dr. Gerard Grasset tem um interessante e extenso artigo sobre o tema "Os que choram porque estão tristes e os que estão tristes porque choram".
Dugald Stewart escreveu a passagem: "Se damos à nossa fisionomia uma expressão violenta acompanhada de gestos análogos, sentiremos em algum grau a emoção correspondente à expressão artificial imprimida ás nossas feições, do mesmo modo que toda emoção da alma produz um efeito sensível sobre o corpo".

Quando Campanella, célebre filósofo e fisionomista, queria saber o que se passava no espírito de outra pessoa, observava-a atentamente com a sua capacidade técnica e experimental e procurava imitar ao máximo em si próprio a atitude e fisionomia dela. Então, analisando seus próprios sentimentos deduzia os da outra pessoa.

São Francisco de Sales e Santo Inácio de Loyola aconselham, para os momentos de secura espiritual, adotar uma posição e atitude piedosa.

Já antigamente se conheciam a fundo certas expressões externas do pensamento inconsciente. Por exemplo:
Quando estamos "caindo" no sono, por associação de imagens é freqüente sonhar que caímos num poço ou... e todo o corpo reage! (Capa de um romance de Daniel O Rouke,(Séc.XIX)

EXTENSÃO DA TRADUÇÃO FISIOLÓGICA DAS IDÉIAS - Em virtude das leis de associação, ao suscitar-se na mente uma idéia ou imagem qualquer, mesmo as mais abstratas, surgirão no cérebro, simultaneamente, as imagens visuais, auditivas e motoras a elas correspondentes. Estas imagens, por sua vez, porão em movimento, embora normalmente isto seja imperceptível, os músculos da fonação, da ação, da mímica e todos os músculos que concorrem ao complicado mecanismo da linguagem falada e escrita em determinadas circunstâncias. (Eis o fundamento da psicografia, fenômeno tão cacarejado pelos espíritas, apesar de ser um fenômeno tão singelo e natural).

Todos estes movimentos são de tal maneira característicos das diversas idéias, que constituem como que uma linguagem subterrânea, mínima, mas perfeita, e que acompanha todas as representações mentais.

Tão inseparável é esta tradução fisiológica, também externa, que Strucker tentou demonstrar experimentalmente que "é impossível ter a representação mental sequer de uma só letra, sem que se tenha simultaneamente um movimento nos músculos que servem para articular essa letra, e não só os músculos da fonação ou outros diretamente interessados, mas todos os músculos do organismo", participarão de alguma maneira na modificação.

Eis uma demonstração, por exemplo, do movimento dos órgãos da fonação, ou melhor, da emissão muito tênue das palavras internas com que pensamos:
Os doutores Lehmann, diretor do laboratório de Psicofísica, e seu colega, C. Hansen, ambos da Universidade de Copenhague, colocaram frente a frente dois grandes espelhos côncavos metálicos a uma distância de dois metros um do outro. No foco de um desses espelhos uma pessoa punha a boca enquanto pensava alguma coisa, e no foco do outro espelho outra pessoa colocava o ouvido. As experiências foram feitas de três maneiras diferentes: boca semifechada, quase fechada e cerrada completamente no indivíduo que pensa, operando-se sempre a respiração pelo nariz.

Os resultados obtidos foram equivalentes nos três tipos de experiências, havendo só 25% de fracassos completos; fracassos que podem explicar-se pelo fato de não tratar-se, evidentemente, de sensitivos extraordinários. A pessoa que colocava o ouvido no foco de um dos espelhos ouvia o que pensava a outra pessoa que estava colocada no foco do outro espelho.

Houve, pois, articulação de palavras correspondentes aos pensamentos, fossem estes coisas abstratas ou concretas, imagens, números, etc., apesar de que não houve movimento nenhum visível externamente. (Sem espelhos, por hiperestesia inconsciente, todos captariam aquelas palavras pronunciadas inconscientemente pela pessoa pensante; mas só nos sensitivos o captado subiria ao consciente). A análise acústica do fenômeno revelou haver redução e alteração das consoantes como sucede na ventriloquia. Os sons, pois, provinham da laringe, principalmente, pois não excluímos outros sinais. São movimentos reflexos involuntários e irreprimíveis.

O movimento dos órgãos da fonação foi também constatado de outras maneiras, p. ex. com a análise de reflexos luminosos.

Devemos citar as numerosíssimas experiências do Dr. Calligaris, professor de Neuropatologia da Universidade de Roma. Numa série de livros por ele publicados aparece a relação delas. Por essas pesquisas, observou como todo ato psíquico, consciente, consciente ou inconsciente, normal, extra-normal ou paranormal, tem seu reflexo inclusive epidérmico, especialmente em determinadas zonas particulares próprias para tal ato psíquico, zonas que ele chamou "placas" ou "campos". As experiências são numerosíssimas.

Este fato viria a confirmar, inclusive elevando-o a alta potência, o que já antes afirmava o Dr. Kleuder: "Está fora de toda dúvida que a pele é um importante órgão de expressão, comparável aos olhos na expressão das emoções". Ficamos vermelhos, pálidos...
Outros tipos de "emissões" foram também observados e demonstrados. Mas basta o já dito. E provavelmente há "emissões" que ainda desconhecemos...

A Parapsicologia formula a existência e extensão da expressão inconsciente segundo a Lei de Bain: "Todo ato psíquico determina um reflexo fisiológico (suponhamos, primeiro no cérebro) e esse reflexo se irradia por todo o corpo e cada uma de suas partes."

(Este artigo No. 2 é, como sugeríamos no inicio, uma introdução necessária para a compreensão dos fenômenos Cumberlandismo e HIP, dos que falaremos nos dois próximos artigos desta série).

Fenômenos extra-normais de conhecimento
expressão inconsciente do pensamento

O PROBLEMA - Uma pergunta se impõe pelo seu interesse prático. Será que os sentidos podem captar o pensamento de outra pessoa? Diretamente, é claro que não, porque o pensamento em si é algo imaterial, que escapa aos sentidos. Mas, indiretamente, não poderá ser captado o pensamento? Esta pergunta, de enorme transcendência, pode substituir-se por esta outra: o pensamento humano se traduz em algum sinal fisiológico, externo, embora mínimo? Se assim for, logo aparece a possibilidade de que por hiperestesia se possa indiretamente captar o pensamento humano...

Tomamos a palavra "pensamento" em representação de todos os atos psíquicos: pensamentos, sentimentos, lembranças, desejos...

Pensamos até com os cabelos! François Suliny, autor do "best seller" "O pedestre de Stalingrado", na 2ª Guerra Mundial, sob o bombardeio... ficou com todos os cabelos brancos. Numa noite! (Descarga de telergia parapsicológica, pois os cabelos são células mortas, produto de excreção).

OS PRIMEIROS PASSOS DA INVESTIGAÇÃO - A descoberta científica dos movimentos involuntários e inconscientes correspondentes às idéias foi acolhida na ciência com grande alvoroço. Foi em 1853 que "Le Journal des Débats" publicava uma carta do Dr. Chevreul para o Dr. Ampère sobre o assunto. A carta já tinha sido publicada 20 anos antes na "Revue des Deux Mondes", mas não teve a devida repercussão entre os especialistas. E o assunto da carta ainda se referia a umas experiências feitas pelo autor, Chevreul, outros 20 anos antes, em 1813.

Só em 1853, com a publicação da carta em "Le Journal des Débats", dar-se-ia a máxima atenção ao assunto por trazer grande luz sobre as acaloradas discussões de então a propósito da varinha adivinha, pêndulo do radiestesista, etc. , e especialmente das mesas girantes que o espiritismo nascente espalhava por toda parte.

Na famosa carta, Chevreul descrevia a Ampère as experiências por ele realizadas, e concluía:
"O pensamento duma ação a produzir pode mover nossos músculos sem que tenhamos nem a vontade nem o conhecimento destes movimentos".

Pouco depois, com novos estudos, Chevreul publica uma monografia.
Como não é raro que aconteça, descobriu-se o que já estava descoberto dois séculos antes, embora ninguém ligasse para as observações e experiências que se julgaram de pouca transcendência prática, publicadas em 1646 pelo Pe. Atanásio Kircher, S. J., em Colônia, e pouco depois, em 1654, em Roma.

Após a Segunda publicação da carta de Chevreul a Ampère, a ciência interessou-se com entusiasmos pela descoberta. No mesmo ano, 1853, Arago dissertou sobre os movimentos involuntários e inconscientes na "Academie de Sciences" da Paris, e Faraday na "Society Regal" de Londres. Logo apareceram as publicações de Babinet na "Revue de Deux Mondes" e do Pe. Moigno em "Cosmos". Por fim, Pierre Janet, em 1855, publicou os resultados das suas investigações, com o que ficou suficientemente estabelecido e conhecido o fenômeno dos movimentos involuntários e inconscientes.

Recentemente, as experiências de Pavlov sobre os tão conhecidos reflexos incondicionados e condicionados aprofundaram e explicaram os automatismos no seu aspecto de movimentos involuntários e inconscientes em resposta a "sinais" externos, ou seja, em definitivo, em resposta as idéias e imagens conscientes ou inconscientes. Um interessante estudo sobre os movimentos inconscientes foi realizado por Jung.

Há, pois, movimentos, ações, sinais mínimos correspondendo às nossas idéias, ao nossos sentimentos, etc., sem que tenhamos vontade nem consciência de que os fazemos.

RELAÇÃO ENTRE IDÉIA E MOVIMENTOS INCONSCIENTES - Quantas idéias se refletem em movimentos externos?

Em algumas pessoas mais imaginativas e impulsivas, há movimentos reflexos das idéias sumamente amplos. "Um cego os veria", poderíamos dizer.

Mas do ponto de vista da "adivinhação" do pensamento não são estes sinais os que mais nos interessam, pois a "adivinhação" não teria mérito. Queremos saber se existem outros sinais mais sutis, só perceptíveis, quando muito, por hiperestesia.

Já em 1908, Ernest Naville defendia:
"Penso que todo fenômeno psíquico, de qualquer ordem que seja , tem seu correspondente fisiológico".

Evidentemente, essa correspondência fisiológica tem que ser mínima, pois não se percebe à primeira vista.

Em 1929, Charles Baudoin, diretor do "Instituto Internacional de Psicagogia", de Genebra, descobria o modo de ampliar os movimentos reflexos das idéias, a fim de fazê-los perceptíveis. Partindo das experiências antes aludidas de Ampère e Chevreul, instituiu uma série de experiências novas altamente demonstrativas.

Eis uma destas experiências destinada a aumentar os movimentos inconscientes de modo que sejam perceptíveis:
Sobre uma folha de papel traça-se um círculo, e cortando-o, duas linhas perpendiculares entre si. O sujeito da experimentação mantém sobre o círculo um pêndulo não excessivamente pesado, segurando-o pelo extremo do cabo com as pontas dos dedos.

Nesta posição, o sujeito pensa em qualquer dos desenhos que há sobre o papel: o círculo, uma das linhas ou a outra perpendicular à primeira. Suponhamos que pensa no círculo, ou melhor, que pensa que o pêndulo se movimenta em círculo, da direita para a esquerda. O sujeito não deve fazer nada, conscientemente, para mover o pêndulo. Não obstante, após alguns segundos, muito poucos, se o pêndulo é das devidas dimensões e o sujeito não está mudando continuamente de pensamento, veremos que o pêndulo está oscilando em círculo, da direita para a esquerda. A oscilação irá aumentando cada vez mais em amplitude.

Estando o pêndulo em pleno movimento, se o sujeito muda de pensamento, escolhendo agora, por exemplo, uma das retas perpendiculares entre si, o pêndulo começará a variar de direção, até seguir perfeitamente a linha pensada. Se pensa depois na outra linha, o pêndulo se acomodará docilmente ao pensamento.

Experiências de outros tipos, às vezes engenhosíssimas, são muito numerosas, demonstrando plenamente a realidade dos reflexos inconscientes e involuntários, como tradução fisiológica das idéias e imagens. Escreve o especialista da Enciclopédia "Espasa":
"A realidade do movimentos inconscientes correspondente a todos os atos internos ou de consciência deve ser admitida por todos, pois tem sido muito bem estudada".

NÃO SÓ A ALMA PENSA, MAS TAMBÉM O CORPO - Tão íntima é a relação entre a imagem mental e o reflexo fisiológico "visível" externo, que Tassy pode escrever que a "imagem e sua expressão são um só fenômeno".

A tal ponto são "um só fenômeno" o ato da consciência e a sua expressão que não é só o ato de consciência que provoca a "mímica" externa, mas também dá-se o inverso: a "mímica", o gesto, a atitude, etc. tendem a provocar a idéia, a imagem, o sentimento... Ou melhor, provoca-os no inconsciente e daí tende a surgir no consciente.

O prestigioso parapsicólogo Dr. Gerard Grasset tem um interessante e extenso artigo sobre o tema "Os que choram porque estão tristes e os que estão tristes porque choram".
Dugald Stewart escreveu a passagem: "Se damos à nossa fisionomia uma expressão violenta acompanhada de gestos análogos, sentiremos em algum grau a emoção correspondente à expressão artificial imprimida ás nossas feições, do mesmo modo que toda emoção da alma produz um efeito sensível sobre o corpo".

Quando Campanella, célebre filósofo e fisionomista, queria saber o que se passava no espírito de outra pessoa, observava-a atentamente com a sua capacidade técnica e experimental e procurava imitar ao máximo em si próprio a atitude e fisionomia dela. Então, analisando seus próprios sentimentos deduzia os da outra pessoa.

São Francisco de Sales e Santo Inácio de Loyola aconselham, para os momentos de secura espiritual, adotar uma posição e atitude piedosa.

Já antigamente se conheciam a fundo certas expressões externas do pensamento inconsciente. Por exemplo:
Quando estamos "caindo" no sono, por associação de imagens é freqüente sonhar que caímos num poço ou... e todo o corpo reage! (Capa de um romance de Daniel O Rouke,(Séc.XIX)

EXTENSÃO DA TRADUÇÃO FISIOLÓGICA DAS IDÉIAS - Em virtude das leis de associação, ao suscitar-se na mente uma idéia ou imagem qualquer, mesmo as mais abstratas, surgirão no cérebro, simultaneamente, as imagens visuais, auditivas e motoras a elas correspondentes. Estas imagens, por sua vez, porão em movimento, embora normalmente isto seja imperceptível, os músculos da fonação, da ação, da mímica e todos os músculos que concorrem ao complicado mecanismo da linguagem falada e escrita em determinadas circunstâncias. (Eis o fundamento da psicografia, fenômeno tão cacarejado pelos espíritas, apesar de ser um fenômeno tão singelo e natural).

Todos estes movimentos são de tal maneira característicos das diversas idéias, que constituem como que uma linguagem subterrânea, mínima, mas perfeita, e que acompanha todas as representações mentais.

Tão inseparável é esta tradução fisiológica, também externa, que Strucker tentou demonstrar experimentalmente que "é impossível ter a representação mental sequer de uma só letra, sem que se tenha simultaneamente um movimento nos músculos que servem para articular essa letra, e não só os músculos da fonação ou outros diretamente interessados, mas todos os músculos do organismo", participarão de alguma maneira na modificação.

Eis uma demonstração, por exemplo, do movimento dos órgãos da fonação, ou melhor, da emissão muito tênue das palavras internas com que pensamos:
Os doutores Lehmann, diretor do laboratório de Psicofísica, e seu colega, C. Hansen, ambos da Universidade de Copenhague, colocaram frente a frente dois grandes espelhos côncavos metálicos a uma distância de dois metros um do outro. No foco de um desses espelhos uma pessoa punha a boca enquanto pensava alguma coisa, e no foco do outro espelho outra pessoa colocava o ouvido. As experiências foram feitas de três maneiras diferentes: boca semifechada, quase fechada e cerrada completamente no indivíduo que pensa, operando-se sempre a respiração pelo nariz.

Os resultados obtidos foram equivalentes nos três tipos de experiências, havendo só 25% de fracassos completos; fracassos que podem explicar-se pelo fato de não tratar-se, evidentemente, de sensitivos extraordinários. A pessoa que colocava o ouvido no foco de um dos espelhos ouvia o que pensava a outra pessoa que estava colocada no foco do outro espelho.

Houve, pois, articulação de palavras correspondentes aos pensamentos, fossem estes coisas abstratas ou concretas, imagens, números, etc., apesar de que não houve movimento nenhum visível externamente. (Sem espelhos, por hiperestesia inconsciente, todos captariam aquelas palavras pronunciadas inconscientemente pela pessoa pensante; mas só nos sensitivos o captado subiria ao consciente). A análise acústica do fenômeno revelou haver redução e alteração das consoantes como sucede na ventriloquia. Os sons, pois, provinham da laringe, principalmente, pois não excluímos outros sinais. São movimentos reflexos involuntários e irreprimíveis.

O movimento dos órgãos da fonação foi também constatado de outras maneiras, p. ex. com a análise de reflexos luminosos.

Devemos citar as numerosíssimas experiências do Dr. Calligaris, professor de Neuropatologia da Universidade de Roma. Numa série de livros por ele publicados aparece a relação delas. Por essas pesquisas, observou como todo ato psíquico, consciente, consciente ou inconsciente, normal, extra-normal ou paranormal, tem seu reflexo inclusive epidérmico, especialmente em determinadas zonas particulares próprias para tal ato psíquico, zonas que ele chamou "placas" ou "campos". As experiências são numerosíssimas.

Este fato viria a confirmar, inclusive elevando-o a alta potência, o que já antes afirmava o Dr. Kleuder: "Está fora de toda dúvida que a pele é um importante órgão de expressão, comparável aos olhos na expressão das emoções". Ficamos vermelhos, pálidos...
Outros tipos de "emissões" foram também observados e demonstrados. Mas basta o já dito. E provavelmente há "emissões" que ainda desconhecemos...

A Parapsicologia formula a existência e extensão da expressão inconsciente segundo a Lei de Bain: "Todo ato psíquico determina um reflexo fisiológico (suponhamos, primeiro no cérebro) e esse reflexo se irradia por todo o corpo e cada uma de suas partes."

(Este artigo No. 2 é, como sugeríamos no inicio, uma introdução necessária para a compreensão dos fenômenos Cumberlandismo e HIP, dos que falaremos nos dois próximos artigos desta série).

A importância da HIP


A famosa sensitiva de Roma, Sandra Bajetto "enganou" muitos "sábios". Várias vezes em contato com objetos adivinhava coisas referentes aos donos dos mesmos. Deduziram que
captava impregnações? Puro engano. Os presentes sabiam do que se tratava: HIP.

FREQÜÊNCIA - Em primeiro lugar deve-se destacar que HIP é muito mais freqüente que a telepatia ou qualquer outro fenômeno paranormal, extra-sensorial. Já Puységur, um dos primeiros investigadores do hipnotismo, advertia os hipnotizadores contra o erro de considerar como telepatia muitos atos que não o são, tanto que chegou Puységur a afirmar expressamente que "era erro pensar que, por meio de um sonâmbulo (hipnotizado) clarividente se pudesse adivinhar o pensamento de uma pessoa ausente, pois o único que se obtinha em tais ocasiões era inspirado inconscientemente pelo próprio observador".

Uma experiência fácil, inspirada no livro do parapsicólogo Pe. Júlio Maria ("Os segredos do Espiritismo"). Com excelentes reflexões contra o Espiritismo, a experiência tem comprovado inúmeras vezes que HIP é mais fácil e freqüente que a telepatia. Os leitores podem repetir a experiência com facilidade.

Se a um adivinho, médium, radiestesista etc., se apresenta uma série de envelopes, não é impossível que alguma vez o adivinho seja capaz de dizer o conteúdo de algum desses envelopes. Mas se não fomos nós mesmos que escrevemos as frases dos envelopes, mas um amigo que no-las enviou por correio (e isto é mais seguro do que a entrega pessoal para se evitar toda a hiperestesia inconsciente em nós), comprovaremos que só rarissimamente, em proporção enormemente menor e só muito bom adivinho será capaz de dizer-nos o conteúdo do envelope.

Esta experiência, ou semelhantes, provam perfeitamente que no primeiro caso, i. é, quando a consulta é feita pela própria pessoa que escreveu, é mais fácil acertar, por tratar-se de Hiperestesia Indireta do Pensamento. Mas no segundo caso onde não pode haver sinais inconscientes, os acertos são mais difíceis e raros por tratar-se de telepatia ou conhecimento extra-sensorial.

Muitas vezes é o espectador que se trai a si mesmo, ao consultar a um adivinho, ou nas sessões mediúnicas, ou... O médium ou adivinho não sabe mais do que aquilo que o consulente lhe diz na linguagem dos sinais inconscientes e involuntários. O estado de transe do médium, ou de delírio, narcotismo, histeria em que entram natural ou artificialmente muitos adivinhos, ajuda evidentemente à hiperestesia. Por outra parte, a corrente de certas sessões espíritas favorece a hiperestesia do pensamento de tipo cumberlandismo. Cumberlandismo e HIP em geral, combinados, podem, é claro, chegar a limites insuspeitos em pessoas especialmente "dotadas" e especialmente treinadas.

E o resultado, pode ser só o de confirmar o consulente na sua idéia talvez errada. Já no seu tempo dizia Richet: "Se eu conheço a palavra Margarida que o médium deve dizer, e mormente se o médium tem dúvidas, eu lhe fornecerei, muito ingenuamente, as indicações que precisar, retificarei seus erros, serei seu cúmplice involuntário..."

E há outro perigo. O adivinho simplesmente revela os pensamentos, os temores dos consulentes. Um consulente, por exemplo, pode estar com medo infundado de estar doente do fígado. O adivinho pode confirma-lo no erro, com perigosas conseqüências.

A MAL CHAMADA CRIPTOSCOPIA - Criptoscopia, com propriedade de linguagem só pode tomar-se em sentido fisiológico. Criptoscopia fisiológica seria a visão verdadeira através dos corpos opacos: visão autêntica, ocular, impressão retiniana por qualquer tipo de raios luminosos, ou outros desconhecidos como queriam alguns metapsíquicos (nome dado aos antigos parapsicólogos).

Não seria criptoscopia propriamente a visão alucinatória por adivinhação.
Criptoscopia, fisiológica, para os especialistas em Parapsicologia, é só um aspecto da hiperestesia direta estudada no 1º artigo desta série. Visão retiniana através dos corpos relativamente opacos, opacos só para as pessoas normais, não verdadeiramente opacos para os sensitivos.

Alguns metapsíquicos, porém, acreditaram que havia verdadeira visão através de corpos verdadeiramente opacos! Tal criptoscopia neste sentido estrito, não tem base nenhuma científica. É por isto que escrevemos no título: "A mal chamada criptoscopia".

Tratando de demonstrar a visão através dos corpos opacos, por erro nas condições de experimentação fizeram-se muitas e magníficas experiências de Hiperestesia Indireta do Pensamento, isto é, de captação do pensamento de outra pessoa por meio de sinais inconscientes por ela emitidos, HIP. Nas experiências estava presente a pessoa que sabia o que havia sob o objeto opaco...

Grande fama alcançaram as magníficas experiências na Rússia com Sofia Alexandrovna. Foram dirigidas pelo Dr. Chowrin, diretor do Asilo de Alienados, de Tambow.

Com a ajuda de diversos colegas da Sociedade Médica de Tambow, o Dr. Chowrin tomou precauções, engenhosíssimas, para pôr-se a resguardo das fraudes assombrosas a que irresponsavelmente pode chegar uma histérica.

Escreveram-se cartas em caracteres tão finos que não se podiam distinguir senão com uma lupa. As cartas eram postas em envelopes, que, uma vez fechados, eram pintados com anilina preta para fazê-los mais opacos. Algumas vezes meteram-se também nos envelopes papéis fotográficos sensíveis para descobrir se por acaso os envelopes eram abertos furtivamente. Não obstante todas as precauções a doente descreveu o conteúdo das cartas em experiências repetidas umas quarenta vezes.

Os investigadores concluíram que a doente lia as cartas através dos envelopes opacizados pela anilina e através dos papéis fotográficos... Em primeiro lugar estas experiências caíram também no defeito fundamental de estarem presentes à prova as mesmas pessoas que escreveram e leram as cartas. Isto bastaria para explicar o fenômeno: HIP.

Mas nas atas das experiências temos argumentos que apoiam a explicação por Hiperestesia Indireta do Pensamento. Com efeito, não se podia supor visão através dos corpos opacos, porque Sofia Alexandrovna não olhava para os envelopes, como expressamente se afirma numa experiência que dirigiam os Drs. Troitzki e Speransk.

Outro dado muito significativo: se não sempre, ao menos freqüentemente não se "lia" o texto mesmo da carta; descreviam-se as imagens correspondentes.

Por exemplo, numa carta escrita pelo Dr. Andreoff dizia-se: "No deserto da Arábia erguem-se três palmeiras, entre as quais flui um manancial murmurante". Alexandrovna diz: "Um grande espaço. É um areal branco como a neve, mas não é neve. Três árvores muito altas, nunca vi nada semelhante. Poucas folhas, folhas compridas. Um manancial, cujo murmúrio ouve-se claramente".

"Ouve-se". É a alucinação típica provocada reflexamente pelos sinais captados inconscientemente, por HIP. Não se leu a carta: captaram-se as idéias ou imagens.

Noutra experiência tinha-se escrito: "Sofia Alexandrovna está na sua cama e olha para a parede". A doente diz sem olhar para a carta: "Enxergo uma cama, sou eu que estou na minha cama, com fitas atadas ao queixo".

Não se lia a carta por criptoscopia. Captava-se o pensamento dos assistentes: "É você tal como está na cama..."
Que não se trata de telepatia ou clarividência paranormais, extrasensoriais, é claro, entre outras razões porque não se precisaria a presença dos experimentadores ou da carta.

A explicação por HIP supõe que a doente seja hiperestésica. Era-o em grau sumo. Como temos descritos a propósito de alguns cegos, também Sofia Alexandrovna distinguia as cores pelo tato (DOP = "Dermo-Optical Perception"). Pelo tato (ou pelo olfato, etc.) distinguia também os sabores.

Os investigadores de Tambow enchiam garrafas com soluções de soda, de cloreto de sódio, de cloridrato de quinina, de sulfato de zinco... Depois umedeciam pequenos fragmentos de papel numa destas soluções.

Alexandrovna em contato com os papéis, sentia imediatamente o gosto do sal, do ácido, do adstringente ou do amargo.

Tomaram aqui a precaução de que umedecesse o papel alguém que depois não assistiria à prova com Sofia Alexandrovna. Os investigadores, pois, não sabiam qual solução era a empregada. Esta precaução não a tomaram nas experiências com cartas. Por que? Não seria porque se estava ausente o conhecedor do escrito, a experiência fracassava? Mas, diante dos papéis impregnados, a sensitiva não precisava de sinais inconscientes dos assistentes; bastava a hiperestesia direta (HD) do olfato, do gosto ou do tato sobre os objetos.

Sendo a doente extraordinária hiperestésica, como demonstram estas últimas experiências com papéis impregnados, não Caricatura. Diz que são comunicações dos mortos... e - como previsto! - está captando dos próprios vivos, será de estranhar que, por hiperestesia dos sinais inconscientes, captasse indiretamente os pensamentos dos assistentes. As experiências de Tambow, como se vê, não provam a criptoscopia, isto é, visão retiniana através dos corpos opacos (supondo que fossem verdadeiramente opacos os materiais empregados). Menos ainda provam a clarividência ou telepatia parapsicológica, extra-sensorial. São, porém, de alto valor em prol, uma vez mais, da HIP.
Dentro do âmbito da hipnose, são muitas as considerações práticas que se podem tirar do que temos exposto sobre HIP. Entre estas está, repetimos, a do perigo que podem ter sugestões só pensadas pelo hipnotizador e não manifestadas. Pacientes muito sensitivos ou treinados podem captá-las por HIP. Como aquelas sugestões não foram dadas expressamente, se o hipnotizador não as retira, em certos casos podem depois trazer complicações.

Já em 1784, Puységur descobria que com um dos seus pacientes não tinha necessidade de falar para dar as sugestões "magnéticas" (hipnóticas, diríamos hoje).

"Eu pensava, simplesmente, na sua presença e ele me compreendia e me respondia... Quando ele se mostrava disposto a dizer mais do que eu julgava prudente deixar entender, eu, só com o pensamento, interrompia imediatamente suas idéias cortando as frases no meio de uma palavra e modificava completamente seu curso".

Por não suspeitarem da HIP, muitos investigadores tiraram conseqüências infundadas nas suas experiências com hipnotizados. Assim, por exemplo: quiseram provar a frenologia servindo-se das manifestações de pessoas submetidas à hipnose. Diziam: se estimulados uma determinada zona do crânio e o hipnotizado reage segundo o sentimento corresponde à zona frenológica excitada, isto prova evidentemente que a frenologia está certa quando diz que "Cada sentimento... tem uma sé no crânio e o estímulo destas zonas provoca o sentimento". Não poderia ser fingimento por parte do hipnotizado, porque como poderia um hipnotizado "analfabeto" saber qual o sentimento que se deve excitar nesta ou naquela zona?

Este raciocínio, errado, vem já dos primeiros estudiosos do hipnotismo. Assim Braid acreditava demonstrar a frenologia com a seguinte observação:
Um paciente quando se lhe estimulou a zona da cordialidade e o afeto, abraçava o médico; ao ter estimulado o órgão da combatividade no lado contrário da cabeça, com o braço correspondente golpeou dois cavalheiros que imaginou que iam agredi-lo, de tal forma que quase deixou um deles estendido no chão; enquanto isso, com o outro braço continuava a abraçar o médico da maneira mais afetuosa.

E assim com outras zonas.
Mas o argumento não serve: o hipnotizado pode por HIP adivinhar as idéias preferidas do experimentador e acomodar-se a elas nas manifestações.

Ainda dentro do âmbito da hipnose. A mesma falha de argumentação têm cometido muitíssimos investigadores. Alguns experimentadores querem provar suas teorias sobre o hipnotismo baseando-se nas descrições de hipnotizados incultíssimos nas teorias hipnóticas. Outros experimentadores provam teorias diferentes, aduzindo este mesmo argumento das descrições dos hipnotizados incultos...

No entanto, pode ser que os hipnotizados, apesar de não saberem nada de hipnose teórica, captem, por HIP as teorias preferidas do mesmo hipnotizador...

Um dos erros mais lamentáveis e freqüentes é o daqueles que procuram provar uma regressão da idade até o óvulo fecundado e inclusive até o espermatozóide... Dizem: como poderia o hipnotizado, sendo inculto, descrever perfeitamente o espermatozóide, a evolução do óvulo, etc? O hipnotizado não o sabia, mas aí está o médico hipnotizador que o sabe, e o hipnotizado o confirma nas suas idéias mesmo que estejam tão equivocadas como essas.

As conseqüências práticas que poderíamos tirar da HIP são numerosíssimas...

Pantomnésia - A memória do inconsciente

O inconsciente conhece muitíssimo mais que o consciente!

Um sonho revelador - O filósofo Delboeuf sonhou que no pátio da casa encontrara duas lagartixas enterradas na neve e rígidas pelo frio. Tomou-as, aqueceu-as nas mãos e colocou-as numa greta do muro. Depois colocou ao lado delas umas ervas que lá cresciam. Ainda em sonho pronunciou o nome da planta: "Asplenium ruta muralis" (sic). O nome se lhe apresentou como algo familiar.

Delboeuf não se lembrava de quase nenhum dos nomes técnicos das plantas apreendidos na época de estudante. Como, pois era possível aquele conhecimento técnico? Após 16 anos encontrou casualmente a explicação: em casa de um amigo encontrou um pequeno álbum de flores secas, no qual estava escrito, por seu próprio punho: "Asplenium ruta muraria". O mesmo Delboeuf o escrevera muito tempo antes, depois de consultar um botânico. Delboeuf já nem se lembrava de que sua irmã presenteara aquele álbum ao amigo. Única variante: "muraria" por "muralis".

Casos semelhantes são bastante freqüentes. Isto nos prova, evidentemente, que se guardam no nosso psiquismo antigas lembranças que o consciente já esquecera completamente. Surge, pois, a pergunta: até que ponto chega a memória do inconsciente? As respostas as daremos por partes.

ËPOCA INFANTIL - Um primeiro passo importante é, sem dúvida, constatar que o nosso inconsciente lembra coisas que conhecemos quando ainda não tínhamos uso da razão. Este fato tem-se comprovado inúmeras vezes.
O Dr. Maury, por exemplo, uma noite sonhou que era menino e que vivia num povoado de Trilport. Lá imaginou ver um homem fardado que dizia chamar-se ... "fulano". Maury gostava de analisar seus sonhos. Embora não tivesse a menor idéia daquele homem nem daquele povoado, onde pensava não ter vivido nunca, havia no sonho uma vaga sensação de "já visto". ("Déjà vu", em francês, foi adotado em Parapsicologia como nome técnico deste freqüentíssimo fenômeno). Passado algum tempo encontrou-se com a antiga ama seca. A aia disse-lhe que sendo ele muito criança foram à mencionada localidade, onde o pai devia construir uma ponte, e que havia lá um policial com o mesmo nome que lembrara no sonho.
Foi essa uma impressão de "déjà vu" que, contra toda verossimilhança, se confirmou.
Mais ainda, tem-se comprovado também que a lembrança pode-se referir inclusive àquelas sensações que se tiveram quando criança de colo!
Rignano, p. ex., cita no seu "ensayo de síntesis científica" o seguinte caso:
Um jovem, ao chegar a um lugar "onde nunca estivera", conhecia tudo perfeitamente. Impressionado, pesquisou, descobrindo que quando criança de poucos meses fora levado para aquele lugar pela ama.
O inconsciente arquivara todos os detalhes. Agora, em presença do lugar, a lembrança brotou.
Uma família estava confusa pelo acontecido com uma das filhas. Procuraram-me até um tanto angustiados, e para livra-las da angústia é que decidi fazer umas averiguações.
Trata-se de uma jovem de 16 anos. Um dia fora a um grupo escolar e percebera que "já o conhecia", apesar de nunca ter estado nele! As professoras do centro, impressionadas pelo fato, fizeram naquele mesmo momento algumas experiências e, com efeito, a jovem descrevia as salas antes de abrirem-se as portas. Só uma falha: disse que uma sala era o gabinete da diretora e, na realidade, o aposento era de uso da encarregada da limpeza. Os familiares da jovem estavam angustiados, porque alguns espíritas tinham-lhes dito que isso era prova evidente (!) de que a menina tinha estado naquele colégio numa reencarnação (?!) anterior, doutrina que eles, como católicos, não podiam admitir.
As averiguações que realizei comprovaram, em primeiro lugar, que só durante o primeiro ano de funcionamento do grupo escolar aquele quarto que a jovem designava como gabinete da diretora o fora de fato. Atualmente nenhuma das professoras do colégio sabia disto, pois todas eram mais recentes na casa. E foi precisamente naquele ano da inauguração que uma tia da jovem esteve visitando o grupo levando-a no colo, então uma criancinha de um ano de idade.
Têm-se feito algumas experiências de ler para um menino, às vezes mesmo de poucos dias, um longo parágrafo de um livro, e passados vários anos, fazer-lhe repetir, em hipnose, o mesmo parágrafo que só uma vez ouviu, e que nem mesmo era capaz de entender. O inconsciente, até de criancinha, é um ótimo "gravador".
LEMBRA-SE ATÉ DO "NÀO-PERCEBIDO" - É um passo a mais para compreendermos até onde chega a memória do inconsciente.
Muitos são os aspectos e casos que se poderiam analisar sobre a lembrança do "não-percebido". Com efeito, como vimos, o inconsciente lembra-se do que só ouviu em tenra idade. É um tipo de "não percebido", já que as criancinhas "não prestam atenção". São freqüentes os casos de lembrar-se do que se ouviu completamente distraído; eis outro tipo do que chamamos "não-percebido". Podemos lembrar-nos até daquilo que jamais poderia perceber o consciente, lembrança de sensações hiperestésicas e certamente inconscientes como veremos neste e no próximo artigo.
Agora queremos frisar outro aspecto do "não-percebido"; possivelmente não existe algum estado de tal "desmemorização" que possa inclusive atingir o inconsciente. O exemplo típico é dado por Charcot numa das suas famosíssimas aulas na Salpêtrière:
Uma doente, depois de violenta crise provocada por uma emoção, esquece tudo, desde um mês antes da crise (amnésia retrógrada), e depois não pode fixar nada nem guardar nenhuma lembrança (amnésia atual).
Charcot, o célebre investigador do hipnotismo em doentes, analisa assim o caso em aula:
"Na realidade, os fatos que ela esquece tão rapidamente no estado de vigília, e que não pode fazer aparecer no seu consciente estavam verdadeiramente registrados (pelo inconsciente). A prova é que, espontaneamente, ela conseguiu lembrá-los de noite, no sonho. Mandamos que fosse observada por dois vizinhos de cama e comprovamos assim que ela freqüentemente sonha alto e que nos seus sonhos faz, às vezes, alusão aos acontecimentos... que é incapaz de fazer reviver no estado de vigília".

"Mas a prova de que o inconsciente se lembra de tudo está, especialmente, no fato seguinte: esta mulher que conseguimos hipnotizar, encontra durante a hipnose, todos os fatos sucedidos até o presente momento, e todas as lembranças revivem associadas, sistematizadas, de modo que formam uma trama contínua e como que um segundo eu, que contrasta estranhamente como o eu oficial do qual todos conheceis a amnésia profunda".

APRENDIZADO IMEDIATO DE COISAS COMPLEXAS - Entre os casos espontâneos é clássico o referido por Michée e citado por muitos autores:
Um jovem açougueiro, num acesso de mania, recitava páginas inteiras da "Fedra" de Racine. Curado da sua mania, por mais esforços que fizesse, não conseguia recordar-se de um verso sequer. Declarou ter ouvido uma só vez a leitura dessa tragédia, quando pequeno.

Poucas coisas são tão complexas quanto as línguas. O próximo artigo leva como subtítulo. "O inconsciente, a melhor escola de línguas". É por isso que não nos deteremos agora no tema da complexidade dos dados que pode arquivar o inconsciente.

EXTENSÃO QUALITATIVA - Mede-se a memória não só pelo tempo durante o qual retém os dados aprendidos (extensão temporal, de que logo falaremos), nem tão pouco só pela quantidade de dados que é capaz de armazenar (extensão quantitativa ou complexidade, à qual acabamos de aludir); mede-se também pela minuciosidade dos detalhes que chega a conservar. Isto vem a ser a extensão qualitativa.

Em matéria de detalhes, isto é, no aspecto qualitativo, o inconsciente chega a limites insuspeitos.

Desde Bottley, são relativamente freqüentes na hipnose experiências como a seguinte:
"Coloca-se sob os olhos do sonâmbulo (hipnose profunda) uma série de folhas de papel superpostas e ordena-se-lhe que escreva (psicografia) à medida que se vai ditando. Após ter escrito algumas linhas sobre a primeira folha, esta é retirada subitamente, e ele prossegue escrevendo a Segunda folha. Opera-se da mesma forma com a terceira, depois com a quarta folha, etc., ficando escritas sobre cada uma delas apenas algumas linhas. Finalmente, ordenando-lhe que releia em voz alta tudo o que escreveu e que coloque a pontuação nos lugares necessários, ele pode executar tudo isto com extraordinária exatidão, não omitindo nenhuma palavra e fazendo as correções nos exatos devidos lugares das folhas retiradas". Sobre a folha em branco!

O fenômeno pode ser reproduzido aproveitando-se outros estados de inconsciência, diferentes da hipnose, como, p. ex. o sonambulismo espontâneo, durante o sono natural.
O Arcebispo de Bordeaux, colaborador no artigo "Sonambulisme" da "Encyclopedie Française", refere o seguinte caso:
Um jovem sacerdote, durante o sono levantava-se sonâmbulo para escrever sermões e compor música. O Arcebispo acompanhou o sonâmbulo várias noites seguidas. Com precisão matemática, o jovem, de olhos fechados, apanhava todo o material necessário. Quando compunha música, traçava primeiro as pautas com uma régua. As notas e o texto eram perfeitos, e, se havia erros, ao "reler", corrigia-os nos lugares correspondentes. Os sermões, lia-os em voz alta do começo ao fim com os olhos fechados! Corrigia as passagens de que não gostava. O Arcebispo, suspeitando que o sonâmbulo talvez enxergasse através das pálpebras fechadas, interpôs obstáculos, como folhas de papelão diante do sonâmbulo, quando este "lia". O padre continuava lendo calmamente, imperturbável. Outras vezes o Arcebispo substituía as folhas escritas por outras folhas de igual formato, peso, etc., e o padre "lia" sobre as folhas em branco o que estava traçado nas outras. Também corrigia nas páginas em branco os erros ou frases menos felizes, sobre os lugares exatos correspondentes aos das outras folhas.

Como se vê por estas manifestações, a minuciosidade da memória do inconsciente é assombrosa.

O TEMPO NA MEMÓRIA INCONSCIENTE - Eis outro fator de grande importância. Três aspectos que na realidade se interpenetram podem ser aqui considerados:

1) ATÉ QUE IDADE ANTERIOR PODEM RETROCEDER NOSSAS LEMBRANÇAS? - Já apontamos alguns casos de memória de fatos acontecidos antes do uso da razão e inclusive na primeira infância. Tais casos são relativamente freqüentes.

Mais ainda: um tipo de experiência é apresentado sob o aspecto e denominação de "regressão" na idade. O hipnotizado é levado pela força da sugestão a anos passados, reproduzindo então critérios, gestos, linguagem, ocupações ou jogos próprios da idade sugerida.

Alguns autores que não tem considerado suficientemente o assunto defendem a "regressão" a um estágio uterino anterior à mielinização, ou, inclusive, pré-uterino. Os melhores especialistas evidentemente contestam esse fato. Tais "regressões" são puramente fictícias. O paciente, submetido a sugestão, é capaz de criar magníficas fantasias. É verdade que, em alguns casos, o inconsciente poderá revelar fatos ocultos, e que depois se comprova corresponderem a épocas de pré-mielinização ou pré-uterinas sugeridas. Não se trataria nestes casos de autêntica lembrança do inconsciente, mas apenas, em última análise, de conhecimento atual paranormal, extrasensorial. Geralmente será mera projeção ao passado de conhecimentos atuais conscientes ou inconscientes.

Está claro que, na "regressão" hipnótica, não se trata de verdadeira regressão do tempo e que, portanto, não se pode esperar uma acomodação total da personalidade à idade sugerida como esperavam alguns hipnólogos menos avisados. O inconsciente toma do seu arquivo inúmeras lembranças, para fingir a "regressão" que se lhe impõe, mas nem por isso se desprende da personalidade adulta presente!

Há pessoas que "regridem" a idades infantis, e, submetidas ao teste de Rorschach, procedem aparentemente com psicologia infantil, o que demonstra a memória do inconsciente. Mas um psicólogo experimentado descobrirá logo detalhes de madureza, o que demonstra que a regressão é só aparente.

Um homem desenhou uma árvore com traços e ingenuidades próprias da idade sugerida de seis anos, mas não omitiu as raízes, detalhe que aos seis anos de idade autêntica teria omitido.

Outro indivíduo, depois de aceitar a sugestão de que tinha quatro anos, perguntado repentinamente sobre que horas eram não conseguiu reprimir um gesto de consultar o relógio de pulso.

Esses e outros exemplos, mostram que se trata de memória... e imaginação.

Outros autores, como Samuel Butler, querem ver no instinto, animal ou humano, uma memória inconsciente herdada. Mas será que os primeiros animais e os primeiros homens não tinham instintos? Em todo o caso, o instinto, reflexos incondicionados, fatores hereditários do caráter e outros, só num sentido muito lato poderão ser chamados "memória".

2) ATÉ QUE IDADE AVANÇADA SE ARQUIVAM AS LEMBRANÇAS? - Parece que até à morte. Mais ainda; como é sabido, é precisamente nos moribundos que o inconsciente parece aflorar mais, surgindo lembranças "até dos primeiros anos de vida".

Os velhos, com freqüência, lembram até conscientemente os seus primeiros anos, a sua infância, a sua juventude, e continuamente falam deles.

São muitos os casos em que pessoas muito velhas manifestam de repente por qualquer associação inconsciente lembranças tão antigas, tão esquecidas pelo consciente, que ninguém as reconhece como lembranças, dando origem a interpretações às vezes supersticiosas.

Tornou-se clássico em Psicologia Experimental o seguinte caso:
Uma anciã, ao passar por um lugar "no qual nunca estivera", "adivinhou" de repente que naquele local tinha havido plantações de violetas. Fato surpreendente porque aquele local, edificado e central, não poderia sugerir absolutamente tais plantas anteriores. Mas a senhora, sem poder explicar o motivo, estava convencida do que afirmava. Fizeram-se averiguações e comprovou-se que de fato, mais de trinta anos antes, naquele local se tinha derrubado um edifício, tendo ficado acertado que, até nova construção, o terreno serviria para plantações de um famoso jardineiro. A senhora, porém, ignorava absolutamente esta circunstância.

O tempo encarregou-se de elucidar a questão. O marido da senhora, intrigado também, pensou muitas vezes no assunto. Um dia, quase de repente, lembrou-se de que, pouco antes de ser vendida a propriedade, ele mesmo comprara lá um ramalhete de violetas para sua esposa, então convalescente de uma doença. Só então a esposa se lembrou de que seu marido, ao dar-lhe as flores, lhe disser onde as comprara.

Ambos haviam se esquecido, mas o inconsciente "não esquece nada". Ao passarem por aquele lugar, trinta anos após, efetuou-se a associação das idéias e brotou a misteriosa lembrança.

3) POR QUANTO TEMPO O INCONSCIENTE CONSERVA AS LEMBRANÇAS? - Implicitamente esta questão está já respondida nos itens anteriores: desde a infância até a velhice parece que o tempo não afeta a memória do inconsciente.

A CORRENTE DA MEMÓRIA - Para sabermos até que ponto chega a memória é importante mais um dado. Já temos até retardados mentais no consciente, como o famoso Fleury, foram calculados prodígios.

visto como as coisas acontecidas em estado consciente arquivam-se no inconsciente. Arquivam-se também no inconsciente as coisas acontecidas durante os mesmos estados de inconsciência. E a passagem de um estado a outro de inconsciência não está fechada para a memória do inconsciente. Por exemplo, o acontecido durante a inconsciência de uma crise histérica surge na hipnose. O acontecido na hipnose surge à tona, por exemplo, no desdobramento da escrita automática. O acontecido durante o sonho é lembrado, por exemplo, na alucinação quando se fixam os olhos numa bola de cristal, etc. Tudo parece indicar, pois, que a memória do inconsciente forma "uma trama contínua, ininterrupta", segundo a frase de Charcot já citada.

Eis um caso de lembrança, no sonho natural, de algo realizado na inconsciência da sugestão pós-hipnótica.

O Dr. Voisin hipnotiza um homem. Feito isto, sugere-lhe que ao acordar, em vigília, deverá assassinar uma mulher que então estava deitada num leito próximo, e sugere também que deve esquecer tudo. Acordado do sono hipnótico, sem saber por que o indivíduo dirige-se à cama que estava perto e sem hesitar apunhala um manequim de mulher, perfeitamente dissimulado.

Os magistrados, diante dos quais se realizava a experiência, não conseguiram do suposto assassino nem a confissão do crime nem a descrição do ato, nem o nome do cúmplice que o sugerira.

Era uma ação em vigília mas imediatamente esquecida por efeito da sugestão pós-hipnótica.

Três dias depois, o homem volta à Salpêtrière. Sua fisionomia mostra as marcas do sofrimento moral intenso e de insônia pertinaz. Queixa-se de ver todas as noites, assim que adormece, uma mulher que o acusa de tê-la assassinado com uma faca. Acorda sempre excitadíssimo. Rejeita o sonho como absurdo, mas conciliando novamente o sono, surge o mesmo sonho da trágica aparição. Os médicos tiveram então de explicar-lhe tudo para que o pobre homem não ficasse louco.

Bernheim, depois de fazer muitas experiências corroborando o fenômeno de que pelo hipnotismo se podem relembrar fatos que pareciam totalmente esquecidos ou nunca percebidos, passou nas suas experiências ao fenômeno de que agora tratamos. Demonstrou até a saciedade como durante a hipnose podem ser lembrados todos os fatos que em anteriores hipnoses haviam realizado, mas com a sugestão pós-hipnótica (eficaz portanto, só para o consciente) de que depois fossem esquecidas. Pede-se a um hipnotizado que descreva o que se lhe mandou esquecer e é curioso comprovar quão perfeitamente se lembra de tudo o que, quando consciente, chega a pensar que não viu nem sentiu.

A "corrente" da memória fora já amplamente confirmada por Janet.

UMAS CONCLUSÕES PRÁTICAS - A sugestão pós-hipnótica para esquecimento não é eficaz no inconsciente. Sugestões pós-hipnóticas de esquecimento, por exemplo, de traumas para cura de psiconeurose, muitas vezes não corresponderão ao método mais indicado, pois, passado algum tempo, por efeito de associações ou certas contradições espontâneas, o trauma "esquecido" pode surgir de novo à tona.

Não se deve pensar, outrossim, que certas sugestões até ridículas, não são perigosas pelo simples fato de que depois se dão sugestões pós-hipnóticas de esquecimento. É este um dos perigos da hipnose de palco.

Pantomnésia - A memória do inconsciente

PANTOMNÉSIA OU HIPEREMNÉSIA? - Se somos pantomnésicos (do grego "mnésis = memória, e "pantõm" = de todas as coisas) lembramos tudo, absolutamente tudo. Se somos hiperemnésicos (do grego "hiper" = sobre, extraordinário; e mnésis = memória) então nossa memória inconsciente seria, sim, admirável, superaria tudo o que geralmente se pensa, mas não seria precisamente memória de tudo.

O dilema é antigo. Foi Richet que propôs o termo "pantomnésia": "Para indicar -escreve- que a memória não esquece nada e que tudo o que impressiona nossos sentidos (acrescentamos nós: ou todo ato da nossa inteligência, vontade, imaginação...) permanece fixado no cérebro inconsciente, eu proporia a palavra 'pantomnésia'. Pela sua etimologia, significa que nenhum vestígio do nosso passado cognoscitivo se apaga".
Não é possível provar experimentalmente que não se esquece absolutamente nada. Mas a pantomnésia parece lógica. Em todo caso, embora houvéssemos de conceder que talvez possa se apagar alguma coisa da nossa memória inconsciente, o fato indiscutível é que o inconsciente arquiva muito mais do que ordinariamente se poderia suspeitar. E na Parapsicologia, se algum fenômeno pode explicar-se por memória inconsciente, é evidente que não devemos recorrer a outras explicações mais "misteriosas" como os fenômenos paranormais, e muito menos a explicações ultra-terrenas ou ao absurdo da reencarnação, como já Richet formulou: "Provavelmente, todos somos pantomnésicos. Em todo caso, na apreciação dos fenômenos metapsíquicos, devemos admitir que não esquecemos absolutamente nada".
A PANTOMNÉSIA NA VIDA QUOTIDIANA - A memória é como um desses enormes blocos de gelo que os ingleses chamam "iceberg". Só uma pequena parte aparece sobre a superfície do mar, a memória consciente, a memória atual se é que podemos empregar essa expressão. Mas, da superfície pode-se ver também uma pequena parte do "iceberg", contanto que queiramos olhar para baixo: é a memória pré-consciente. São todas essas lembranças que temos arquivadas e às quais agora, por exemplo quando estamos lendo estas linhas, não prestamos atenção. Mas basta que queiramos e nos lembraremos como é o nosso nome e o dos nossos parentes, e onde moramos, em que ocasião fizemos uma viagem de avião pela última vez etc. Basta olharmos para baixo, sob a superfície do mar, ao pré-consciente. Há outra zona do "iceberg" que não vemos nem mesmo se olharmos para ela. Mas se o "iceberg" se inclinar ou revirar, essas lembranças irão emergir. Isto acontece porque as circunstâncias (associação de idéias inconscientes) procuraram ou reclamaram tal lembrança.
Às vezes é bem longo o tempo empregado pelo arquivador, até encontrar a lembrança que procura:
Brockelbank, por exemplo, perdera um canivete de estimação. Procurava-o em vão. Conscientemente decidiu não pensar mais no assunto. Mas o inconsciente ficou alerta. Certa noite, seis meses mais tarde, o inconsciente conseguiu encontrar a lembrança arquivada. Brockelbank sonhou então que usava umas calças velhas, há muito tempo abandonadas, e que lá se encontrava o canivete. Por que sonhou isto? Intrigado, quis ver se era verdade e foi em busca das calças. No bolso com o qual sonhara estava o canivete.
Muitas das chamadas "intuições" ou "inspirações" do momento são, no todo ou em parte, lembranças do que ouvimos, lemos, pensamos em ocasiões anteriores. Mas passam quase sempre despercebidas no seu aspecto de lembranças.

Podemos fomentar a associação de imagens e excitar o inconsciente, fazendo, assim, trabalhar o arquivador.

Conta-se na biografia do sábio espanhol Amor Ruibal que sua prodigiosa memória consciente (pré-consciente) permitia-lhe encontrar sem fichário o que precisava na sua confusa biblioteca pessoal. Um dia, porém, a memória consciente falhou e apesar de empregar várias horas não encontrou um folheto raro sobre o Código de Hammurabi.
Encarregou alguns auxiliares de vasculharem dependência por dependência, livro por livro, pasta por pasta, para encontrar o folheto. Inútil. Aquela noite deitou-se profundamente contrariado e preocupado, pois precisava com urgência do folheto, e em sonhos viu o folheto em determinado lugar inesperado. Acordou. Rapidamente foi ao lugar para constatar se era verdade... Lá estava o folheto extraviado.

O inconsciente, aguçado pelo desespero da situação "trabalhou no seu arquivo" toda a noite, até encontrar a lembrança desejada.
Maury, esforçava-se por lembrar determinada coisa interessante antes de deitar-se à noite. E assim muitas noites ia "provocando" o arquivador. Em sonhos, com alguma freqüência, vinham lembranças e mais lembranças.

Método quase idêntico, embora admita melhor técnica, é o da hipnose. Pela hipnose, em alguns casos, podemos obter excelente ajuda para a vida prática, sob a direção de algum médico ou psicólogo técnico em hipnotismo, com o que reduziremos ao mínimo o perigo de fomentar o automatismo e outras decorrências perigosas.

Um conhecido especialista em hipnose refere-nos o seguinte caso:
A Srta. W procurava encontrar uma comercial muito importante, que perdera um ano antes da nossa entrevista... Em estado hipnótico, e em resposta a perguntas específicas, disse, primeiro, quando recebera a carta; depois, em que oportunidade a utilizara; e por último, quando a vira pela última vez. Foi no quarto para hóspedes, de sua tia, em Boston, enquanto preparava a mala para viajar.
- "Não a colocou na mala?"
- "Não".
- "Desde então não a viu mais?"
- "Não".
Acordando-a, informei-a de que deixara a carta no quarto para hóspedes em Boston. (Em vigília ela afirmara que a última vez que tinha visto a carta fora num escritório de New York). Ela não acreditava ser isso possível, mas disse que o comprovaria escrevendo para sua tia. Algumas semanas mais tarde, fui informando de que a investigação confirmara a revelação feita durante a hipnose. A carta fora encontrada em Boston. Felizmente, sua tia a tinha guardado.

Por meio da hipnose ou associações, testes, drogas, etc., o psiquiatra poderá obter algumas vezes do inconsciente lembranças que o auxiliem na recuperação do paciente. Com a colaboração do médico ou psicólogo hipnotizador o advogado poderá obter dados preciosos para a reconstituição dos fatos do seu cliente, etc.
Uma experiência quase de rotina é a comprovação da memória do inconsciente durante a hipnose. Pela hipnose chegou-se por vezes a bastante profundidade do arquivo. "Em conseqüência, a imaginação exalta-se também, dando à linguagem dos pacientes um brilho e um colorido notável: a memória reproduz com notável precisão cenas e pormenores que, em estado de vigília, estão completamente esquecidos, ou jamais fixados".
O cérebro humano é o mais perfeito e completo.
A CRIPTOMNÉSIA - Para chegar às capas mais profundas do "iceberg" não há técnicas suaves. Tratar-se-ia de causar uma tempestade, um profundo desarranjo no psiquismo. Diríamos dar a volta ao psiquismo, ou fazer explodir o "iceberg", excindir a personalidade de forma que, consciente e inconsciente "se apresentem em público" conjunta ou sucessivamente: dupla personalidade, tríplice, etc.

Às vezes, estes profundos desarranjos, surgem como resultado de graves traumas físicos ou psíquicos, assim como doença, acidente, golpes na cabeça, desgraças, medos...
Especialmente estas manifestações do inconsciente mais profundo sempre se apresentaram nimbadas de mistério, porque só recentemente se descobriu a origem na memória do inconsciente. É por isso que a memória do inconsciente foi chamada também "criptomnésia", que etimologicamente significa "memória oculta". Explicando o conceito diríamos que é a memória sem aparecer como tal, sem se saber que se trata de lembranças.

Uma grande parte do próximo artigo poderia ser aduzido aqui, como exemplo de "lembrança ocultas", resultado de profundo desequilíbrio psicofísico.

Talento do Inconsciente um gênio desconhecido.

O mundo dos sonhos.
Quantas vezes as pessoas procedem de maneira esquisita "sem saber por quê". Quantas vezes muitas pessoas estão tristes e não sabem o motivo. Numa boa porcentagem dessas ocasiões uma análise profunda descobriria os motivos inconscientes de ordem intelectual. Sensações inconscientes e fatos arquivados no inconsciente, se associam.
Na fase sonambúlica da hipnose comprova-se facilmente a associação inconsciente. A memória se exalta reproduzindo com pasmosa exatidão cenas, pormenores, conhecimentos que pareciam totalmente esquecidos. A imaginação, por sua vez, aviva-se também, a linguagem atinge um brilho e colorido notáveis. Nada, pois, tem de estranho que a atividade intelectual inconsciente se exalte também ao máximo. Os casos que o comprovaram são numerosíssimos.

Para citar um caso concreto, eis, tomado quase ao acaso, o que refere Renaud:
No estado de sonambulismo hipnótico um parente do próprio Renaud resolvia fácil e elegantemente um problema de trigonometria. Antes e também depois da hipnose, porém, via-se embaraçado com o problema, na realidade difícil.

O inconsciente estava atualizado e combinava mais dados, resolvendo o problema com notável facilidade.

DORMINDO SOMOS MAIS INTELIGENTES DO QUE ACORDADOS

O talento do inconsciente é, às vezes, tão grande, que alguns autores foram levados erroneamente a atribuir responsabilidade ao sono. Freud o fez, por exemplo, e Grünewald.
O problema já é antigo. O famoso teólogo e filósofo Caramuel endereçava em Wurzburg no ano 1645, uma carta sobre o assunto ao famoso cientista da época, Pe. Atanásio Kircher S.J., professor na Universidade Gregoriana. Defendia a "responsabilidade nos sonhos, porque havia neles inteligência" (!).

O aspecto da inteligência é o que nos interessa: "Examinando muitos sonhos meus e de outros, encontro circunstâncias nas quais não se pode descobrir imaginação ou fantasia. Ainda mais, neles se percebe inteligência bastante cultivada e sutil". Em continuação, refere um exemplo dentre os sucedidos a ele mesmo:

Caramuel sonhava que assistia a uma discussão solene. Nela, convidado a impugnar as teses defendidas, o fez com todo vigor e eficiência e com argumentos inéditos. Ao acordar, impressionado, examinou os argumentos empregados no sonho. Comprovou que eram perfeitos e certamente inéditos.

O inconsciente, com os conhecimentos do sábio teólogo e filósofo, os elaborara. Em vigília dificilmente teria conseguido esse resultado. A carta conclui: "O entendimento do homem dormindo não descansa, mas trabalha sempre e, às vezes, perfeitissimamente. Mais ainda, com mais perfeição do que na vigília".

O descobrimento do talento do inconsciente é, pois , muito anterior a Freud. E inclusive antes de Caramuel o descobrira Platão, como veremos. Depois de Freud, o reconhecimento do talento nos sonhos é bastante geral. Assim, por exemplo, Erich Fromm concluía nas suas aulas no Instituto de Psiquiatria William A. White e no Bennington College de New York que "nos sonhos produzem-se operações intelectuais superiores às que realizamos estando acordados".

INTUIÇÔES - A intuição é uma visão intelectual que parece vir do fundo da alma, uma revelação provinda do interior e que não depende do esforço mental. De repente, percebemos alguma coisa que, depois, freqüentemente comprovamos ser preciosa e verdadeira.

Pasteur, como conclusão de uma ampla pesquisa, dizia que as grandes intuições só eram dadas aos que se preparavam para recebê-las. O investigador, o experimentador, o filósofo, tem de repente uma intuição genial, sem saber de onde proveio, mas antes tinham empregado muito tempo e energia em procura da solução que agora se apresenta súbita, "irracional", "sem lógica".

O Dr. Irving Langmuir, no discurso pronunciado a 16 de dezembro de 1942 ao deixar o cargo de presidente da "American Association for the Advancement of Science", comunicou: "Freqüentemente subestimamos a importância da intuição. Em quase todos os problemas científicos, inclusive naqueles que nos tomaram dias e meses de trabalho, a solução final se apresentou ao nosso espírito numa fração de segundos, por um processo que, conscientemente, não deve nada ao raciocínio". È o resultado de um raciocínio inconsciente.
Persigout, matemático, demonstrou que Descartes, como Kepler, Pascal e outros deveram uma grande parte das suas descobertas ao trabalho do inconsciente.
INTELIGENTES REALIZAÇÕES DO INCONSCIENTE - Eis em rápidas pinceladas alguns dos muitos casos de manifestações inteligentes do inconsciente recolhidos por diversos autores:
Zwinger refere o caso de dois senhores que, de noite, se levantavam dormindo e escreviam versos. "Um deles, escreve Voronff, traduzia-os do alemão para o latim; o outro, professor de poesia grega, fatigado por ter passado escrevendo o dia todo versos gregos, deixou a poesia por concluir. Qual não seria, porém, a sua surpresa na manhã seguinte quando, levantando-se para terminar a sua obra, descobriu que o trabalho já estava concluído e com a sua própria letra!" Da mesma maneira escreveu também versos gregos Woehmer von Göttingen.

A versificação latina e grega é muito complicada...
Mais ainda: La Fontaine e Condillac escreveram trabalhos inteiros de noite, sonâmbulos, sem deixar de dormir.
Coleridge afirmou ter escrito o "Kublai Khan" enquanto dormia sob a influência de um analgésico.
Do mesmo modo, um filósofo estóico escreveu livros em várias etapas, segundo nos afirma o historiador Diógenes Laertius.
Trata-se de uma obra literária e de outras filosóficas: precisa-se grande trabalho intelectual.
Voltaire relata que um canto inteiro da sua "Henriade" lhe ocorreu durante um sonho. "No meu sonho eu disse coisas, que dificilmente teria pronunciado na véspera. Passavam-me pela mente pensamentos concebidos sem que eu tivesse tomado parte (consciente) neles. Não tendo nem vontade nem liberdade (no mecanismo inconsciente do sonho) combinei idéias inteligentes e até com certa genialidade".
Trata-se de idéias até geniais!
O investigador francês Fehr assinalou que os sábios mais produtivos da sua época realizaram de 75 a 100 por cento de suas descobertas e invenções por intuição ou por sonho:
Um caso muito conhecido de descoberta durante o sonho é o da cadeia benzínica. O descobridor, F. A. Kekule von S., tinha durante muito tempo procurado inutilmente a fórmula química do benzeno. Uma noite a viu em sonho. Teve sorte de lembrar-se dela ao acordar.
O médico canadense F. G. Banting trabalhou arduamente no assunto da diabete. Estudou as mais diversas soluções que a medicina apontava para explicar e dominar o mal. Nada o satisfazia. Um dia trabalhou desenfreadamente para encontrar uma solução. Inútil. Cansado, esgotado já, foi dormir de mau humor porque no dia seguinte deveria pronunciar uma conferência sobre o diabete e lamentava não poder oferecer uma solução satisfatória, embora pressentisse que esta solução tinha que existir. Durante a noite, sonâmbulo, levantou-se e escreveu numa beirada de papel estas palavras: "Ligar o conduto deferente do pâncreas de um cão de laboratório, esperar algumas semanas até que a glândula se atrofie, cortar, lavar e filtrar a secreção". De manhã não tinha a menor idéia de ter-se levantado nem de ter escrito, nem sequer de ter encontrado a solução que procurava. Só ao ver a anotação compreendeu o que se passara. Assim foi como o mundo ganhou a insulina.
ESTADO CREPUSCULAR - O trabalho do inconsciente aparece ou se exerce também freqüentemente no período de desdobramento da personalidade ou em qualquer outro estado, inclusive de vigília, que obnubile mais ou menos o consciente em benefício do inconsciente.
Todos conhecemos esse estado de semiconsciência, estado crepuscular, que medeia entre a vigília e o sono. Nem dormimos nem estamos acordados. Estamos simplesmente num estado de transição. O transe espírita, o sono hipnótico, etc., são às vezes um estado similar. Pois bem, este estado, em que o consciente deixa em suficiente liberdade o inconsciente, é muito favorável às manifestações das elucubrações do inconsciente.
É o caso típico da Srta. Frank Miller. Escreve o grande parapsicólogo Dr. Teodoro Flournoy: "Médium espírita, a Srta. Miller acreditaria, sem sombra de dúvidas, ser a reencarnação de uma princesa da antigüidade histórica e pré-histórica e não teria deixado de dar-nos interessantes revelações sobre a sua preexistência egípcia, assíria ou inclusive asteca".
Muitas pessoas espantam-se freqüentemente com esta classe de fenômenos do talento do inconsciente, realizados nas suas sessões por médiuns em transe. Sabem elas quantos dados capta e armazena o inconsciente, mesmo de uma pessoa inculta? É o desconhecimento das possibilidades do inconsciente, que levou tantas pessoas a atribuir tais fenômenos a manifestações do "além".
"POSSUÍDO" PELO INCONSCIENTE - Particularmente os grandes poetas, pintores, músicos, etc., devem muitas das suas melhores obras de arte ao inconsciente.
A este respeito, um interessante estudo foi feito recentemente por Francesco Egidi. O autor expõe como os grandes músicos sentem freqüentemente uma espécie de orquestra mental dentro de si.
Foi notável o caso de Beethoven que sentia zumbidos nos ouvidos e uma "orquestra infernal" na cabeça quando compunha suas melodias.
A atividade inconsciente do gênio era acompanhada por estímulos do centro auditivo do cérebro.
Noutros artistas a atividade inconsciente chega a tal ponto que desaparece totalmente o consciente:
Como Frei Angélico. Pintava em arroubos de êxtase, em transe. A atividade inconsciente dominava as energias tomando conta da "máquina humana", na sua totalidade física e psíquica.
Os antigos, observando que os grandes artistas não trabalham, produzem, inventaram as musas. Umas deusas de Segunda categoria que inspirariam aos artistas. E a palavra ficou. Ainda hoje dizem: "Hoje não estou inspirado". Inspirado por quem? Ainda acreditas nas musas?
Como se falou em "musas", depois em "gênios", demônios e mais tarde em "espíritos", dir-se-ia que os grandes artistas são influídos por inteligências estranhas. Nesse sentido o escultor Ernesto Biondi considerava os artistas como "médiuns, possuídos por seu próprio inconsciente". Na realidade é somente o inconsciente, inconsciente estranho e, por vezes, contrário ao consciente.
UMA VIAGEM A MARTE - Mas para que se possa ver até onde chega o inconsciente nas suas elaborações, usando Paisagem do planeta marte segundo Helena Smith. Toda a trama do talento inconsciente enganou todo o mundo... dados armazenados na sua memória colossal, combinando-os com assombroso talento, acredito que o caso da médium espírita Helena Smith seja dos mais significativos, ao menos por ser dos mais estudados.
A médium Helena deu umas sessões espíritas sob o controle do Dr. Lemaitre.
Assistia às sessões uma senhora que tinha perdido seu filho, Alexis, três anos antes. Pediu-se então a Helena que evocasse o "espírito" de Alexis. Helena deu algumas respostas, como se proviessem de Alexis. Nada, porém, de notável.
Aconteceu um dia, no entanto, que o professor Lemaitre falou a um parente de Helena sobre o interesse em saber o que havia nos outros planetas e concretamente em Marte. Um mês mais tarde já o inconsciente de Helena começava a dar os primeiros sinais de suas elaborações de aventuras marcianas.
Numa sessão, Helena durante o transe viu à grande altura uma luz resplandecente, afirmando que se sentia oscilar. Logo se sentiu penetrando numa nuvem muito espessa, primeiro azul, depois cor-de-rosa brilhante, depois cinzenta, por fim, preta. Sentiu-se flutuando no espaço. Logo depois via uma estrela que ia aumentando, até ficar "maior que uma casa". Helena sentia que ia subindo. No começo sentia os incômodos da viagem, agora começava a sentir-se melhor. Distinguiu três globos: um deles era muito bonito. "Para onde caminho?" -perguntou a médium- e, servindo-se de um vocabulário convencional por movimentos da mesa, responderam-lhe os "espíritos" (ponho sempre "espírito" entre aspas porque não há espírito humano sem corpo, mortal ou ressuscitado): "Para uma outra terra, Marte. Lemaitre, é o que você desejava tanto!"
Helena descreveu as saudações quando da sua chegada a Marte: Gestos barrocos das mãos e dos dedos, estalos duma mão sobre a outra, golpes ou aplicações destes ou daqueles dedos sobre o nariz, os lábios, o queixo; reverências contorcidas e rotações dos pés sobre o chão. Descreveu todo o que via: carros de cavalos sem cavalos nem rodas, deslizando e produzindo faíscas; casas com ondas sobre o telhado, um berço que no lugar de cortinas tinha anjos de ferro com as asas estendidas. As pessoas eram como nós, salvo nas roupas, iguais para ambos os sexos: umas calças muito amplas e uma comprida blusa apertada à cintura e recamada de desenhos.
Numa vasta sala de conferências, encontrou, na primeira fileira dos ouvintes, Alexis, o filho da senhora que assistia às sessões espíritas de Helena.
Ora, Alexis, cujo nome em Marte era Esenale, estava ouvindo uma conferência em marciano.
Lógico, portanto, que quando mais adiante falasse por meio de Helena soubesse fazê-lo em marciano. O inconsciente de Helena precisou tempo para ir elaborando, devagar, a língua dos marcianos. Mas no fim o êxito foi completo.
Alexis, no começo, falava francês. Mas de repente, passou a entender apenas e falava exclusivamente o marciano. Alexis falou numa difícil língua, desconhecida na Terra. Era "a língua de Marte".
As sessões seriam emocionantes se não fosse o trágico engano!
Numa ocasião, a verdadeira mãe de Alexis ajoelhou-se soluçando diante de Helena, por meio da qual estaria falando seu filho. Alexis, então, consolou-a em marciano, com gestos tão doces e inflexões de voz tão ternas que a pobre mãe se sentiu enlevada.
V. Henry e principalmente Th. Flournoy estudaram a fundo a língua marciana de Helena Smith.
Analisaremos o marciano, ligando as frases mesmas usadas pelos pesquisadores:
"O inconsciente tinha elaborado uma linguagem propriamente dita". "Para entendê-la era preciso estudá-la, para traduzi-la precisava-se de um dicionário, no qual cada palavra tinha seu significado próprio".
"O marciano era uma língua completa, tinha sua escrita especial, combinação especial de caracteres". "Estudado a fundo logo se via que não se tratava duma simples gíria ou algaravia de sons quaisquer, ditos ao acaso. Eram palavras, palavras que expressavam idéias e a relação entre palavras e idéias era constante, sendo constante a sua significação".
O marciano tinha, como todas as línguas, "consoantes prediletas, sotaque característico, letras predominantes. Tinha, por exemplo, superabundância de 'e' abertas e fechadas, abundância de 'i' e escassez de ditongos e nasais".
DESVENDA-SE O MISTÉRIO - Tal foi o prodígio, que muitos especialistas, grandes sábios, chegaram a pensar que era de fato uma linguagem extraterrena.
Mas precisos e pacientes estudos demonstraram que se tratava só de uma modificação, inconsciente, do francês. Irei citando entre aspas as frases usadas pelos pesquisadores que estudaram o caso diretamente com Helena Smith, especialmente frases dos grandes parapsicólogos Teodoro Flournoy, Augusto Lemaitre, Victor Henri, José Grasset, João Lhermitte...
Em primeiro lugar comprovou-se que "o marciano se compunha de sons que, tanto consoantes como vogais, existem todos em francês". "A língua do planeta Marte não se permite a mínima originalidade fonética", O mesmo acontecendo com a escrita: "Todos os caracteres marcianos e todos os caracteres franceses se correspondem dois a dois".
Ora, nas línguas reais, isto não existe jamais. Por mais parecidas que sejam as línguas e por mais próximos que estejam geograficamente os povos que as falam, sempre possuem algum som próprio.
"Um considerável número de palavras marcianas" "reproduz de modo suspeito o número de sílabas ou mesmo de letras de seus correspondentes franceses e imita às vezes até a distribuição das consoantes e Das vogais".
Com admirável paciência, Flournoy reproduziu, traduziu e analisou quarenta e um textos marcianos demonstrando que as regras de gramática e sintaxe marcianas não são mais do que "um decalque ou uma paródia das regras do francês". Assim , por exemplo, em francês, os sons análogos "á" e "a", preposição e verbo respectivamente, traduzem-se em marciano pelos sons "é" e "e". A palavra francesa "que" tem muitos empregos; em marciano tem as mesmas funções a palavra "Ke". "Le", artigo e pronome francês, corresponde ao marciano "Ze", também artigo ou pronome, etc.
"Nas frases, a ordem das palavras é absolutamente a mesma em marciano e francês. E isto até nos detalhes"; a separação, por exemplo de "ne ---- pas". Até a introdução de uma letra em certas circunstâncias fonéticas: "Quand revendra-T-il?" em francês; "Kevi berinmi-M-eb?" em marciano.
"O procedimento de criação do marciano parece consistir simplesmente em pegar as frases francesas tal qual são e substituir cada palavra por outra" qualquer fabricada a esmo, mas freqüentissimamente com "o mesmo número de sílabas e letras". O resultado de tudo isto é que as frases são, sim, diferentes das francesas, mas na sua estrutura interna, fonética, sintática e gramatical são idênticas. Flournoy previu "a necessidade de um dicionário; não, porém, de gramática" nem de fonética.
"O sonho de Dickeres" desenho que representa o genial novelista sumido em leve sonolência, donde tirava a trama e criava imagens e personagens memoráveis.
O DESENVOLVIMENTO DA MÉDIUM - O inconsciente precisa, geralmente, algum tempo para "ir abrindo a porta do desvão" onde está escondido, e manifestar-se. Em regra se manifesta gradativamente. No começo das manifestações é fácil aos especialistas descobrir as explicações dos fenômenos. Quando um mago já se desenvolveu, i. é, quando o inconsciente já tem bastante ou totalmente aberta a porta, pode resultar dificílimo ao pesquisador explicar as manifestações a não ser por comparação com outros casos semelhantes observados do começo.
No caso Helena Smith teria sido difícil aos pesquisadores explicar a aventura e mormente a língua marciana se não tivessem acompanhado os acontecimentos do começo. A elaboração foi progressiva. "No começo o marciano é uma linguagem muito imperfeita, rudimentar", "um pseudomarciano", "um quebra-cabeças desordenado", "uma pueril imitação do francês, do qual conserva em cada palavra o mesmo número de sílabas e certas letras principais". "Só meio ano depois o inconsciente tinha elaborado uma linguagem propriamente dita".
O inconsciente precisou tempo para manifestar parte das suas possibilidades. Mas após a aventura marciana já temos um inconsciente bastante desenvolvido, a porta já está bastante aberta. O tempo necessário para novas elucubrações é cada vez menor, o talento inconsciente de uma pessoa inculta aparece cada vez mais prodigioso.
Somente dezessete dias depois de umas objeções de Flournoy, Helena manifesta novamente o prodigioso talento do inconsciente. "Os novos costumes e a nova língua são agora localizados num outro planeta sem nome e desconhecido". É o ciclo chamado "ultramarciano". "Eu tinha acusado - escreve Flournoy - a quimera marciana de não ser mais do que uma imitação, envernizada com brilhantes cores orientais, do meio civilizado que nos rodeia. Agora aparecia um mundo de um extravagância medonha, com chão preto onde toda a vegetação era eliminada e os seres, grosseiros, mais pareciam bestas do que homens. Eu tinha insinuado que as casas e os habitantes de Marte deveriam ser de dimensões e características diferentes das nossas, e eis que os habitantes do novo globo eram verdadeiros anões, com cabeças duas vezes mais largas do que altas, e as casas em proporção. Salientei a riqueza do marciano em 'i' e em 'e', incriminei o som 'ch', a sintaxe em geral (...) tomados do francês. E eis uma língua absolutamente nova, de um ritmo todo particular, extremamente rica em 'a', sem nenhum 'ch' e cuja construção era tão diferente da nossa, que não havia meio de encontrara semelhança". Tudo em só 17 dias!
E logo novas manifestações cada vez em menos tempo. A porta cada vez mais aberta. Já basta uma semana, três dias, um dia só! "Tinha eu feito alusão à existência possível de outras línguas" em outros planetas, sugere Flournoy, e com essas novas sugestões aparecem novas viagens à Lua, Urano, Júpiter, Netuno, etc., com suas correspondentes línguas.
Falando em Buenos Aires com o Diretor Nacional da "Sociedad Espiritista Constancia", que agrupa o espiritismo mais culto (ou menos inculto) da Argentina, dizia-me ele depois de assistirmos a uma sessão: "Professor, não é certamente um argumento incontestável da incorporação dos espíritos nos médiuns o fato de que esses últimos até analfabetos tenham feito discursos inteligentes e dado conselhos acertados?" Limitei-me a perguntar por minha vez: "Sabe o senhor do que é capaz o talento do inconsciente, mesmo de um analfabeto?"
DRAMATURGO E NOVELISTA ÀS VEZES ATÉ AO EXAGÊRO - Outro aspecto do trabalho do inconsciente é o do aumento da dramatização e simbolização, a partir de estímulos, às vezes mínimos, imperceptíveis, talvez só hiperestesicamente captados.
O fenômeno foi provocado experimentalmente por Alfred Maury L. F, provavelmente o melhor pesquisador dos sonhos neste aspecto do talento. Maury pedia que quando adormecido, outra pessoa lhe causasse diferentes excitações pequenas. Comparando depois o sonho com o pequeno estímulo, era possível à base de muitas experiências deduzir o comportamento do inconsciente.
Assim, por exemplo, faziam-lhe cócegas, delicadamente, com uma pena de ave nos lábios ou no nariz. E Maury sonhava que o estavam submetendo a um horrível suplício, que lhe colocavam uma máscara de piche na face e que depois a arrancavam violentamente, levando juntamente a pele dos lábios, do nariz e do rosto.
Em outra experiência, a certa distância do ouvido do Maury, adormecido, riscava-se suavemente uma pena de aço com uma tesoura. Sonhava então que ouvia o barulho de sinos, que aos poucos aumentava até converter-se num toque ensurdecedor. Acreditava estar na revolução francesa de 1848.
Ainda na mesma ordem de coisas: destampava-se um vidro de água de colônia perto do adormecido Maury. Sonhava então que se achava numa perfumaria do Cairo, onde lhe aconteciam aventuras as mais pitorescas.
Ou então acendiam perto dele um fósforo, e Maury sonhava que estava no mar, no meio de um vento violento, e que um raio fazia explodir o depósito de munições do barco, pondo a tripulação em extremo perigo.
Na literatura onírica é célebre o seguinte sonho produzido casualmente por um estímulo externo.
Maury estava na cama, doente. Sonhou que se encontrava em meio dos terrores da revolução francesa. Depois de cenas terríveis, era conduzido perante o tribunal revolucionário, para um amplo e angustioso interrogatório. Condenado à morte, entre uma imensa multidão levavam-no ao cadafalso. Via com calafrios os preparativos da guilhotina. Atado ao cepo, sobe a lâmina, cai, e Maury sente como a cabeça se afasta do tronco. Em terrível angústia acorda, e compreende a origem do sonho. Mexendo-se quando dormia, tinha feito com que um dos suportes das cortinas da cama caísse sobre seu pescoço.
Um simples estímulo foi assombrosamente dramatizado.
COMUNICÕES DOS MORTOS? - Em certos ambientes, a dramatização tipo "comunicações dos mortos" é bastante freqüente. A difusão da superstição espírita é a causa de que o inconsciente adote este tipo de dramatização, dado a tendência que tem o inconsciente de acomodar-se ao meio ambiente.
Um jovem lembrava-se de que seu defunto pai tinha comprado e pago um pequeno terreno, mas não tinha podido ele herdá-lo por não possuir os documentos legais nem saber onde poderiam estar arquivados. Em processo judicial estavam-lhe disputando a posse, com manifesto perigo de perder ele o terreno. Preocupado, dormia na véspera do julgamento. Sonhando, viu seu pai, que lhe dizia estarem os documentos em casa de certo tabelião aposentado. Acordando, quis comprovar se era certo, e com efeito lá estavam documentos com os que venceu o pleito.
Trata-se do que chamávamos criptomnésia, i. é, "memória oculta", tão esquecido, que quando se lembra não parece lembrança. O inconsciente, excitado pelo perigo de perder o terreno, encontrou a lembrança arquivada do que o pai, quando vivo, tinha falado do assunto (Ainda caberia acudir a HIP e à Telepatia sobre o pai quando estava vivo, sempre vivo sobre vivo). Em sonhos o caso é dramatizado como um caso da inexistente comunicação dos "espíritos" dos mortos Lembre o leitor: ponho sempre "espírito" entre aspas porque não há espírito humano sem corpo, mortal ou ressuscitado)
Uma menina, passeando um dia com seu irmão, perdeu um canivete de muita estimação para ela. Passado algum tempo, este irmão morre. Uma noite a menina sonha que seu irmão a leva pela mão ao lugar exato onde está o canivete. A menina acorda, vai ao lugar sonhando e encontra o canivete.
Compreende-se -acrescenta o Dr. José Grasset- quão difícil será convencer esta menina de que não se trata de uma revelação de além-túmulo. E não obstante é um singelo caso de lembrança inconsciente.
As elucubrações do inconsciente podem produzir resultados tão extraordinários, de aparência tão completamente nova, de origem tão inconsciente, com funcionamento tão independente da vontade e advertência do sensitivo, que facilmente se prestam a superstições. Que natural o raciocínio de Helena Smith atribuindo a verdadeiros habitantes de Marte tudo o que seu inconsciente lhe manifestava durante o transe...
Como bem adverte Flournoy, "o eu inconsciente das médiuns é plenamente capaz de inventar um conjunto tão perfeito, que tenha as melhores aparências de comunicações do além. Verdade demasiado esquecida em certos ambientes: pessoas perfeitamente normais e sadias quanto se queira, ao menos em aparência, pelo simples fato de entregar-se às práticas mediúnicas podem romper facilmente o seu equilíbrio psíquico e dar lugar a uma atividade automática. Os resultados do automatismo simulam da mais perfeita maneira comunicações de além-túmulo, não sendo na realidade mais do que resultados do funcionamento inconsciente das faculdades ordinárias".
Deve destacar-se a sensação de absoluta independência entre consciente e inconsciente. O Pe. Almignana a custo conseguia responder às invectivas que seu inconsciente lhe dirigia e que com sua própria mão escrevia em movimentos automáticos. O padre não conseguia explicar como podiam encontrar-se nele mesmo, dois "eu", o "eu" inconsciente e o "eu" consciente, tão abertamente contrários um ao outro.
É esta sensação de estranheza, de modo especial, a que em épocas antigas levou muitas pessoas a pensarem que alguns sonhos eram mensagens sobrenaturais (oniromancia).
Ainda não há muitos anos era freqüente atribuir o sonambulismo hipnótico ao demônio, etc., não sabendo explicar nem o talento do inconsciente, nem a independência e até aparente aspecto contraditório, na realidade complementar, entre consciente e inconsciente.
A Visão Bíblica da Morte: Céu ou Inferno Eternos

A morte em si é uma condição de separação. De acordo com a Bíblia, há somente dois tipos de morte. Primeiro, existe a morte física, que envolve a separação temporária do espírito em relação ao corpo. Mais tarde, na ressurreição, o corpo será reajuntado ao espírito humano. Segundo, existe a morte espiritual ou a separação do corpo e espírito humanos em relação a Deus. Essa condição é irremediável.

A morte não é boa – ela jamais foi boa. A morte física – separação em relação ao corpo – não é boa, uma vez que o homem fica "despido" (2 Coríntios 5.4; Filipenses 3.21; 1 Coríntios 15), num estado fora do natural. A morte espiritual – separação de Deus – obviamente também não é boa, já que é eterna.

A "morte" e a "vida" são irreconciliáveis e condições opostas de existência, tanto nesta vida como na próxima. Sem Cristo, a morte conduz somente a uma coisa – julgamento eterno: "E assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo" (Hebreus 9.27). Mas com Cristo, a morte conduz à vida: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente" (João 11.25-26). E: "Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (João 5.24).

A Bíblia ensina que antes da salvação, mesmo estando vivos, todos os homens e mulheres existem num estado de morte espiritual ou separação de Deus. Seus espíritos humanos estão mortos para as coisas em que Deus está realmente interessado (veja Lucas 15.24-32; Efésios 2.1; 1 Timóteo 5.6; Apocalipse 3.1). Muito embora estando vivos fisicamente, eles não consideram o único Deus verdadeiro, nem Lhe agradecem, nem se importam com Seus interesses. Qualquer que seja o conceito de Deus que tenham, eles não aceitam o único Deus verdadeiro. Daí porque o próprio Jesus disse: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos", ensinando explicitamente que os seres humanos vivos ao redor dele estavam, no que dizia respeito a Deus, espiritualmente mortos (Lucas 9.60; Romanos 3.10-18).

A Bíblia nos ensina que a morte física e espiritual existe por uma razão – o pecado. Deus avisou Adão e Eva que se eles Lhe desobedecessem, morreriam naquele dia (Gênesis 2.17). Daí porque a Bíblia ensina que "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6.23).

Como o pecado causa a morte, o problema do pecado deve ser resolvido antes que a morte possa ser erradicada. Essa é a razão do ensino cristão da Expiação – que Cristo morreu pelos pecados do mundo. Como Jesus ensinou: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3.16). Qualquer um que recebe a Cristo como seu Salvador pessoal é "nascido de novo" ou vivificado espiritualmente. Essa pessoa recebe a verdadeira vida após a morte, ou, em termos bíblicos, a vida eterna (João 6.47). Mas o que realmente acontece, sem dúvida, é que o estado de morte espiritual do crente é cancelado no momento em que ele recebe a Cristo. Não mais haverá a possibilidade dele sofrer o julgamento de Deus por causa dos seus pecados, que é a segunda morte. Em vez disso, na hora da morte física, ele se juntará a Deus para sempre. Essa é a essência do termo "salvo". Mas deve-se frisar que o sistema é condicional. Os homens devem crer na morte expiatória de Jesus Cristo, ou não poderão ser salvos. Esta é a condição: que aceitem o que Deus fez através da Pessoa de Cristo.

A esperança cristã, portanto, está na ressurreição física e na imortalidade eterna baseadas na ressurreição e vida de Cristo, não em uma visão mediúnica de uma gradual auto-progressão espiritual depois da morte (Romanos 4.25; 1 Coríntios 6.14; 2 Coríntios 4.14; 5.1; Efésios 1.15-21; 2.4-10; Filipenses 1.21, 3.21; Colossenses 3.4, etc.). Os que aceitam a Cristo herdam o céu para sempre, enquanto os que rejeitam a misericórdia de Deus herdam o inferno para sempre.

Assim, a visão bíblica é que os salvos estão com Deus – eles estarão com Ele no momento da morte (Lucas 23.43; João 12.26; Atos 7.59; 2 Coríntios 5.8; Filipenses 1.23), enquanto os mortos não salvos estão confinados e sob castigo. Além do mais, não existe possibilidade de alterar a condição de alguém após a morte. A morte, portanto, não é extinção, como muitas seitas ensinam. Ela não envolve uma condição de reencarnação, onde a alma experimenta muitas vidas, como crê o ocultismo. Ela não envolve uma condição de união ou absorção final por alguma essência impessoal, divina, conforme muitas religiões orientais ensinam (Eclesiastes 12.5; Lucas 12.46-47; 16.19-31; Atos 1.25; Hebreus 9.27, 10.31, 12.27-29; Salmos 78.39; 2 Coríntios 5.11; 2 Pedro 2.4,9; Apocalipse 20.10,15).

Sem dúvida, se os salvos estão com Cristo e os não salvos confinados e sob julgamento, então os mortos não estão livres para perambular e, portanto, os supostos mortos das EQMs (Experiências de Quase-Morte) não são o que afirmam ser. [...]

Conclusão

Se cada um de nós vai morrer um dia, então o mais importante é ter a segurança de entrar a salvo na morte. Se temos ou não temos medo de morrer, não precisamos temer a morte se nossos pecados estão perdoados através da fé em Jesus Cristo. Você deseja conhecer o Deus vivo? Você deseja reconhecer o seu pecado diante d’Ele e receber Seu Filho? Se assim for, recomendamos-lhe a seguinte oração:

Senhor Jesus, eu reconheço humildemente que tenho pecado em meus pensamentos, palavras e ações, que sou culpado de fazer o mal deliberadamente, que meus pecados têm me separado da Tua Santa presença e que não tenho esperança de recomendar-me a Ti.

Eu creio firmemente que morreste na cruz por meus pecados, carregando-os em Teu próprio corpo e sofrendo em meu lugar a condenação por eles merecida.

Já avaliei ponderadamente o custo de Te seguir. Eu me arrependo sinceramente, afastando-me dos meus pecados passados. Desejo entregar-me a Ti como meu Senhor e Mestre. Ajuda-me a não me envergonhar de Ti.

Assim, agora eu venho a Ti. Creio que por longo tempo Tu tens estado pacientemente esperando do lado de fora da porta, batendo. Agora abro a porta. Entra, Senhor Jesus, e sê meu Salvador e meu Senhor para sempre. Amém.

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