Através dos anos, temos visto o surgimento e a queda de vários sistemas de aconselhamento psicológico. Escrevemos sobre alguns que influenciaram fortemente aqueles cristãos que buscavam incorporar sistemas de aconselhamento psicológico seculares no que eles denominavam “Psicologia Cristã” ou “Aconselhamento Cristão”. Nosso livro The End of “Christian Psychology” (O Fim da Psicologia Cristã) inclui descrições e análises de alguns dos teóricos mais importantes e seus modelos.[1]
Um sistema psicológico que não incluímos naquela época é a Programação Neurolingüística (PNL), que é a combinação de métodos de comunicação, aconselhamento, dinâmicas de grupo, manipulação e hipnose. Agora, entretanto, cremos ser necessário informar e avisar os crentes sobre a PNL.
A despeito dos poucos resultados de pesquisas sobre a PNL (ou NLP, em inglês), ela ainda está sendo usada hoje em dia por inúmeros conselheiros, inclusive conselheiros cristãos professos. Na verdade, há alguns que estão empacotando a PNL especialmente para os cristãos. Por exemplo, o site da “Christian NLP 2008” dizia sobre sua missão:
Ser uma das principais organizações centralizadas em Cristo no mundo, cujo enfoque é ensinar e treinar pastores, conselheiros e cristãos em geral, para usarem os instrumentos, padrões e processos que facilitam a realização do chamado e do mandamento de Romanos 12.2 para serem “transformados pela renovação do vosso entendimento”.[2]
Esse site estava conectado a outro site da PNL intitulado “Patterns for Renewing Your Mind International” [Padrões para Renovação de Sua Mente Internacional], projetado especialmente para cristãos.
O site incluía artigos, técnicas, testemunhos, informações para programas de treinamento, e até sermões para pastores que utilizam os instrumentos da PNL. A seção denominada “About Us” [Quem Somos] destacava um homem de nome Bobby G. Bodenhamer (D. Min.) que, juntamente com L. Michael Hall (PhD.), escreveu um livro chamado Patterns for Renewing the Mind: Christian Communicating & Counselling (Padrões Para Renovação da Mente: Comunicação e Aconselhamento Cristãos) para animar os cristãos a usarem a PNL.
A apresentação do livro, escrita pelo Rev. Carl Lloyd, PhD., Professor e Chefe do Departamento de Sociologia e Serviço Social da Universidade George Fox em Newberg, Oregon, EUA, diz:
Seria negligência de minha parte não expressar meu profundo apreço tanto a Michael [Hall] quando a Bob [Bodenhamer] por empenharem tão diligentemente suas mentes e talentos na tarefa de integrar a PNL à sólida perspectiva judaico-cristã.[3]
Lloyd apresenta suas próprias credenciais, incluindo “quatro cursos de graduação”, “seis cursos de especialização em Saúde Mental”, experiência clínica, “mais de duas décadas” de pastorado, e sua posição atual lecionando terapia “tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação”. Mais adiante ele acrescenta:
Conheço bastante sobre aprendizagem, pessoas, terapias e sobre a integração da fé com a aprendizagem. Mesmo assim, este volume me abençoou com novos conhecimentos, novas técnicas e uma paixão renovada por levar o Cristo vivo para dentro dos processos educacionais e de aconselhamento.[4]
Em seu livro, Bodenhamer e Hall instam com os cristãos para que usem a Programação Neurolingüística (PNL) para se comunicar, aconselhar, pregar e transformar o eu. Com bastante confiança, eles anunciam a PNL como o meio através do qual os cristãos podem realizar a transformação espiritual, embora a PNL em si seja uma metodologia secular projetada e usada por não-crentes. Embora Bodenhamer e Hall usem versículos das Escrituras juntamente com a PNL, seu modelo carnal não consegue tocar a nova vida em Cristo. Em vez disso, ele apela para a carne, que pode ser manipulada pela PNL. Em seu Prefácio, eles afirmam que “alguns descobriram o tremendo poder no modelo de Programação Neurolingüística e o têm usado para manipular pessoas”.[5]
Todavia, eles usam, promovem e ensinam a PNL porque crêem que ela contenha o que chamam de “estado da arte em modelos de comunicação e instrumentos de cura” e que possa ser usada por cristãos para o bem (itálico deles). O livro é cheio de promessas como: “Na PNL, descobrimos padrões incrivelmente poderosos para uma renovação rápida, eficiente e permanente da mente”.[6] Contudo, não há evidências de pesquisas que substanciem as afirmações da PNL a não ser testemunhos pessoais. Usar testemunhos pessoais sem o devido apoio científico é uma das primeiras características de charlatanismo. Mesmo assim, as promessas e expectativas continuam a atrair as pessoas para dentro dessa rede de engano.
Uma Mistura Mundana
Por todo o livro os autores citam uma passagem ou uma expressão bíblica e a transformam em um método de PNL. Por exemplo, eles relacionam as técnicas de PNL “Governe Seu Próprio Cérebro” com uma admoestação bíblica na seção denominada “Dirija Seu Próprio Cérebro ou ‘Guarde Seu Coração Com Toda Diligência”’. Eles dizem:
Quem governa seu cérebro? Se você não o governar, alguém vai rapidamente se voluntariar para fazê-lo por você! Agora, “governe seu próprio cérebro” significa pensar seus próprios pensamentos e assumir as responsabilidades de suas próprias respostas. Isso corresponde à visão cristã sobre a responsabilidade humana (Js 24.15; At 11.24; Cl 3.1).
Para “governar nosso próprio cérebro”, precisamos primeiro saber que os cérebros funcionam baseados em imagens, sons, palavras, sensações, cheiros e gostos. Controle essas informações e nós dirigiremos nosso próprio caminho. Biblicamente, isso nos capacita a “renovarmos a nossa mente” e a experimentarmos a transformação (Rm 12.2)[7] (itálico deles.)
O livro dá a distinta impressão de que a pessoa precisa conhecer a PNL para progredir efetiva e eficientemente na vida cristã. Como conseqüência, reduz a santificação à mesma metodologia usada por não-crentes para seu autodesenvolvimento. Por outro lado, a Bíblia é clara sobre a fonte da nova vida em Cristo e sobre como um crente deve caminhar de acordo com o Espírito e não segundo a carne. Sempre nos impressiona quando nos deparamos com métodos e técnicas carnais que as pessoas usam em suas tentativas fúteis de crescer espiritualmente. Esta é uma de nossas principais preocupações sobre a intrusão das teorias e métodos psicoterapêuticos no cristianismo.
Origens da PNL
Embora muitos cristãos possam não ter ouvido falar sobre a Programação Neurolingüística, ela tem estado aí desde os anos 1970 e tem sido usada por terapeutas, conselheiros, oradores motivacionais, vendedores e muitas outras pessoas por todos esses anos. A PNL é um sistema tanto de aconselhamento psicológico individual quanto de programas de conscientização de grupo, inicialmente criada por dois não-cristãos, Richard Bandler e John Grinder. Esses homens tentaram construir um sistema de técnicas de comunicação elaborado com base em três psicoterapeutas influentes e aparentemente eficientes: Virginia Satir, Fritz Perls e Milton Erickson.
Satir era conhecida por sua maneira natural de tratar as pessoas, então Bandler e Grinder tentaram elaborar e codificar os maneirismos dela, o modo como ela assimilava e até refletia os maneirismos e padrões de fala daqueles que estava aconselhando. Fritz Perls parecia ser bem sucedido com as pessoas, então Bandler, que no início começou a imitar a voz de Perls e seu uso da linguagem, tentou copiar e codificar o que Perls fazia e dizia na terapia. Erickson, um hipnoterapeuta clínico, era capaz de colocar seus pacientes em transe através da conversação. Portanto, a PNL foi primeiramente formada através da modelagem e da codificação da forma que esses terapeutas se comunicavam. Grinder era lingüista, logo estava interessado no uso que eles faziam das palavras e expressões. Bandler estava interessado em computadores e imaginava que as pessoas poderiam ser programadas da mesma maneira, através de várias técnicas selecionadas a partir da observação desses três terapeutas. Assim como Franz Anton Mesmer fez uso de técnicas para obter a concordância de seus pacientes, Bandler e Grinder codificaram técnicas psicológicas específicas para obter concordância e fazerem o aconselhando sentir-se ligado a seu terapeuta. Outras técnicas de PNL incluem fantasias direcionadas, visualização, hipnose e manipulação emocional.
Algumas das primeiras teorias da PNL tinham a ver com a idéia de que uma pessoa pode influenciar outra pessoa através do uso de qualquer “sistema representacional” que esteja sendo usado por essa outra pessoa. Por exemplo, se uma pessoa usa termos visuais, como “Vejo o que você quer dizer”, o terapeuta também buscaria falar em termos visuais. Ou, se o aconselhando usa palavras de sentimento, como “Eu realmente me senti decepcionado”, o terapeuta usaria palavras relacionadas tanto com os sentimentos emocionais quanto sinestésicos*.
Num dado momento, a PNL ostentou seis sistemas representacionais:
...a construção de imagens visuais, a lembrança de imagens visuais, a construção de imagens auditivas, a lembrança de imagens auditivas, a aplicação de sensações sinestésicas ao indivíduo e a manutenção de diálogos interiores.[8]
A teoria era que uma pessoa poderia ser mais facilmente influenciada por alguém com quem ela pudesse se identificar, neste caso alguém usando sua chamada linguagem representacional.
Outra técnica da PNL é a de observar e notar o movimento dos olhos do paciente enquanto ele fala. Por exemplo, à medida que o paciente fala de um incidente do passado, o conselheiro vai supostamente obtendo dicas no que se refere à pessoa estar se lembrando ou criando algo novo, ou a pessoa estar usando o modo visual, auditivo, sinestésico, ou de pensamento, simplesmente através da observação dos olhos da pessoa. Não obstante, um livro publicado pela Commission on Behavioral and Social Sciences and Education [Comissão Sobre Ciências Comportamentais e Sociais e Educação] do National Research Council [Conselho Nacional de Pesquisa] dos EUA revelou o seguinte: “Não há nenhum fundamento direto citado em favor da relação postulada pela PNL entre a direção do olhar e o sistema representacional”[9]. O livro também diz:
Em suma, o sistema da PNL dos padrões do olho, da postura, do tom, e da linguagem como padrões representacionais indexadores não é derivado nem derivável de trabalhos científicos conhecidos. E mais, não há evidências internas nem documentação para apoiar o sistema.[10]
Eles concluem: “Além de tudo, há poucas evidências empíricas, ou nenhuma, até a presente data para defender os pressupostos da PNL ou a eficiência da PNL”.[11] A PNL não é um empreendimento cientificamente comprovado. É baseado no que foi dito, em sugestões e em habilidades de vendedor.
Respondendo à pergunta, “O que é a PNL?”, The Skeptic’s Dictionary diz: “É difícil definir a PNL porque aqueles que a iniciaram e os que se envolveram com ela usam uma linguagem muito vaga e ambígua, dizendo que a PNL significa coisas diferentes para pessoas diferentes.[12] Inúmeras pessoas foram treinadas em PNL e depois continuaram a desenvolver suas próprias formas dela. Finalmente, com pessoas reivindicando direitos a suas próprias versões da PNL, Bandler tomou uma decisão através de uma ação judicial sobre propriedade intelectual, uma vez que ele reivindicava ser o único autor da PNL. Ele também tentou obter marca registrada de alguns aspectos da PNL e controlar os vários programas de treinamento e de certificação.
De fato, Bandler desenvolveu grande parte do sistema assim chamado de transformação, que os cristãos agora usam em sua tentativa de se tornarem mais semelhantes a Cristo. Todavia, a observação do uso pessoal que Bandler faz de suas próprias técnicas conta a história de um homem que se perdeu em sua pretensão enquanto fascinava suas audiências nas inúmeras sessões de treinamento. Ele e Grinder ensinavam as pessoas a darem uma nova imagem ao passado: “Se você tiver uma [história pessoal] ruim da primeira vez, volte atrás e faça para si mesmo uma história melhor. Todo mundo deveria mesmo ter várias histórias”.[13] Bandler seguiu sua própria técnica tão bem que Frank Clancy e Heidi Yorkshire relatam o seguinte:
Bandler contou uma vasta seleção de histórias sobre sua vida pessoal e profissional... Contou às pessoas que era músico profissional de rock, que era dono de um bar de topless aos 16 anos e era milionário aos 18, e que era faixa preta no caratê.[14]
O que foi citado acima é apenas uma amostra das mentiras dele. Clancy e Yorkshire continuam:
Os enganos de Bandler foram longe. Através da PNL ele havia aprendido a estabelecer uma concordância fazendo poses em frente ao espelho e imitando a linguagem; ele levou esta ideia mais adiante, combinando história e identidade com a de seus companheiros ... Ele se perdeu em um turbilhão de imitação, engano e manipulação.[15]
Clancy e Yorkshire também relatam que Bandler “usava grandes quantidades de cocaína e álcool” e que era “obcecado pela violência”. Eles dizem:
A história de Bandler é, em certo sentido, uma parábola da Nova Era. Tendo rejeitado muitas das fronteiras que governam as relações entre as pessoas, ele era como um marinheiro sem âncora nem velas, à deriva em um mar peculiar da Nova Era. Aqui o indivíduo era soberano... e a moralidade era relativa.[16]
No que se refere à responsabilidade pessoal pelo que estavam ensinando, Bandler e Grinder “dispensavam tipicamente as questões éticas com uma mesmice perturbadora: uma pessoa não consegue evitar de manipular outras, insistiam eles; com o treinamento da PNL, pelo menos ela estará consciente – e no controle – da manipulação.[17]
Se Bandler tivesse inventado um abridor de latas melhor, sua própria vida de enganos não afetaria seu produto, mas, quando seu produto é um conjunto de métodos para ajudar as pessoas a viver uma vida melhor, precisamos questioná-lo. Ou, se ele tivesse feito uma descoberta científica que pudesse ser provada cientificamente, então diríamos que ele tem algo a apresentar ao homem natural. No entanto, ele não descobriu nada científico sobre o mundo físico. Pelo contrário, ele desenvolveu um conjunto de técnicas projetadas para manipular o âmbito não-físico da alma.
Embora o nome “neurolingüística” soe bastante científico, como se tivesse a ver com a neurobiologia e a lingüística, e, embora um sistema teórico tenha sido desenvolvido, a PNL não é um empreendimento científico. De fato, quando questionados sobre comprovações científicas, Bandler e Grinder declararam que não eram cientistas fazendo ciência, portanto, não tinham a oferecer as comprovações do que estavam fazendo.[18] A PNL não se baseia em descobertas científicas, mas em observações subjetivas. Seus métodos frustram a investigação científica e, por isso, seu pretendido sucesso se apóia em testemunhos individuais subjetivos, e no que a Bíblia denominaria de “fábulas” e “histórias de velhas caducas”.
Entretanto, a PNL continua a surgir em vários ambientes, inclusive num recente panfleto de uma conferência intitulada “Neuroscience Meets Recovery” [A Neurociência Encontra o Restabelecimento], em setembro de 2008. O subtítulo da conferência foi bem significativo: “Integrating Neurobiology with Pharmacotherapy, Psychotherapy and Spiritual Practices” [Integrando a Neurobiologia com a Farmacoterapia, a Psicoterapia e as Práticas Espirituais]. Os cristãos que acham que as Práticas Espirituais incluídas aqui podem ser algo bom precisam reexaminá-las, porque as práticas espirituais oferecidas incluem a espiritualidade em 12 passos e o budismo. O Dr. Richard Bandler é um palestrante em destaque com sua palestra denominada “NLP: A Tool for Better Living” [PNL: Um Instrumento Para Uma Vida Melhor].
Uma Mente Inconsciente Poderosa
Basicamente, a PNL é uma coletânea de idéias e técnicas, muitas das quais baseadas nas crenças freudianas de que a mente inconsciente influencia profundamente o pensamento e o comportamento conscientes, que os psicólogos podem ajudar um paciente a obter insight (percepção) sobre esse conteúdo, e que nós revelamos coisas em nosso inconsciente através de palavras e ações metafóricas. Entretanto, tudo isto é um mito! Em seu livro Therapy’s Delusions: The Myth of the Unconscious and the Exploitation of Today’s Walking Worried [As Ilusões da Terapia: O Mito do Inconsciente e a Explicação Sobre os Preocupados Andantes de Hoje], o professor Richard Ofshe, da Universidade da Califórnia, diz:
Embora seja claro que todos nós nos empenhamos em processos mentais fora da consciência, a idéia do inconsciente dinâmico propõe uma poderosa mente paralela que, desconhecida de quem a abriga, influencia obstinadamente até o mais insignificante pensamento e comportamento. Não há comprovações científicas desse tipo de inconsciente proposital, tampouco há comprovações de que os psicoterapeutas possuam métodos especiais para desnudar nossos processos mentais inconscientes. Contudo, a reivindicação dos terapeutas de serem capazes de expor e remoldar a mente inconsciente continua sendo a promessa sedutora de muitas terapias baseadas na conversação.[19]
Além disso, o Skeptic’s Dictionary revela:
Os benefícios da mente inconsciente, da hipnose e da habilidade de influenciar as pessoas através da apelação direta à mente subconsciente não são confirmados. Todas as comprovações científicas que existem em tais coisas indicam que as afirmações sobre a PNL não são verdadeiras. Não se pode aprender “a falar diretamente à mente inconsciente”, como afirmam Erickson e a PNL, exceto da maneira mais óbvia, que é usando o poder da sugestão.[20]
É evidente que, independentemente das pesquisas, Bodenhamer e Hall crêem e ensinam a noção de um poderoso inconsciente que controla as pessoas sem que elas tenham noção. Eles dizem:
A proporção em que esses processos e mecanismos [da mente] ficam do lado de fora de nossa consciência, é a proporção em que eles nos controlam. Ao desenvolver familiaridade com esses processos inconscientes, você aprenderá a lidar com eles.[21]
Na verdade, eles prometem que, à medida que uma pessoa aprende a controlar esses chamados processos inconscientes, “será cumprido o desafio de Paulo de levar “...cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co 10.5b).[22]
Além de revelarem sua crença em um inconsciente do tipo freudiano que controla as pessoas, essa citação é um exemplo do como eles usam mal as Escrituras. Paulo não está falando sobre pensamentos inconscientes sendo trazidos à consciência para que possam ser controlados.
Como os usuários e promotores da PNL crêem que as pessoas são controladas por processos inconscientes, as técnicas de PNL tentam ignorar o pensamento consciente para influenciarem a pessoa na consciência sensorial, no nível do sentimento profundo. Várias técnicas de PNL para obter a concordância e a confiança e até mesmo o controle colocam o paciente em um estado mental receptivo (com o raciocínio proposital e avaliativo deixado de lado), pronto para ser manipulado por meio da linguagem e dos sentidos, por meio das fantasias e da visualização, e através de estimulação emocional.
A idéia de programar o cérebro como um computador é usada bastante consistentemente. De fato, a PNL é apresentada como um manual de programação para o cérebro. Afirma-se que ela ajuda as pessoas a programar seu cérebro através da conscientização sensorial, da visualização, da reimagem do passado, da meditação, da auto-sugestão e de outras técnicas usadas na auto-hipnose. Essas manipulações mentais são as mesmas que os ocultistas usam para colocarem a si mesmos e aos outros em estado de transe. O terapeuta que está usando a PNL com um paciente aplicará os instrumentos da PNL para obter uma concordância semelhante à obtida pelo hipnotizador. O terapeuta pode trabalhar no sentido de ensinar às pessoas a técnica da PNL para reprogramarem seus cérebros, mas a maneira como isso geralmente funciona é que o terapeuta faz a reprogramação (i.e., a manipulação) através da sugestão ou da fantasia direcionada.
Os Instrumentos da PNL
Os cristãos que usam e promovem a PNL tentam mostrar que os instrumentos são apenas meios para que as coisas funcionem. Embora algumas técnicas da PNL sejam marca registrada, a maioria delas está por aí há longo tempo, mesmo antes da PNL. Muitas delas vieram da observação sobre como as pessoas se relacionam umas com as outras e como elas podem influenciar umas às outras. Outros instrumentos incorporam técnicas de ocultismo. Aqui descrevemos apenas uns poucos instrumentos da PNL: rapport (sincronia), pacing (compasso), manipulação sensorial, modelagem, Outcome Thinking (Pensamento de Resultados), e hipnose.
Na PNL, a sintonia é uma estratégia para se conectar com outra pessoa imitando-a ou espelhando-se nela. Muitos estabelecem a sintonia naturalmente à medida que se relacionam com os outros. Eles se identificam com as pessoas e até refletem o vocabulário e os maneirismos delas. A PNL tem codificado sistematicamente esses procedimentos para que as pessoas possam obter essa sintonia, não através da compaixão e do cuidado naturais, ou por se identificarem verdadeiramente com o próximo, mas através de técnicas aprendidas. A sintonia é reduzida a um conjunto de habilidades para que, havendo ou não empatia, a empatia seja comunicada. Isso é feito pela observação cuidadosa da outra pessoa e depois por meio de pacing (compasso), ou seja, fazendo a mesma coisa ou algo semelhante, como ter o mesmo ritmo de respiração e/ou usar o mesmo tipo de palavras, expressões, aparência, postura e atitudes.
Existe uma história da PNL sobre uma mulher que estava marcando o compasso de outra tão aplicadamente que entrou em um tipo de transe místico, de tal forma que, quando a outra curvou-se para a frente e caiu da cadeira, a mulher que estava fazendo o compassamento também caiu. Bodenhamer e Hall dizem: “Nós experimentamos a concordância como um estado místico no qual escutamos tão exclusivamente o outro – que perdemos a consciência de nós mesmos” (negrito acrescentado). Então, eles dizem que “Jesus escutava dessa maneira”.[23] Mas Jesus nunca se perdeu em um “estado místico”!
Conscientização Sensorial e Manipulação
À primeira vista, a idéia de conscientização sensorial soa bem, mas um exemplo de Bodenhamer e Hall revela do que realmente se trata. Eles solicitam ao leitor que participe de um experimento. Eles o instruem da seguinte maneira: “Lembre-se de uma experiência prazerosa do passado”. Depois eles prosseguem dizendo para a pessoa visualizar a experiência, lembrar-se dos sons, dos sentimentos, etc. A seguir, eles o instruem a aumentar a imagem mais e mais e dizem: “Quando você aumenta a figura, o que acontece com seus sentimentos acerca daquela experiência? Eles se intensificam?” Então, eles falam para diminuir a imagem, depois para deixá-la num tamanho confortável, a seguir mais próxima, depois mais distante, para mostrarem como nós podemos “distanciar-nos das experiências”.[24] Eles também dizem para a pessoa mudar as cores e a nitidez visual, etc. Embora essas atividades possam ser exercícios inofensivos para alguns, podem colocar outros em um estado alterado de consciência. Tais atividades de visualização podem parecer seguras, mas também podem abrir a mente para a intrusão demoníaca.
Modelagem
O instrumento denominado modelagem é usado para imitar comportamentos de pessoas que nós admiramos. Assim, os que querem tornar a PNL palatável para os cristãos dizem que ela é uma maneira de nos tornarmos mais parecidos com Jesus através de “dividirmos o caráter de Jesus em pequenos passos que podemos imitar em nossa vida”.[25] Além do fato de que nós não nos tornamos mais parecidos com Jesus por dividirmos Jesus em pedaços para podermos imitá-lO, essa técnica é uma atividade da carne, que pode fazer com que na carne nos pareçamos mais com Jesus e, assim, impedir-nos de ter um verdadeiro crescimento espiritual. Ao seguir a modelagem da PNL, sem dúvida pode-se desenvolver uma “forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder” (2 Tm 3.5).
Pensamento de Resultados
Na PNL, o pensamento de resultados não é apenas pensar sobre o futuro. É montar imagens sensoriais para criar o futuro. Portanto, eles usam a visualização. Bodenhamer relata:
Eu (BB) ouvi o Rev. Charles Stanley utilizar o modelo da PNL à medida que ele instruía sua congregação a assumir a mente de Cristo. Ele usou o modelo acima para ensinar como criar uma imagem de onde Deus quer que eles cheguem com sua vida. O Dr. Stanley mencionou, então, que “não é errado visualizar”. O que acham disso?[26] (itálico dele).
De fato, nem toda visualização é pecado, mas esse tipo de visualização pode levar à visualização ocultista. Tentar fazer alguma coisa acontecer no futuro por meio da visualização é uma prática ocultista promovida no livro popular de ocultismo The Secret [O Segredo].
A hipnose tem sido uma grande parte da PNL desde seu princípio. Bodenhamer e Hall tentam fazer com que a hipnose soe como uma resposta natural a determinadas formas de conversação que fazem a pessoa se sentir relaxada, confortável, aceita e confiante. Eles crêem que a hipnose ajuda a atingir a mente inconsciente. Eles dizem que:
Como nossa mente inconsciente contém vastos reservatórios de conhecimento e experiências, precisamos aprender como acessar esses reservatórios. Infelizmente, muitas pessoas deixam que eles fiquem quase sem ser tocados. Embora a maior parte de nosso comportamento funcione inconscientemente, nós apenas deixamos que ele siga – pensando (erradamente) que não podemos influenciá-lo.[27]
Eles argumentam que uma “faceta do ‘transe’ e da ‘hipnose’ (...) se correlaciona maravilhosamente com o ‘evangelho da graça de Deus”’.[28] Afirmam eles:
Portanto, para tratar com nossos programas profundos e inconscientes, as boas-novas de Jesus começam por nos enviar não ordens e comandos, mas segurança para que possamos relaxar, nos sentir seguros, descansar na certeza do trabalho redentor daquele que fez por nós o que não poderíamos fazer por nós mesmos, e que nos prometeu força interior, o testemunho do espírito em nosso íntimo, etc. Que estado interior tremendamente positivo e cheio de possibilidades para acessarmos![29] (itálico deles).
Mas, então, como é que podemos acessar esse “estado interior positivo e cheio de possibilidades”? Entrando em um estado de transe. Dizem eles:
Quão especificamente os processos da linha do tempo da PNL fornecem instrumentos para descobrir essas partes inconscientes? Utilizando o transe como um estado alterado, como um estado de mente e de emoções (relaxada, segura, aberta, confortável, receptiva, com expectativas, etc.) que nos capacita a funcionar efetiva e diretamente no nível inconsciente. Ele nos dá acesso àquela parte de nossa mente que o Senhor fez para armazenar e codificar nossos padrões habituais – ele se refere a nada mais que isso, nada misterioso, oculto, demoníaco. Isso descreve o dom de Deus em nós.[30] (itálico deles).
É claro que discordamos profundamente da convicção deles de que não há “nada misterioso, oculto, demoníaco” em entrarmos em um estado alterado de consciência através da hipnose, e escrevemos um livro tratando dessa atividade demoníaca.[31]
Cuidado com a PNL em Outros Lugares
Os vários ensinos, técnicas e instrumentos são usados por inúmeros psicoterapeutas, por outros profissionais de saúde mental psicologicamente treinados, por conselheiros, líderes de grupos, pastores e líderes de igrejas. Essas coisas são ensinadas em aulas de aconselhamento nas faculdades e universidades tanto seculares quanto cristãs. Os ensinos, as técnicas e os instrumentos da PNL também são usados em várias formas de cura interior e terapia de regressão, e contribuem para as táticas manipulativas de dinâmicas de grupo.[32]
Os Perigos Implícitos da PNL
Pode-se ver, a partir das práticas da PNL descritas acima, que há sérios perigos no uso da PNL. Os cristãos precisam estar conscientes do que está emboscado por trás das promessas da PNL: um outro evangelho – um evangelho de obras, esforço próprio, manipulação, hipnose e outras práticas ocultistas. Através da sedução dos que proporcionam a PNL, os cristãos são arrastados para longe da dependência da Palavra de Deus e da obra do Espírito Santo, sendo enganados a usarem um atalho carnal para a transformação espiritual. Concluíndo, a PNL é uma das falsificações satânicas do crescimento espiritual, que nutre a carne e faz morrer o espírito. De fato, é um engano do inimigo que afastará as pessoas de Deus, mesmo que elas pensem que estão crescendo espiritualmente.
Finalmente, as pessoas se colocam em uma posição espiritual vulnerável às forças ocultas do mal. Em vez de usarem a armadura espiritual que Deus lhes deu, elas estão abaixando a guarda e não usando a Palavra de Deus para resistirem ao que está sendo dito, e não estão levando cativo todo pensamento ao senhorio de Cristo. Isso exige pensamento consciente, e não a passividade de um transe. Tenha cuidado com aqueles que misturam a sabedoria dos homens, sobre a qual Deus alertou Seu povo, com as Escrituras e então seduzem os cristãos com promessas de transformação espiritual através de técnicas, metodologias e fórmulas. (Martin e Deidre Bobgan - PsychoHeresy Awareness Letter - http://www.chamada.com.br)
* Sinestesia: Relação subjetiva que se estabelece espontaneamente entre uma percepção e outra que pertença ao domínio de um sentido diferente (p. ex., um perfume que evoca uma cor, um som que evoca uma imagem, etc.).
Notas:
- Martin e Deidre Bobgan. The End of “Christian Psychology”. Santa Barbara, CA: EastGate Publishers, 1997, também disponível como e-book gratuito em www.psychoheresy-aware.org.
- “Christian NLP 2008”, http://christiannlp2008.com/index.php.
- Bobby G. Bodenhamer and L. Michael Hall. Patterns for renewing the Mind: Christian Communicating & Cousenlling Using NLP. Clifton, CO: NSP: Neuro-Semantic Publications, 1996, p.5.
- Ibid.
- Ibid., pp. 7-8.
- Ibid., p. 6.
- Ibid., p. 65.
- Commission on Behavioral and Social Sciences and Education, National Research Council. Enhancing Human Performance: Issues, Theories, and Techniques. Daniel Druckman e John A. Swets, eds. Washington D.C.: National Academy Press, 1988, p. 139.
- Ibid., p. 141.
- Ibid., p. 142.
- Ibid., p. 143.
- Robert Todd Carroll, “Neuro-Linguistic Programming (NLP)”, The Skeptic’s Dictionary, http://skepdic.com/neurolin.html, p.1.
- Ibid., p. 27.
- Ibid.
- Ibid.
- Ibid., p. 24.
- Frank Clancy e Heidi Yorkshire, “The Bandler Method”, Mother Jones, Fevereiro-Março, 1989, p.26.
- Ibid., p. 26.
- Richard Ofshe e Ethan Watters. Therapy’s Delusions. New York: Scribner , 1999, pp. 38-39.
- Carroll, op. cit., p. 6.
- Bodenhamer e Hall, op. cit., p. 12
- Ibid.
- Ibid., p. 32.
- Ibid., pp. 12-13.
- “Christian NPL 2008”, op. cit., p. 3.
- Bodenhamer e Hall, op. Cit., p. 16.
- Ibid., p. 137.
- Ibid., p. 138.
- Ibid.
- Ibid., p. 139.
- Martin e Deidre Bobgan. Hypnosis: Medical, scientific, or occultic? Santa Barbara, CA: EastGate Publishers, 2001, também disponível gratuitamente como e-book em www.psychoheresy-aware.org.